Opinião
- 19 de outubro de 2021
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Por que falar de Menno Simons?
Perfis da Reforma Protestante
Por Clayton Lima de Souza
Menno Simons nasceu em 1496 na vila de Witmarsum, na província de Friesland, noroeste da Europa continental. Filho de camponeses foi levado ainda menino, provavelmente, para o convento franciscano de Bolsward, para ser preparado para o sacerdócio católico. Além do estudo teológico, tornou-se hábil tanto na língua latina como na grega, apto para consultar os manuscritos dos pais da igreja, como Tertuliano, Cipriano e Eusébio, mas mesmo depois de ordenado e no oficio, não havia ainda lido a Bíblia.
Menno foi ordenado aos 28 anos, em 1524, e sua primeira paróquia foi em Pingjum. Em doze anos de sacerdócio católico, aparentemente Menno estava em paz e realizado, mas na verdade, muito cedo já haviam surgido dúvidas acerca de alguns dogmas. No seu primeiro ano de sacerdócio, em 1525, uma séria dúvida surgiu para perturbá-lo. Quando celebrava a missa, de repente veio-lhe à mente que o pão e o vinho não haviam sido alterados no corpo e sangue do Senhor. A princípio, ele repudiou o pensamento como sendo uma inspiração demoníaca. Não se sabe quando e nem porquê exatamente essa dúvida se deu. Possivelmente ele tenha tido contato com alguns escritos de Lutero ou de outros reformadores.
Depois de dois anos com essa dúvida, Menno resolveu consultar a Bíblia, realizando um estudo minucioso do Novo Testamento. Essa decisão foi fundamental para a sua caminhada rumo à conversão. O grande ponto é que, ao abrir a Bíblia para estudá-la sobre essa questão, Menno acabou descobrindo que não somente esse ensinamento da igreja, mas muitos outros não estavam de acordo com os ensinamentos bíblicos. Por isso, seu conflito interior chegou a um ponto insuportável, pois ele havia aprendido que não crer nas doutrinas da igreja significava a morte eterna. Felizmente, ele achou conforto nos escritos de Lutero, e assim pode começar a se desprender dos dogmas católicos.
Menno decidiu seguir as Escrituras em meados do ano de 1528, mas não deixou imediatamente a igreja católica, pois dizia ser possível apenas abandonar a prática da missa e ensinar seu novo ponto de vista à congregação. Mas isso, com o tempo, se mostrou não ser viável por causa das pressões sofridas por ele.
Outro ponto importante da doutrina católica que acabou culminando em seu abandono da igreja romana foi o batismo infantil. Após diligentemente buscar nas Escrituras algo que apoiasse isso, mesmo depois de ouvir seus superiores, ler alguns escritos dos pais da igreja e até dos reformadores apoiando o batismo infante, ele decidiu que a palavra de Deus não ensinava esta prática e resolveu abandoná-la. Isso aconteceu provavelmente no ano de 1531 e o levou ao círculo dos anabatistas, mas não imediatamente. Ainda o preocupava o sustento que a igreja lhe dava e até que rompesse definitivamente com Roma foram mais cinco anos.
Menno passou a usar o púlpito de Witmarsum para pregar as verdades bíblicas, mas sua posição como pregador protestante numa paróquia católica não poderia durar muito. Sua data de batismo é incerta; provavelmente logo após a sua conversão em abril de 1535. Um ano depois, estava sendo ordenado como bispo da congregação anabatista em Groningen, norte da Holanda. É quase certo que Obbe Philips foi quem o ordenou.
No início do trabalho entre os anabatistas, a abrangência de seu ministério já era intensa apesar de ainda local. Estendia-se de Friesland Oriental até as províncias de Groningen e Friesland Ocidental onde pregava, batizava e estabelecia igrejas. Apesar de ter se casado com uma senhora por nome Gertrudes em 1536 ou 37, não manteve residência fixa conhecida.
A importância de Menno para o anabatismo se refletiu de maneira indiscutível nas perseguições especialmente dirigidas a ele e, apesar de estar pronto, a exemplo de muitos outros, a entregar sua própria vida por amor ao evangelho, Menno sabia que havia ainda muito a fazer, e por isso, não se deixaria ser pego tão facilmente.
Mas a história nos mostra que a intinerância do ministério de Menno não se deu somente por causa da perseguição, mas pelo desejo ardente de buscar e pastorear as ovelhas perdidas. O próprio Menno diz:
“E sobre tudo orai pelo vosso pobre e diligente servo que é procurado para ser entregue à morte, a fim de que Deus, Pai misericordioso, o fortaleça em seu Espírito Santo e o livre das mãos daqueles que injustamente procuram sua morte, se esta é a sua vontade e se não for a sua vontade que Ele lhe conceda em toda tribulação, tortura, sofrimentos, perseguições e morte tal coração, mente, sabedoria e força...”.
Em 1541, Menno focou seu trabalho ao Sul de Amsterdã, onde ficou até 1543, mas continuava com seus contatos missionários em Friesland e Groningen. Durante os sete anos de trabalho nos países baixos, publicou sete títulos que tratavam da verdadeira doutrina cristã não com erudição, mas numa linguagem acessível ao povo e direcionados aos problemas da época.
Percebendo que o Noroeste da Alemanha era muito fértil para seu trabalho missionário e que a perseguição do rei e da regente não tinha jurisdição ali, Menno deixou a Holanda no final de 1943 deixando uma igreja estabelecida e discipulada, para semear em uma nova e promissora terra, crendo que com paz poderia produzir ainda mais.
Primeiramente, ao Leste de Friesland, onde governava a condessa Anna, que era tolerante ao protestantismo Mas em 1544, sob pressão da Holanda, Anna expediu um édito desautorizando o anabatismo em seu território. Este documento é historicamente muito importante, pois pela primeira vez os anabatistas são chamados de menistas ou menonitas.
O próximo passo de Menno foi o Bispado de Colônia, território da Renânia. Até 1546 foram os anos mais pacíficos e frutíferos de seu ministério, até que o também tolerante e reformador arcebispo Herman Von Wied, foi deposto pelos seus inimigos católicos.
Obrigado a deixar a Renânia, Menno foi se unir a um pequeno grupo de menonitas em Holstein, nordeste de Hamburgo, que se refugiaram ali sob o governo independente do rei da Dinamarca vindos de Friesland.
Em convenção com outros bispos anabatistas, Menno ficou responsável pelo território compreendido entre o norte da Alemanha, desde Groningen até a Prússia, incluindo Friesland Oriental, Oldenburg, Holstein, Macklenburg e possivelmente a Pomerãnia, mas as suas viagens missionárias avançaram além dessas linhas.
Por causa da perseguição, mais uma vez Menno teve de mudar de endereço, e desta vez, foi a uma localidade próxima a Oldesloe, e esteve sob a proteção de um certo nobre chamado Bartolomeu Von Ahlefeld, que desde 1543 dava refúgio aos menonitas perseguidos. Sua vida não foi muito mais longa. Além das muitas viagens e responsabilidades que minaram sua saúde, principalmente depois de ter fraturado uma perna em Wismar que o obrigou a usar muletas. A morte chegou em 31 de janeiro de 1561, 25 anos depois de Menno ter renunciado ao catolicismo, e seu corpo foi sepultado em seu próprio jardim em Wustenfeld.
Historicamente, Menno Simons não foi apenas mais um personagem da igreja de Cristo restaurada no século 16 (apesar de que, mesmo o menor deles, diante da coragem e fidelidade à verdade da Bíblia que os levavam à tortura e à morte, certamente são muito maiores de qualquer um de nós da igreja hoje), mas a obra de Deus através dele foi de uma grandeza e abrangência tal, que mesmo não sendo o fundador do movimento anabatista (a isto se credita a Conrad Grebel e a Felix Manz em 1525 em Zurich, Suíça), imprimiu e impactou não somente seus seguidores, mas principalmente o lugar ao seu redor, a ponto de os anabatistas passarem a ser conhecidos por seus perseguidores como menonitas.
Menno renunciou e renunciou muito: estabilidade, família, segurança e muito mais, e teve a disposição de pagar o preço para ter o privilégio de servir a Deus e até mesmo sofrer por isso. Ele plantava igrejas, visitava, discipulava, combatia as heresias, formava e instituía lideranças locais, numa estratégia que incluía sua engenhosidade sim, mas principalmente a total dependência de Deus. Sua presença incomodava o reino das trevas, e avançando sobre as linhas inimigas não retinha sua espada do sangue (Jeremias 48.10) e não se desviava da meta (2 Timóteo 2.4).
Pois agora, a grande pergunta que fica é: os menonitas ainda são o legado de seu trabalho? Carregamos seu nome de maneira que dignifique sua história e honre a Deus que o chamou? Essa pergunta, definitivamente, não se responde com uma declaração de associação a determinada igreja, movimento ou etnia, mas pelo modo como o imitamos e praticamos os valores que ele defendia e vivia.
Não é apenas para reverenciar um personagem que escrevemos este texto, como se houvesse para nós a necessidade de uma referência humana de fé e prática além de Cristo; Jesus é único e suficiente para nós, como exemplo, caminho e luz. Mas acredito ser importante falar em Menno Simons por dois motivos importantes: primeiro para conhecer e entender a origem da vocação dos menonitas através da história e despertá-la, hoje em nós adormecida, mas não morta. Assim como Menno insistia em não se deixar ser morto pelos muitos adversários do evangelho que o perseguiam, essa vocação está sim viva entre nós. Em segundo lugar, assim como Deus levou Menno para além das fronteiras de Friesland, os menonitas foram levados para muitos lugares do mundo, ora pela imposição da perseguição, guerra e fome, ora pela mesma semente de amor pelos perdidos que havia no coração de Menno Simons. E conhecendo como Deus o usou, para que sua missão de reconciliar consigo mesmo o mundo acontecesse naquela época e lugar, possamos também entender como Ele ainda quer usar aqueles que trazem nas fachadas de suas igrejas a identificação com o nome de Menno.
Bibliografia
Bender, Harold Staufer – Biografia de Menno Simons (Parte integrante da compilação de João Klassen “História e doutrina anabatista/menonita), Curitiba, ISBIM, 1990.
Stoll, Joseph – Não vim trazer paz, Rio Verde, Publicadora Menonita, 1997.
Wiens, Victor Harold – Menno Simons: Anabaptist Apostle, Pesquisa não publicada, 1988.
• Clayton Lima de Souza, graduado em teologia pela Faculdade Fidelis – Fundação Educacional Menonita; mestre em teologia pela Faculdades Batista do Paraná; coordenador dos cursos de graduação, graduação em EAD e pós-graduação em teologia da Faculdade Fidelis; pastor na Primeira Igreja Evangélica Irmãos Menonitas do Boqueirão – Curitiba, PR.
Leia mais:
» O tesouro escondido de João Calvino
Por Clayton Lima de Souza
Menno Simons nasceu em 1496 na vila de Witmarsum, na província de Friesland, noroeste da Europa continental. Filho de camponeses foi levado ainda menino, provavelmente, para o convento franciscano de Bolsward, para ser preparado para o sacerdócio católico. Além do estudo teológico, tornou-se hábil tanto na língua latina como na grega, apto para consultar os manuscritos dos pais da igreja, como Tertuliano, Cipriano e Eusébio, mas mesmo depois de ordenado e no oficio, não havia ainda lido a Bíblia.
Menno foi ordenado aos 28 anos, em 1524, e sua primeira paróquia foi em Pingjum. Em doze anos de sacerdócio católico, aparentemente Menno estava em paz e realizado, mas na verdade, muito cedo já haviam surgido dúvidas acerca de alguns dogmas. No seu primeiro ano de sacerdócio, em 1525, uma séria dúvida surgiu para perturbá-lo. Quando celebrava a missa, de repente veio-lhe à mente que o pão e o vinho não haviam sido alterados no corpo e sangue do Senhor. A princípio, ele repudiou o pensamento como sendo uma inspiração demoníaca. Não se sabe quando e nem porquê exatamente essa dúvida se deu. Possivelmente ele tenha tido contato com alguns escritos de Lutero ou de outros reformadores.
Depois de dois anos com essa dúvida, Menno resolveu consultar a Bíblia, realizando um estudo minucioso do Novo Testamento. Essa decisão foi fundamental para a sua caminhada rumo à conversão. O grande ponto é que, ao abrir a Bíblia para estudá-la sobre essa questão, Menno acabou descobrindo que não somente esse ensinamento da igreja, mas muitos outros não estavam de acordo com os ensinamentos bíblicos. Por isso, seu conflito interior chegou a um ponto insuportável, pois ele havia aprendido que não crer nas doutrinas da igreja significava a morte eterna. Felizmente, ele achou conforto nos escritos de Lutero, e assim pode começar a se desprender dos dogmas católicos.
Menno decidiu seguir as Escrituras em meados do ano de 1528, mas não deixou imediatamente a igreja católica, pois dizia ser possível apenas abandonar a prática da missa e ensinar seu novo ponto de vista à congregação. Mas isso, com o tempo, se mostrou não ser viável por causa das pressões sofridas por ele.
Outro ponto importante da doutrina católica que acabou culminando em seu abandono da igreja romana foi o batismo infantil. Após diligentemente buscar nas Escrituras algo que apoiasse isso, mesmo depois de ouvir seus superiores, ler alguns escritos dos pais da igreja e até dos reformadores apoiando o batismo infante, ele decidiu que a palavra de Deus não ensinava esta prática e resolveu abandoná-la. Isso aconteceu provavelmente no ano de 1531 e o levou ao círculo dos anabatistas, mas não imediatamente. Ainda o preocupava o sustento que a igreja lhe dava e até que rompesse definitivamente com Roma foram mais cinco anos.
Menno passou a usar o púlpito de Witmarsum para pregar as verdades bíblicas, mas sua posição como pregador protestante numa paróquia católica não poderia durar muito. Sua data de batismo é incerta; provavelmente logo após a sua conversão em abril de 1535. Um ano depois, estava sendo ordenado como bispo da congregação anabatista em Groningen, norte da Holanda. É quase certo que Obbe Philips foi quem o ordenou.
No início do trabalho entre os anabatistas, a abrangência de seu ministério já era intensa apesar de ainda local. Estendia-se de Friesland Oriental até as províncias de Groningen e Friesland Ocidental onde pregava, batizava e estabelecia igrejas. Apesar de ter se casado com uma senhora por nome Gertrudes em 1536 ou 37, não manteve residência fixa conhecida.
A importância de Menno para o anabatismo se refletiu de maneira indiscutível nas perseguições especialmente dirigidas a ele e, apesar de estar pronto, a exemplo de muitos outros, a entregar sua própria vida por amor ao evangelho, Menno sabia que havia ainda muito a fazer, e por isso, não se deixaria ser pego tão facilmente.
Mas a história nos mostra que a intinerância do ministério de Menno não se deu somente por causa da perseguição, mas pelo desejo ardente de buscar e pastorear as ovelhas perdidas. O próprio Menno diz:
“E sobre tudo orai pelo vosso pobre e diligente servo que é procurado para ser entregue à morte, a fim de que Deus, Pai misericordioso, o fortaleça em seu Espírito Santo e o livre das mãos daqueles que injustamente procuram sua morte, se esta é a sua vontade e se não for a sua vontade que Ele lhe conceda em toda tribulação, tortura, sofrimentos, perseguições e morte tal coração, mente, sabedoria e força...”.
Em 1541, Menno focou seu trabalho ao Sul de Amsterdã, onde ficou até 1543, mas continuava com seus contatos missionários em Friesland e Groningen. Durante os sete anos de trabalho nos países baixos, publicou sete títulos que tratavam da verdadeira doutrina cristã não com erudição, mas numa linguagem acessível ao povo e direcionados aos problemas da época.
Percebendo que o Noroeste da Alemanha era muito fértil para seu trabalho missionário e que a perseguição do rei e da regente não tinha jurisdição ali, Menno deixou a Holanda no final de 1943 deixando uma igreja estabelecida e discipulada, para semear em uma nova e promissora terra, crendo que com paz poderia produzir ainda mais.
Primeiramente, ao Leste de Friesland, onde governava a condessa Anna, que era tolerante ao protestantismo Mas em 1544, sob pressão da Holanda, Anna expediu um édito desautorizando o anabatismo em seu território. Este documento é historicamente muito importante, pois pela primeira vez os anabatistas são chamados de menistas ou menonitas.
O próximo passo de Menno foi o Bispado de Colônia, território da Renânia. Até 1546 foram os anos mais pacíficos e frutíferos de seu ministério, até que o também tolerante e reformador arcebispo Herman Von Wied, foi deposto pelos seus inimigos católicos.
Obrigado a deixar a Renânia, Menno foi se unir a um pequeno grupo de menonitas em Holstein, nordeste de Hamburgo, que se refugiaram ali sob o governo independente do rei da Dinamarca vindos de Friesland.
Em convenção com outros bispos anabatistas, Menno ficou responsável pelo território compreendido entre o norte da Alemanha, desde Groningen até a Prússia, incluindo Friesland Oriental, Oldenburg, Holstein, Macklenburg e possivelmente a Pomerãnia, mas as suas viagens missionárias avançaram além dessas linhas.
Por causa da perseguição, mais uma vez Menno teve de mudar de endereço, e desta vez, foi a uma localidade próxima a Oldesloe, e esteve sob a proteção de um certo nobre chamado Bartolomeu Von Ahlefeld, que desde 1543 dava refúgio aos menonitas perseguidos. Sua vida não foi muito mais longa. Além das muitas viagens e responsabilidades que minaram sua saúde, principalmente depois de ter fraturado uma perna em Wismar que o obrigou a usar muletas. A morte chegou em 31 de janeiro de 1561, 25 anos depois de Menno ter renunciado ao catolicismo, e seu corpo foi sepultado em seu próprio jardim em Wustenfeld.
Historicamente, Menno Simons não foi apenas mais um personagem da igreja de Cristo restaurada no século 16 (apesar de que, mesmo o menor deles, diante da coragem e fidelidade à verdade da Bíblia que os levavam à tortura e à morte, certamente são muito maiores de qualquer um de nós da igreja hoje), mas a obra de Deus através dele foi de uma grandeza e abrangência tal, que mesmo não sendo o fundador do movimento anabatista (a isto se credita a Conrad Grebel e a Felix Manz em 1525 em Zurich, Suíça), imprimiu e impactou não somente seus seguidores, mas principalmente o lugar ao seu redor, a ponto de os anabatistas passarem a ser conhecidos por seus perseguidores como menonitas.
Menno renunciou e renunciou muito: estabilidade, família, segurança e muito mais, e teve a disposição de pagar o preço para ter o privilégio de servir a Deus e até mesmo sofrer por isso. Ele plantava igrejas, visitava, discipulava, combatia as heresias, formava e instituía lideranças locais, numa estratégia que incluía sua engenhosidade sim, mas principalmente a total dependência de Deus. Sua presença incomodava o reino das trevas, e avançando sobre as linhas inimigas não retinha sua espada do sangue (Jeremias 48.10) e não se desviava da meta (2 Timóteo 2.4).
Pois agora, a grande pergunta que fica é: os menonitas ainda são o legado de seu trabalho? Carregamos seu nome de maneira que dignifique sua história e honre a Deus que o chamou? Essa pergunta, definitivamente, não se responde com uma declaração de associação a determinada igreja, movimento ou etnia, mas pelo modo como o imitamos e praticamos os valores que ele defendia e vivia.
Não é apenas para reverenciar um personagem que escrevemos este texto, como se houvesse para nós a necessidade de uma referência humana de fé e prática além de Cristo; Jesus é único e suficiente para nós, como exemplo, caminho e luz. Mas acredito ser importante falar em Menno Simons por dois motivos importantes: primeiro para conhecer e entender a origem da vocação dos menonitas através da história e despertá-la, hoje em nós adormecida, mas não morta. Assim como Menno insistia em não se deixar ser morto pelos muitos adversários do evangelho que o perseguiam, essa vocação está sim viva entre nós. Em segundo lugar, assim como Deus levou Menno para além das fronteiras de Friesland, os menonitas foram levados para muitos lugares do mundo, ora pela imposição da perseguição, guerra e fome, ora pela mesma semente de amor pelos perdidos que havia no coração de Menno Simons. E conhecendo como Deus o usou, para que sua missão de reconciliar consigo mesmo o mundo acontecesse naquela época e lugar, possamos também entender como Ele ainda quer usar aqueles que trazem nas fachadas de suas igrejas a identificação com o nome de Menno.
Bibliografia
Bender, Harold Staufer – Biografia de Menno Simons (Parte integrante da compilação de João Klassen “História e doutrina anabatista/menonita), Curitiba, ISBIM, 1990.
Stoll, Joseph – Não vim trazer paz, Rio Verde, Publicadora Menonita, 1997.
Wiens, Victor Harold – Menno Simons: Anabaptist Apostle, Pesquisa não publicada, 1988.
• Clayton Lima de Souza, graduado em teologia pela Faculdade Fidelis – Fundação Educacional Menonita; mestre em teologia pela Faculdades Batista do Paraná; coordenador dos cursos de graduação, graduação em EAD e pós-graduação em teologia da Faculdade Fidelis; pastor na Primeira Igreja Evangélica Irmãos Menonitas do Boqueirão – Curitiba, PR.
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