Opinião
- 04 de julho de 2017
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Por que preferimos Ismael ao invés de Isaque?
Por João Leonel
Gn 17.18-19
Abrão estava com oitenta e cinco anos. Com setenta e cinco Deus apareceu a ele pela primeira vez (Gn 12.4) e lhe fez a promessa de que dele surgiria uma grande nação (12.2).
Passaram-se dez anos e Abrão permanecia sozinho com Sarai. Nada da descendência prometida. O casal já era idoso e a possibilidade de ter filhos diminuía com o passar do tempo.
Então, Sarai chama o esposo e tem uma conversa séria com ele. Diz que é fato que eles não conseguiam gerar filhos. Então, era necessário fazer algo. O modo mais prático de terem descendência, de verem a promessa de Deus ser cumprida era Abrão tomar a escrava Hagar e ter filhos com ela. O esposo concorda. No ano seguinte nasce Ismael (16.15).
Passados treze anos, Deus aparece novamente a Abrão (17.1). Agora ele tem noventa e nove anos. Deus faz uma aliança com o patriarca, constando dela a renovação da promessa de que dele surgiria uma grande nação (17.2-3). E há uma especificação: o filho que ele e Sara gerariam deveria ser chamado de Isaque (17.19). O filho da promessa, passados vinte e quatro anos desde a primeira aparição a Abrão, tem nome – Isaque.
Abraão reage. Diz a Deus: “Tomara que viva Ismael diante de ti” (17.18). Frente à promessa de Isaque, Abraão, incrédulo, prefere se apegar àquilo que já existia – Ismael. Afinal, quem garantiria que depois de vinte e quatro anos Deus finalmente cumpriria sua promessa?
Deus promete Isaque. Abraão prefere confiar em Ismael.
A situação tensa enfrentada por Abraão e Sara espelha nossas lutas em vivermos pela fé.
Geralmente pensamos que Abraão, depois de algumas vicissitudes em sua relação com Deus, rapidamente gera Isaque e se torna o patriarca, o homem de fé que é exaltado no Novo Testamento. Mas não foi bem assim. Como nós, ele titubeou, fraquejou, procurou as soluções visíveis em lugar de confiar nas promessas invisíveis.
Deus prometeu que dele surgiria uma nação quando ele tinha setenta e cinco anos. Passaram-se vinte e quatro anos para que isso começasse a se cumprir com a gravidez de Sara. Vinte e quatro anos!
Quanto tempo leva para eu e você duvidarmos das promessas de Deus? Um mês? Seis meses? Um ano? Abraão esperou duas décadas e meia para ver o rosto do filho prometido!
Por vezes constatamos em nossa vida a falta de fé do pai da fé: Deus promete Isaque; Abraão se apega a Ismael.
Afinal, Ismael é uma realidade. Ele existe. Abraão o viu nascer, identificou-se com ele. Tem carinho pelo filho gerado por Hagar. Isaque... bem, Isaque permanece envolto nas brumas da promessa divina que tarde para chegar. E como demora!
Deus diz: Isaque. Nós dizemos: prefiro aquilo que vejo, que sinto, que posso tocar. Prefiro Ismael.
E assim ficamos com meias promessas, meias verdades, meias bênçãos.
Vivemos tempos em que Deus diz: Isaque. E nós dizemos: Ismael.
• João Leonel é pastor presbiteriano, mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo e doutor em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Imagem: By Caravaggio - scan, Public Domain.
Gn 17.18-19
Abrão estava com oitenta e cinco anos. Com setenta e cinco Deus apareceu a ele pela primeira vez (Gn 12.4) e lhe fez a promessa de que dele surgiria uma grande nação (12.2).
Passaram-se dez anos e Abrão permanecia sozinho com Sarai. Nada da descendência prometida. O casal já era idoso e a possibilidade de ter filhos diminuía com o passar do tempo.
Então, Sarai chama o esposo e tem uma conversa séria com ele. Diz que é fato que eles não conseguiam gerar filhos. Então, era necessário fazer algo. O modo mais prático de terem descendência, de verem a promessa de Deus ser cumprida era Abrão tomar a escrava Hagar e ter filhos com ela. O esposo concorda. No ano seguinte nasce Ismael (16.15).
Passados treze anos, Deus aparece novamente a Abrão (17.1). Agora ele tem noventa e nove anos. Deus faz uma aliança com o patriarca, constando dela a renovação da promessa de que dele surgiria uma grande nação (17.2-3). E há uma especificação: o filho que ele e Sara gerariam deveria ser chamado de Isaque (17.19). O filho da promessa, passados vinte e quatro anos desde a primeira aparição a Abrão, tem nome – Isaque.
Abraão reage. Diz a Deus: “Tomara que viva Ismael diante de ti” (17.18). Frente à promessa de Isaque, Abraão, incrédulo, prefere se apegar àquilo que já existia – Ismael. Afinal, quem garantiria que depois de vinte e quatro anos Deus finalmente cumpriria sua promessa?
Deus promete Isaque. Abraão prefere confiar em Ismael.
A situação tensa enfrentada por Abraão e Sara espelha nossas lutas em vivermos pela fé.
Geralmente pensamos que Abraão, depois de algumas vicissitudes em sua relação com Deus, rapidamente gera Isaque e se torna o patriarca, o homem de fé que é exaltado no Novo Testamento. Mas não foi bem assim. Como nós, ele titubeou, fraquejou, procurou as soluções visíveis em lugar de confiar nas promessas invisíveis.
Deus prometeu que dele surgiria uma nação quando ele tinha setenta e cinco anos. Passaram-se vinte e quatro anos para que isso começasse a se cumprir com a gravidez de Sara. Vinte e quatro anos!
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Por vezes constatamos em nossa vida a falta de fé do pai da fé: Deus promete Isaque; Abraão se apega a Ismael.
Afinal, Ismael é uma realidade. Ele existe. Abraão o viu nascer, identificou-se com ele. Tem carinho pelo filho gerado por Hagar. Isaque... bem, Isaque permanece envolto nas brumas da promessa divina que tarde para chegar. E como demora!
Deus diz: Isaque. Nós dizemos: prefiro aquilo que vejo, que sinto, que posso tocar. Prefiro Ismael.
E assim ficamos com meias promessas, meias verdades, meias bênçãos.
Vivemos tempos em que Deus diz: Isaque. E nós dizemos: Ismael.
• João Leonel é pastor presbiteriano, mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo e doutor em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
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