Opinião
- 15 de maio de 2009
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Por que os heróis sempre fracassam?
Aprendemos com Sansão que se tornar uma exceção também é provar um fim trágico. Todo ser humano, na vivência bíblica, com vantagens sobrenaturais termina os seus dias como um fracassado. Vejamos.
Quem venceu no final da história não foi o mesmo Sansão do início. Foi um outro Sansão, cego e frágil, no seu último fôlego de vida. O que a ruína de um herói pode nos ensinar sobre a vida? Essa é uma pergunta que a Bíblia nos impõe com insistência, como um antídoto para o veneno de nossos exagerados idealismos.
Quando idealizamos demais a pessoa humana, terminamos por roubar-lhe a liberdade. Prisioneira de nossas românticas expectativas, precisa mascarar suas verdades para sustentar a fantasia. Uma história assim só pode produzir ruínas. Idealizamos exageradamente os filhos e os submetemos a uma escravidão de culpa. Também o fazemos aos crentes e os obrigamos a viver em um faz-de-conta religioso que esmaga suas identidades. Fantasiamos a igreja e a obrigamos a ser um lugar de decepções, ambiente da verdade que sem uma visão realista pode apagar esperanças. Qualquer pessoa diminui quando sujeita às idealizações.
Duas histórias muito parecidas revelam um ‘bobão’ por trás do grandalhão, de Sansão (14 e 16). Em ambas, quem tira a roupa do herói e desnuda o ‘bobão’ é uma mulher, o que não deixa de ser sugestivo. A truculência implacável de um homem desmoronou diante da fragilidade sagaz de duas mulheres, o que apenas confirma o emburrecimento que se esconde nos heroísmos. Na primeira história, temos a mulher que se tornou sua esposa. Sansão propôs um enigma aos amigos da noiva que participavam de sua festa de casamento: “Do que come saiu comida; do que é forte saiu doçura” (Jz 14.14). De tanto insistir, a mulher, convencida pelos adversários, fez Sansão revelar o enigma, que em seguida foi informado aos seus inimigos. Todo mundo vê, menos o ‘bobão’.
Infelizmente, Sansão não aprendeu a lição. O ‘bobão’ foi despido de novo, mas desta vez foi fatal. Dalila, sua amante, tentou por três vezes seguidas entregá-lo aos seus inimigos, revelando o provável segredo de sua força e ele simplesmente pareceu não desconfiar de nada. Muito poder parece inchar as aparências e atrofiar a alma, idiotizar o verdadeiro ‘eu’. Pela quarta vez seguida, Dalila tentou convencê-lo a contar seu segredo, e ele cedeu, expôs-se ao perigo, como se nada pudesse de fato acontecer, como se tudo, inclusive suas verdades mais íntimas, fossem uma ficção. Nada é para valer quando nos sentimos privilegiados por tanto poder. Sempre que nos tornamos muito poderosos nossa alma é idiotizada.
Não seria isso o que aconteceu com o mundo pentecostal brasileiro? Numa velocidade incrível, tornou-se um enorme movimento religioso. O Brasil não é mais apenas o maior país católico do mundo, é também o maior país pentecostal. Canais de TV, emissoras de rádio, templos sofisticados, cargos em todas as instâncias de poder. Grandes executivos e marketeiros tornaram-se os mais poderosos líderes evangélicos no país. No entanto, o custo disso é um movimento moralmente enlameado. Pior, é o nome que é sobre todo nome, Jesus, jogado na lama dos golpistas, estelionatários, formadores de quadrilha, enganadores da fé popular, agentes de lavagem de dinheiro. E todos continuam, varrem para debaixo da mais medíocre justificativa: perseguição religiosa! Por que se importar? De tão poderosos, nosso Deus e nossa consciência se tornaram apenas ficção.
Uma vida privilegiada, como querem muitos religiosos, que conta com favores sobrenaturais, desenvolve um falso senso de intocabilidade. Por isso uso o termo ficção para descrever no que se torna a vida turbinada pela panaceia de um Deus que me dá tudo através de milagres. A vida não é para valer se sou potencializado por forças extraordinárias. Por que fazer contas? Para que me preocupar com as consequências do que faço? Para que buscar o aperfeiçoamento de meus ofícios? Para que, se Deus me confere o privilégio de facilitar minha vida com milagres pontuais?
Quem venceu no final da história não foi o mesmo Sansão do início. Foi um outro Sansão, cego e frágil, no seu último fôlego de vida. O que a ruína de um herói pode nos ensinar sobre a vida? Essa é uma pergunta que a Bíblia nos impõe com insistência, como um antídoto para o veneno de nossos exagerados idealismos.
Quando idealizamos demais a pessoa humana, terminamos por roubar-lhe a liberdade. Prisioneira de nossas românticas expectativas, precisa mascarar suas verdades para sustentar a fantasia. Uma história assim só pode produzir ruínas. Idealizamos exageradamente os filhos e os submetemos a uma escravidão de culpa. Também o fazemos aos crentes e os obrigamos a viver em um faz-de-conta religioso que esmaga suas identidades. Fantasiamos a igreja e a obrigamos a ser um lugar de decepções, ambiente da verdade que sem uma visão realista pode apagar esperanças. Qualquer pessoa diminui quando sujeita às idealizações.
Duas histórias muito parecidas revelam um ‘bobão’ por trás do grandalhão, de Sansão (14 e 16). Em ambas, quem tira a roupa do herói e desnuda o ‘bobão’ é uma mulher, o que não deixa de ser sugestivo. A truculência implacável de um homem desmoronou diante da fragilidade sagaz de duas mulheres, o que apenas confirma o emburrecimento que se esconde nos heroísmos. Na primeira história, temos a mulher que se tornou sua esposa. Sansão propôs um enigma aos amigos da noiva que participavam de sua festa de casamento: “Do que come saiu comida; do que é forte saiu doçura” (Jz 14.14). De tanto insistir, a mulher, convencida pelos adversários, fez Sansão revelar o enigma, que em seguida foi informado aos seus inimigos. Todo mundo vê, menos o ‘bobão’.
Infelizmente, Sansão não aprendeu a lição. O ‘bobão’ foi despido de novo, mas desta vez foi fatal. Dalila, sua amante, tentou por três vezes seguidas entregá-lo aos seus inimigos, revelando o provável segredo de sua força e ele simplesmente pareceu não desconfiar de nada. Muito poder parece inchar as aparências e atrofiar a alma, idiotizar o verdadeiro ‘eu’. Pela quarta vez seguida, Dalila tentou convencê-lo a contar seu segredo, e ele cedeu, expôs-se ao perigo, como se nada pudesse de fato acontecer, como se tudo, inclusive suas verdades mais íntimas, fossem uma ficção. Nada é para valer quando nos sentimos privilegiados por tanto poder. Sempre que nos tornamos muito poderosos nossa alma é idiotizada.
Não seria isso o que aconteceu com o mundo pentecostal brasileiro? Numa velocidade incrível, tornou-se um enorme movimento religioso. O Brasil não é mais apenas o maior país católico do mundo, é também o maior país pentecostal. Canais de TV, emissoras de rádio, templos sofisticados, cargos em todas as instâncias de poder. Grandes executivos e marketeiros tornaram-se os mais poderosos líderes evangélicos no país. No entanto, o custo disso é um movimento moralmente enlameado. Pior, é o nome que é sobre todo nome, Jesus, jogado na lama dos golpistas, estelionatários, formadores de quadrilha, enganadores da fé popular, agentes de lavagem de dinheiro. E todos continuam, varrem para debaixo da mais medíocre justificativa: perseguição religiosa! Por que se importar? De tão poderosos, nosso Deus e nossa consciência se tornaram apenas ficção.
Uma vida privilegiada, como querem muitos religiosos, que conta com favores sobrenaturais, desenvolve um falso senso de intocabilidade. Por isso uso o termo ficção para descrever no que se torna a vida turbinada pela panaceia de um Deus que me dá tudo através de milagres. A vida não é para valer se sou potencializado por forças extraordinárias. Por que fazer contas? Para que me preocupar com as consequências do que faço? Para que buscar o aperfeiçoamento de meus ofícios? Para que, se Deus me confere o privilégio de facilitar minha vida com milagres pontuais?
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