Opinião
- 20 de novembro de 2020
- Visualizações: 8533
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Por que a obsessão pela inovação?
Por Paulo Ribeiro
Não há um vestígio de criatividade real em nós. Apenas recombinamos elementos feitos pelo Criador
1 – Se quisermos criar uma sociedade inteligente e sustentável, talvez seja a hora de chegar a um acordo com a realidade da obsessão pela “inovação” e parar de descuidar e negligenciar outros elementos do desenvolvimento.
2 – Existe uma ideia predominante, particularmente entre aqueles que trabalham com tecnologia, de que a inovação é inerentemente superior à manutenção ou ao simples melhoramento de ferramentas e infraestruturas de sustentação da vida.
3 – A inovação tem o poder de mudar nossas vidas para melhor, tornando as coisas mais convenientes e econômicas. Alguns dos dispositivos que vimos surgir fruto de inovação, como a internet e smartphones, parecem confirmar isto.
4 – Talvez uma das maiores atrações para a inovação em uma sociedade capitalista seja a possibilidade de seus criadores se tornarem ricos. E como tendemos a igualar dinheiro a valor real, pensamos nos inovadores como mais valiosos para a sociedade do que outras pessoas. Mas a atração vai mais além do que a riqueza: a excitação da conquista contaminada com orgulho egoísta e sentido de auto importância, são as características mais danosas e fatais.
5 – Há perigos em priorizar a inovação acima de tudo e é importante destacá-los. Educamos gerações de engenheiros acreditando que sua melhor aposta para uma carreira é inventar algo novo, criar ou iniciar seu próprio negócio. No entanto, isso pode ser destrutivo, considerando a alta taxa de falha das startups. Como se isso não bastasse, também temos gerações de pessoas que desprezam trabalhos que não exigem criatividade ou inovação.
6 – Nossa obsessão pela inovação nos leva a desvalorizar a manutenção, que é necessária para manter o mundo funcionando. É muito mais atraente investir dinheiro em uma startup de tecnologia do que investir em consertar uma ponte ou em saneamento básico.
7 – Claro, há muitos motivos pelos quais nossa infraestrutura está tão ruim, mas nossa priorização da inovação, em vez do melhoramento e manutenção da infraestrutura existente, desempenha um papel significativo nisto.
8 – Nossa demanda inexorável por inovação também incentiva o desenvolvimento de fenômenos econômicos que nem sempre funcionam a nosso favor. Por exemplo, considere a obsolescência planejada, a ideia de que as empresas de tecnologia projetam especificamente seus produtos para expirar ou se tornarem menos valiosos com o surgimento de uma versão mais nova.
9 – Podemos argumentar que isto pode acontecer de qualquer maneira; afinal, espera-se que as empresas se comportem de forma a maximizar seus próprios interesses e vender novos produtos. No entanto, é nossa demanda contínua por novos produtos que permite que este ciclo vicioso continue inabalável e recorrente.
10 – Estamos vendo o lançamento de incontáveis "invenções" que são cópias inferiores de tecnologias já existentes ou combinações de tecnologias desnecessárias. Muitos estão inovando apenas por causa das inovações, em vez de gastarem seu tempo desenvolvendo uma tecnologia verdadeiramente imprescindível.
11 – Não importa onde você se enquadre no espectro político, é provável que você reconheça que a desigualdade social está piorando. Um CEO de grande empresa ganha muitas vezes mais em um único dia do que o trabalhador ganha em um ano.
12 – Uma pessoa que inventa um aplicativo que permite às pessoas comprar e vender serviços pode ganhar milhões de reais, enquanto as pessoas que compram e vendem na plataforma lutam para sobreviver.
13 – Não sou contra a inovação, mas acredito que está na hora de repensarmos este incentivo, quase que desequilibrado, sem identificarmos quais as áreas que realmente necessitam de inovação, priorizando projetos que mantenham os ativos que já possuímos.
14 – Finalmente, com relação à natureza de nossa tarefa como desenvolvedores de novas tecnologias, precisamos evitar o orgulho fatal que normalmente acompanha nosso chamado como especialistas. Fico um pouco desconfortável quando afirmamos ser uma classe especial de “criadores e inventores”. É a abdicação de nossa criatividade e originalidade que trará a verdadeira criatividade e originalidade em nós, como reflexos do Criador do Universo. Como disse certo autor inglês: “Não há um vestígio de criatividade real em nós. Tentemos imaginar uma nova cor primária, uma quarta dimensão, ou mesmo um monstro que não consiste em pedaços e partes de animais existentes grudados. Nada acontece. E certamente é por isso que nossas obras nunca significam para os outros exatamente o que pretendíamos: porque estamos recombinando elementos feitos pelo Criador, que já contêm seus significados”. E parece fazer sentido, pois como está dito em Eclesiastes 1:9: “O que foi voltará a ser, o que aconteceu, ocorrerá de novo, o que foi feito se fará outra vez; não existe nada de novo debaixo do sol”.
Nota do editor: O professor Paulo Fernando Ribeiro, do Instituto de Sistemas Elétricos e Energia (ISEE), da Universidade Federal de Itajubá, está na lista dos cientistas mais influentes no mundo, segundo pesquisa conduzida pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, divulgada em outubro. O estudo completo pode ser acessado aqui.
Nota do editor: O professor Paulo Fernando Ribeiro, do Instituto de Sistemas Elétricos e Energia (ISEE), da Universidade Federal de Itajubá, está na lista dos cientistas mais influentes no mundo, segundo pesquisa conduzida pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, divulgada em outubro. O estudo completo pode ser acessado aqui.
Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente é Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
- Textos publicados: 73 [ver]
- 20 de novembro de 2020
- Visualizações: 8533
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Corpos doentes [fracos, limitados, mutilados] também adoram
- Pesquisa Força Missionária Brasileira 2025 quer saber como e onde estão os missionários brasileiros
- Perigo à vista ! - Vulnerabilidades que tornam filhos de missionários mais suscetíveis ao abuso e ao silêncio
- As 97 teses de Martinho Lutero
- Lutar pelos sonhos é possível após os 60. Sempre pela bondade do Senhor
- Para fissurados por controle, cancelamento é saída fácil
- A última revista do ano
- Diálogos de Esperança: nova temporada conversa sobre a Igreja e Lausanne 4
- Vem aí "The Connect Faith 2024"
- A urgência da reconciliação: Reflexões a partir do 4º Congresso de Lausanne, um ano após o 7 de outubro