Opinião
- 26 de março de 2009
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Por onde começar a evangelização
Robson Ramos
Se há um tema sobre o qual gosto de falar e aceito sem pestanejar quando sou convidado é “evangelismo pessoal”. Afinal, foram muitas cabeçadas e já são quase trinta anos de estradas, portos e aeroportos. Dias e noites, sob forte calor ou em temperaturas negativas. Longas conversas nas mais diversas situações: em ambientes agradáveis com ar-condicionado, em cafés em centros acadêmicos no meio da fumaça espessa de cigarro, em rodoviárias, em voos intermináveis, jogando bilhar e baralho com gente ligada à OLP em Malta, com universitários na USP, na Unicamp e até mesmo com detentos no antigo complexo penitenciário do Carandiru, em São Paulo. Ainda me lembro de muitas faces e sotaques, dos mais diversos.
Uma das faces que me lembro é a de um estudante de pós-graduação da Nigéria, numa conversa que tivemos enquanto tomávamos café no Centro Acadêmico na Universidade de Wisconsin, EUA. Oriundo de um contexto tribal, ele tinha dificuldade para aceitar a divindade de Cristo. Lembro-me também de Navin, outro estudante, doutorando em filosofia. Morávamos no mesmo alojamento de estudantes. Nossas conversas aconteciam na escada, no meio da noite, às vezes sob frio intenso, no lado de fora, onde ele podia fumar. Ex-ator na Índia, seu país de origem, ele dizia ser um “hindu-existencialista”.
Nos workshops sobre este assunto em igrejas e conferências, constato que os participantes, invariavelmente, apresentam a mesma e preocupante dificuldade de não saber responder com clareza a uma pergunta básica: o que é o Evangelho?
As respostas invariavelmente apontam para uma salada de clichês religiosos sem uma amarração conceitual que faça sentido. No final, tudo se resume a um diluído caldo religioso, sem substância alguma. É raro encontrar alguém que saiba elaborar uma argumentação que dê o devido realce à singularidade de Cristo e de uma visão de mundo com pressupostos fundamentados nas Escrituras. Aliás, é trágico considerar o fato de que as pessoas nas igrejas não têm a mínima ideia do que vem a ser a “singularidade de Cristo”. Porém, sobre as bandas gospel do momento, estão absolutamente antenadas. Sabem de tudo.
Numa sociedade em que há tantas fórmulas, receitas e propostas, que diferença Jesus Cristo faz?
Ora, se a realidade é essa, em que jovens e adultos nas igrejas não conseguem responder adequadamente a essa pergunta, que tipo de “evangelismo” podem eles fazer?
Não seria o caso de começarmos a evangelizar quem está na igreja?
Sem se dar conta, muitos cristãos, evangélicos, gospels ou não, no fundo acabam pensando como Ghandi, para quem, conforme palavras atribuídas a ele, “Cristo era sim merecedor de um trono, mas não de um trono solitário”.
• Robson Ramos é consultor e mora em Balneário Camboriú, SC. É autor de Evangelização no Mercado Pós-Moderno, acadêmico de direito e mestre em estudos do Novo Testamento pelo Pittsburgh Theological Seminary, EUA. Texto extraído do blog do autor: www.mateus21.com.br
Se há um tema sobre o qual gosto de falar e aceito sem pestanejar quando sou convidado é “evangelismo pessoal”. Afinal, foram muitas cabeçadas e já são quase trinta anos de estradas, portos e aeroportos. Dias e noites, sob forte calor ou em temperaturas negativas. Longas conversas nas mais diversas situações: em ambientes agradáveis com ar-condicionado, em cafés em centros acadêmicos no meio da fumaça espessa de cigarro, em rodoviárias, em voos intermináveis, jogando bilhar e baralho com gente ligada à OLP em Malta, com universitários na USP, na Unicamp e até mesmo com detentos no antigo complexo penitenciário do Carandiru, em São Paulo. Ainda me lembro de muitas faces e sotaques, dos mais diversos.
Uma das faces que me lembro é a de um estudante de pós-graduação da Nigéria, numa conversa que tivemos enquanto tomávamos café no Centro Acadêmico na Universidade de Wisconsin, EUA. Oriundo de um contexto tribal, ele tinha dificuldade para aceitar a divindade de Cristo. Lembro-me também de Navin, outro estudante, doutorando em filosofia. Morávamos no mesmo alojamento de estudantes. Nossas conversas aconteciam na escada, no meio da noite, às vezes sob frio intenso, no lado de fora, onde ele podia fumar. Ex-ator na Índia, seu país de origem, ele dizia ser um “hindu-existencialista”.
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As respostas invariavelmente apontam para uma salada de clichês religiosos sem uma amarração conceitual que faça sentido. No final, tudo se resume a um diluído caldo religioso, sem substância alguma. É raro encontrar alguém que saiba elaborar uma argumentação que dê o devido realce à singularidade de Cristo e de uma visão de mundo com pressupostos fundamentados nas Escrituras. Aliás, é trágico considerar o fato de que as pessoas nas igrejas não têm a mínima ideia do que vem a ser a “singularidade de Cristo”. Porém, sobre as bandas gospel do momento, estão absolutamente antenadas. Sabem de tudo.
Numa sociedade em que há tantas fórmulas, receitas e propostas, que diferença Jesus Cristo faz?
Ora, se a realidade é essa, em que jovens e adultos nas igrejas não conseguem responder adequadamente a essa pergunta, que tipo de “evangelismo” podem eles fazer?
Não seria o caso de começarmos a evangelizar quem está na igreja?
Sem se dar conta, muitos cristãos, evangélicos, gospels ou não, no fundo acabam pensando como Ghandi, para quem, conforme palavras atribuídas a ele, “Cristo era sim merecedor de um trono, mas não de um trono solitário”.
• Robson Ramos é consultor e mora em Balneário Camboriú, SC. É autor de Evangelização no Mercado Pós-Moderno, acadêmico de direito e mestre em estudos do Novo Testamento pelo Pittsburgh Theological Seminary, EUA. Texto extraído do blog do autor: www.mateus21.com.br
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