Opinião
- 04 de julho de 2017
- Visualizações: 59479
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Por que preferimos Ismael ao invés de Isaque?
Por João Leonel
Gn 17.18-19
Abrão estava com oitenta e cinco anos. Com setenta e cinco Deus apareceu a ele pela primeira vez (Gn 12.4) e lhe fez a promessa de que dele surgiria uma grande nação (12.2).
Passaram-se dez anos e Abrão permanecia sozinho com Sarai. Nada da descendência prometida. O casal já era idoso e a possibilidade de ter filhos diminuía com o passar do tempo.
Então, Sarai chama o esposo e tem uma conversa séria com ele. Diz que é fato que eles não conseguiam gerar filhos. Então, era necessário fazer algo. O modo mais prático de terem descendência, de verem a promessa de Deus ser cumprida era Abrão tomar a escrava Hagar e ter filhos com ela. O esposo concorda. No ano seguinte nasce Ismael (16.15).
Passados treze anos, Deus aparece novamente a Abrão (17.1). Agora ele tem noventa e nove anos. Deus faz uma aliança com o patriarca, constando dela a renovação da promessa de que dele surgiria uma grande nação (17.2-3). E há uma especificação: o filho que ele e Sara gerariam deveria ser chamado de Isaque (17.19). O filho da promessa, passados vinte e quatro anos desde a primeira aparição a Abrão, tem nome – Isaque.
Abraão reage. Diz a Deus: “Tomara que viva Ismael diante de ti” (17.18). Frente à promessa de Isaque, Abraão, incrédulo, prefere se apegar àquilo que já existia – Ismael. Afinal, quem garantiria que depois de vinte e quatro anos Deus finalmente cumpriria sua promessa?
Deus promete Isaque. Abraão prefere confiar em Ismael.
A situação tensa enfrentada por Abraão e Sara espelha nossas lutas em vivermos pela fé.
Geralmente pensamos que Abraão, depois de algumas vicissitudes em sua relação com Deus, rapidamente gera Isaque e se torna o patriarca, o homem de fé que é exaltado no Novo Testamento. Mas não foi bem assim. Como nós, ele titubeou, fraquejou, procurou as soluções visíveis em lugar de confiar nas promessas invisíveis.
Deus prometeu que dele surgiria uma nação quando ele tinha setenta e cinco anos. Passaram-se vinte e quatro anos para que isso começasse a se cumprir com a gravidez de Sara. Vinte e quatro anos!
Quanto tempo leva para eu e você duvidarmos das promessas de Deus? Um mês? Seis meses? Um ano? Abraão esperou duas décadas e meia para ver o rosto do filho prometido!
Por vezes constatamos em nossa vida a falta de fé do pai da fé: Deus promete Isaque; Abraão se apega a Ismael.
Afinal, Ismael é uma realidade. Ele existe. Abraão o viu nascer, identificou-se com ele. Tem carinho pelo filho gerado por Hagar. Isaque... bem, Isaque permanece envolto nas brumas da promessa divina que tarde para chegar. E como demora!
Deus diz: Isaque. Nós dizemos: prefiro aquilo que vejo, que sinto, que posso tocar. Prefiro Ismael.
E assim ficamos com meias promessas, meias verdades, meias bênçãos.
Vivemos tempos em que Deus diz: Isaque. E nós dizemos: Ismael.
• João Leonel é pastor presbiteriano, mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo e doutor em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Imagem: By Caravaggio - scan, Public Domain.
Gn 17.18-19
Abrão estava com oitenta e cinco anos. Com setenta e cinco Deus apareceu a ele pela primeira vez (Gn 12.4) e lhe fez a promessa de que dele surgiria uma grande nação (12.2).
Passaram-se dez anos e Abrão permanecia sozinho com Sarai. Nada da descendência prometida. O casal já era idoso e a possibilidade de ter filhos diminuía com o passar do tempo.
Então, Sarai chama o esposo e tem uma conversa séria com ele. Diz que é fato que eles não conseguiam gerar filhos. Então, era necessário fazer algo. O modo mais prático de terem descendência, de verem a promessa de Deus ser cumprida era Abrão tomar a escrava Hagar e ter filhos com ela. O esposo concorda. No ano seguinte nasce Ismael (16.15).
Passados treze anos, Deus aparece novamente a Abrão (17.1). Agora ele tem noventa e nove anos. Deus faz uma aliança com o patriarca, constando dela a renovação da promessa de que dele surgiria uma grande nação (17.2-3). E há uma especificação: o filho que ele e Sara gerariam deveria ser chamado de Isaque (17.19). O filho da promessa, passados vinte e quatro anos desde a primeira aparição a Abrão, tem nome – Isaque.
Abraão reage. Diz a Deus: “Tomara que viva Ismael diante de ti” (17.18). Frente à promessa de Isaque, Abraão, incrédulo, prefere se apegar àquilo que já existia – Ismael. Afinal, quem garantiria que depois de vinte e quatro anos Deus finalmente cumpriria sua promessa?
Deus promete Isaque. Abraão prefere confiar em Ismael.
A situação tensa enfrentada por Abraão e Sara espelha nossas lutas em vivermos pela fé.
Geralmente pensamos que Abraão, depois de algumas vicissitudes em sua relação com Deus, rapidamente gera Isaque e se torna o patriarca, o homem de fé que é exaltado no Novo Testamento. Mas não foi bem assim. Como nós, ele titubeou, fraquejou, procurou as soluções visíveis em lugar de confiar nas promessas invisíveis.
Deus prometeu que dele surgiria uma nação quando ele tinha setenta e cinco anos. Passaram-se vinte e quatro anos para que isso começasse a se cumprir com a gravidez de Sara. Vinte e quatro anos!
Quanto tempo leva para eu e você duvidarmos das promessas de Deus? Um mês? Seis meses? Um ano? Abraão esperou duas décadas e meia para ver o rosto do filho prometido!
Por vezes constatamos em nossa vida a falta de fé do pai da fé: Deus promete Isaque; Abraão se apega a Ismael.
Afinal, Ismael é uma realidade. Ele existe. Abraão o viu nascer, identificou-se com ele. Tem carinho pelo filho gerado por Hagar. Isaque... bem, Isaque permanece envolto nas brumas da promessa divina que tarde para chegar. E como demora!
Deus diz: Isaque. Nós dizemos: prefiro aquilo que vejo, que sinto, que posso tocar. Prefiro Ismael.
E assim ficamos com meias promessas, meias verdades, meias bênçãos.
Vivemos tempos em que Deus diz: Isaque. E nós dizemos: Ismael.
• João Leonel é pastor presbiteriano, mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo e doutor em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Imagem: By Caravaggio - scan, Public Domain.
- 04 de julho de 2017
- Visualizações: 59479
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Corpos doentes [fracos, limitados, mutilados] também adoram
- Pesquisa Força Missionária Brasileira 2025 quer saber como e onde estão os missionários brasileiros
- Perigo à vista ! - Vulnerabilidades que tornam filhos de missionários mais suscetíveis ao abuso e ao silêncio
- As 97 teses de Martinho Lutero
- Lutar pelos sonhos é possível após os 60. Sempre pela bondade do Senhor
- Para fissurados por controle, cancelamento é saída fácil
- A urgência da reconciliação: Reflexões a partir do 4º Congresso de Lausanne, um ano após o 7 de outubro
- A última revista do ano
- Diálogos de Esperança: nova temporada conversa sobre a Igreja e Lausanne 4
- Vem aí "The Connect Faith 2024"