Opinião
- 18 de outubro de 2022
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Por que mais um livro sobre o islã?
Por Marcos Amado
Escrito por um acadêmico cristão, obra aborda questões históricas, religiosas, sociais e geográficas complexas
O Rei Salomão, fazendo uso da sabedoria que lhe foi dada por Deus, já advertia sobre os perigos causados pelo excesso de livros e pelo muito estudar (Ec 12.12). É natural, portanto, que a pergunta ‘Por que mais um?’ venha à tona ao ser lançada a obra Uma Nova Introdução ao Islã: Origens, tendências e práticas muçulmanas no mundo contemporâneo, de Daniel Brown, pela Editora Ultimato em parceria com o Martureo em 2022 – trata-se de outro livro publicado sobre um assunto já bastante abordado por diferentes autores de diferentes estirpes. O fato é que o livro de Brown se destaca em vários aspectos dos demais livros publicados no Brasil sobre o islã.
O Rei Salomão, fazendo uso da sabedoria que lhe foi dada por Deus, já advertia sobre os perigos causados pelo excesso de livros e pelo muito estudar (Ec 12.12). É natural, portanto, que a pergunta ‘Por que mais um?’ venha à tona ao ser lançada a obra Uma Nova Introdução ao Islã: Origens, tendências e práticas muçulmanas no mundo contemporâneo, de Daniel Brown, pela Editora Ultimato em parceria com o Martureo em 2022 – trata-se de outro livro publicado sobre um assunto já bastante abordado por diferentes autores de diferentes estirpes. O fato é que o livro de Brown se destaca em vários aspectos dos demais livros publicados no Brasil sobre o islã.
Meu primeiro contato com A New Introduction to Islam (título original) foi no curso de estudos islâmicos que frequentei anos atrás no Instituto de Estudos do Oriente Médio, na cidade de Beirute, no Líbano. Depois de ler os primeiros capítulos e discutir seu conteúdo inclusive com árabes cristãos (alguns oriundos do islã), fiquei impressionado com a forma respeitosa, porém profunda e crítica, usada pelo autor para descrever os primórdios do islã, seu desenvolvimento e o impacto que essa religião e seus seguidores têm tido (positiva e negativamente) sobre a história nos últimos 14 séculos.
Posteriormente, ao ouvir o autor em uma conferência no Oriente Médio (na qual estavam presentes especialistas cristãos locais e estrangeiros) lidando de forma tão clara e arguta com temas complexos relacionados ao islã, meu desejo de ver o livro publicado em português para o público brasileiro ficou cristalizado. Apesar de a bibliografia em português não ser muito extensa quando comparada à disponível em outros idiomas, bons livros já foram publicados sobre o assunto no País. Porém, faltava-nos um mais abrangente, escrito por um acadêmico cristão comprometido com Jesus, que abordasse de maneira intelectualmente honesta as questões históricas, religiosas, sociais e geográficas complexas existentes antes e depois do nascimento de Maomé e que tiveram influência na compreensão que ele tinha sobre Deus, Jesus, ética e tantos outros assuntos que moldaram seu pensamento e a formação da religião.
Tendo essa abrangência em mente, Brown, nos primeiros capítulos, dedica-se a analisar os aspectos principais da história que, durante séculos, os muçulmanos têm contado ao mundo sobre seu fundador, seu livro sagrado, sua história e suas tradições. E ele faz isso com a convicção de que estudar “a história tradicional da vida de Maomé, como o Alcorão surgiu e a natureza do islã primitivo” sem olhar para algumas perguntas difíceis que estudiosos têm feito nas últimas décadas sobre essa narrativa ‘oficial’ não acrescentaria muito à literatura já disponível.
Como resultado dessa cuidadosa análise, Brown conclui, como muitos acadêmicos antes dele, que Maomé foi uma figura histórica, nasceu e cresceu em Meca, pregou uma mensagem monoteísta, foi perseguido, estabeleceu-se em Yathrib (Medina) e, anos depois, conquistou Meca; mas isso é tudo o que ele está disposto a admitir como pontos que não deixam perguntas sem respostas. Tudo o mais relacionado aos relatos muçulmanos tradicionais sobre as origens do islã é colocado sob escrutínio: a situação da Península Arábica antes da ascensão do islã, o papel da poesia árabe, a posição da mulher no contexto pré-islâmico, as fontes históricas que falam sobre a vida de Maomé, a formação do Alcorão e do Hadith e tantos outros temas que, segundo Brown, não saem ilesos diante dos rigores da crítica textual e histórica devido às inúmeras e importantes lacunas encontradas nos documentos disponíveis que nos falam sobre esses eventos.
Para o autor, diferentemente do que muitos acadêmicos muçulmanos estão dispostos a aceitar, o processo de formação do islã, dos seus livros sagrados e de suas conquistas territoriais foram mais longos e complexos do que se costuma afirmar, já que “religiões e civilizações não emergem totalmente formadas do deserto; os nômades não se transformam da noite para o dia em teólogos, juristas, lexicógrafos e teóricos políticos”. Portanto, “a verdadeira incubadora do islã foi a rica civilização do Oriente Próximo”, e não somente a Península Arábica. A biografia de Muhammad, o Alcorão e o Hadith (todos essenciais para dar algum tipo de plausibilidade à história e teologia islâmicas), na forma que os temos hoje, são construções tardias que surgiram como resultado da interação que os muçulmanos árabes tiveram com cristãos, judeus, zoroastras e outros à medida que marchavam para conquistar novos territórios e tentavam dar sentido aos ensinamentos de Maomé em um ambiente muito diferente daquele dos desertos árabes.
À medida que a narrativa avança, esses fundamentos apresentados por Brown ajudam o leitor a ter uma compreensão mais sólida sobre os principais personagens e acontecimentos, dando-lhe embasamento para assimilar o que é tratado posteriormente. Vários dos temas presentes são pouco abordados por autores cristãos na literatura disponível no Brasil – teologia e filosofia islâmicas, a sharia, o sufismo, a complexa relação do ocidente com o islã, os desafios que o islã encontra ao se deparar com o pluralismo, liberalismo, feminismo e, como não, com o radicalismo islâmico.
Sobre esse último tema em particular, vale uma observação importante: no Brasil normalmente tratamos as palavras islã e islamismo como sinônimas. Porém, no meio acadêmico europeu e norte-americano, a palavra islamismo refere-se à ideologia/teologia encontrada no islã que promove o terrorismo e a luta armada contra todos aqueles que não se conformam a essa visão particular do islã. Por isso, no livro em questão, decidiu-se seguir o critério que já se tornou praxe no ambiente acadêmico internacional. Quando o assunto for o radicalismo islâmico, você verá os termos salafismo, islã radical ou outros termos correlatos.
Como Diretor do Martureo, organização que, em parceria com a Editora Ultimato, tornou possível a publicação da edição brasileira de A New Introduction to Islam, minha oração é que esse livro seja de grande valia para todo seguidor de Cristo que deseja dar um melhor testemunho ao crescente número de muçulmanos em terras brasileiras ou além-mar, sem nos esquecermos da admoestação bíblica: “Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês. Contudo, façam isso com mansidão e respeito, conservando boa consciência…” (1 Pedro 3.15-16).
A versão impressa da obra Uma Nova Introdução ao Islã (464 páginas) já está à venda nas principais livrarias e também no site da Editora Ultimato por R$ 99,10. A versão digital sai por R$ 56,61.
(Esse texto é uma adaptação da Introdução à edição brasileira do livro A New Introduction to Islam.)
Originalmente publicado por Martureo. Reproduzido com autorização.
Originalmente publicado por Martureo. Reproduzido com autorização.
- Marcos Amado é diretor do Centro de Reflexão Missiológica Martureo, é graduado em Teologia pelo All Nations Cristian College (Reino Unido) e Mestre em Missiologia com Especialização em Estudos Islâmicos pela mesma instituição. Em Beirute, no Líbano, cursou Estudos Avançados em Religiões e Culturas do Oriente Médio no Institute of Middle East Studies. É casado com Rosângela e acumula mais de 25 anos de experiência transcultural.
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