Opinião
- 15 de maio de 2009
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Por que os heróis sempre fracassam?
Sansão é um homem tão acostumado com os prodígios que acaba entediado, perde a paciência, com aquilo que é comum da vida. Verdades como fidelidade, paciência, discernimento, perseverança, lucidez, humildade, afetos, conversas, amizade, companheirismo, tornam-se insuportáveis. Uma reação, talvez, semelhante à do protagonista de “A Náusea”, de Jean Paul-Sartre. Um homem que ao assistir às banalidades da vida, como pessoas passeando pelas ruas da cidade, surta com náuseas fortíssimas. Sempre que me cerco de grandes feitos torno-me entediado com a vida.
Durante muito tempo se papagaiou um jargão entre os evangélicos: ‘Nenhuma oração, nenhum poder. Pouca oração, pouco poder. Muita oração, muito poder’. Parece fazer algum sentido, mas não faz nenhum. Segundo a tragédia de Sansão, o oposto é que faz sentido: ‘Muito poder, nenhuma oração. Nenhum poder, muita oração’.
Sansão não foi derrotado por algo ou alguém com mais poder do que ele. Foi derrotado pela realidade. Pela simplicidade da vida. Pela insistência sensual de uma mulher. Pelas disputas de poder nos bastidores de seus relacionamentos. Coisas que fazem parte da vida de qualquer mortal.
Toda a história de Sansão é marcada por vitórias com um jeito artificial. São vitórias fictícias, sem consistência. Não são vitórias de fato. Sem o último capítulo suspeitaríamos de uma história para fazer um pequeno hebreu dormir. A única vitória com gosto de verdade acontece apenas no final, mas com sabor agridoce.
Sansão vence para valer os filisteus quando está cego, enfraquecido e humilhado. Vence-os com poucas palavras e sem espetáculo algum, pelo menos não um espetáculo para si mesmo. Não há um sorriso de herói acima dos demais. Sansão vence os filisteus não para ser um vencedor, mas para fazer seu povo vencedor. Ele vence, mas não vive para ver a vitória. Seu último pedido é também uma desistência. “Que eu morra com os filisteus!” (Jz 16.30).
A história termina com uma grandeza estranha. Sansão foi mais vencedor na morte do que na vida: “Assim, na sua morte, Sansão matou mais homens do que em toda a sua vida” (v. 30).
Vencemos na vida quando morremos para nossas ficções messiânicas, quando perdemos nossas falsas onipotências. Um vencedor nunca é um herói. É um de nós apenas -- lembra a morte.
(Capítulo do livro “Salvos da Perfeição -- mais humanos e mais perto de Deus”, lançamento de junho da Editora Ultimato)
• Elienai Cabral Júnior é casado com Bete e pai de Ana Clara, Gabriela e Thales. É a terceira geração de pastores em sua família. Muito cedo optou por uma pregação crítica e imaginativa, o que o levou a acrescentar aos estudos de teologia a formação em filosofia. É mestrando em ciências da religião na Universidade Metodista de São Bernardo e pastoreia a Igreja Betesda do Tatuapé, em São Paulo. Escreve regularmente em seu blog: www.elienaijr.wordpress.com
Durante muito tempo se papagaiou um jargão entre os evangélicos: ‘Nenhuma oração, nenhum poder. Pouca oração, pouco poder. Muita oração, muito poder’. Parece fazer algum sentido, mas não faz nenhum. Segundo a tragédia de Sansão, o oposto é que faz sentido: ‘Muito poder, nenhuma oração. Nenhum poder, muita oração’.
Sansão não foi derrotado por algo ou alguém com mais poder do que ele. Foi derrotado pela realidade. Pela simplicidade da vida. Pela insistência sensual de uma mulher. Pelas disputas de poder nos bastidores de seus relacionamentos. Coisas que fazem parte da vida de qualquer mortal.
Toda a história de Sansão é marcada por vitórias com um jeito artificial. São vitórias fictícias, sem consistência. Não são vitórias de fato. Sem o último capítulo suspeitaríamos de uma história para fazer um pequeno hebreu dormir. A única vitória com gosto de verdade acontece apenas no final, mas com sabor agridoce.
Sansão vence para valer os filisteus quando está cego, enfraquecido e humilhado. Vence-os com poucas palavras e sem espetáculo algum, pelo menos não um espetáculo para si mesmo. Não há um sorriso de herói acima dos demais. Sansão vence os filisteus não para ser um vencedor, mas para fazer seu povo vencedor. Ele vence, mas não vive para ver a vitória. Seu último pedido é também uma desistência. “Que eu morra com os filisteus!” (Jz 16.30).
A história termina com uma grandeza estranha. Sansão foi mais vencedor na morte do que na vida: “Assim, na sua morte, Sansão matou mais homens do que em toda a sua vida” (v. 30).
Vencemos na vida quando morremos para nossas ficções messiânicas, quando perdemos nossas falsas onipotências. Um vencedor nunca é um herói. É um de nós apenas -- lembra a morte.
(Capítulo do livro “Salvos da Perfeição -- mais humanos e mais perto de Deus”, lançamento de junho da Editora Ultimato)
• Elienai Cabral Júnior é casado com Bete e pai de Ana Clara, Gabriela e Thales. É a terceira geração de pastores em sua família. Muito cedo optou por uma pregação crítica e imaginativa, o que o levou a acrescentar aos estudos de teologia a formação em filosofia. É mestrando em ciências da religião na Universidade Metodista de São Bernardo e pastoreia a Igreja Betesda do Tatuapé, em São Paulo. Escreve regularmente em seu blog: www.elienaijr.wordpress.com
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