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Opinião

Políticas de juventude na América Latina

Sarah Nigri

"Buscamos jovens capazes de se indignar!". Vi esta mensagem estampada na camisa de uma jovem argentina quando participei de uma manifestação em defesa dos direitos da juventude no Centro de Mar Del Plata, em outubro de 2009. Havia mais de mil jovens, de dez países latino-americanos, reunidos em função das comemorações da "Semana por los Derechos de la Juventud".

De acordo com o relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), um em cada cinco jovens latino-americanos não está trabalhando nem estudando. Dentre os 106 milhões de jovens do continente, cerca de 17 milhões estão desempregados. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), em 2004, o analfabetismo atingia 13% dos jovens da América Latina e apenas 6,5% deles chegavam ao ensino superior. Estes dados nos ajudam a entender os resultados da pesquisa coordenada pelo Ibase e pelo Instituto Polis – "Juventudes Sul-Americanas Diálogos para a Democracia Regional" 1 – que apontou as demandas por educação de qualidade e por maiores oportunidades de trabalho como as reivindicações mais recorrentes entre os jovens dos seis países da América do Sul analisados (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai).2

Apesar da crescente onda de mobilização juvenil que observamos nos últimos anos, é importante destacar que a luta em defesa dos direitos da juventude na América Latina não é uma novidade. Ela remonta aos anos oitenta, marcados pela grave crise econômica e social, pela intensa organização da sociedade civil e pelo desenrolar dos processos de redemocratização. No final desta década, começaram a surgir os primeiros espaços institucionais de juventude nos países sul-americanos. (Veja o quadro dos órgãos de juventude criados nos seis países pesquisados pelo Ibase e pelo Instituto Polis no final do texto.)

Em 1992, foi fundada a Organização Ibero-Americana de Juventude (OIJ), pautando suas ações na perspectiva dos jovens como “agentes de desenvolvimento”, combatendo a visão pejorativa da juventude como um “problema a ser resolvido”. Três anos depois, foi criado o Fórum Latino-americano de Juventude (FLAI) e, em 1998, foi realizada a I Conferência Mundial de Ministros da Juventude. Finalmente, em 2005, foi concluído o texto da Convenção Ibero-americana dos Direitos da Juventude e esperamos que ela adquira força de tratado internacional. Além destes marcos importantes para a juventude, poderíamos mencionar muitos outros, como os Fóruns Sociais Mundiais e os Fóruns Mundiais da Juventude.

Podemos notar, portanto, que a questão da defesa dos direitos dos jovens tem, a cada dia, ganhado mais espaço nas agendas políticas, pautando diretrizes e ações dos governos e dos movimentos sociais. Infelizmente, a parcela daqueles que se organizam coletivamente em prol da juventude ainda constitui uma minoria no conjunto da população latino-americana. Precisamos lutar pela ampliação da participação juvenil em nossos contextos locais e promover articulações regionais com os países vizinhos a fim de fortalecer as lutas, ampliar o raio de ação e o impacto dos movimentos.

Como cristãos, acredito que temos um importante papel a desempenhar neste processo, pois somos chamados a lutar pela manifestação da justiça e do Reino de Deus neste mundo. Ao participar das mobilizações juvenis, seja na Argentina ou no Brasil, me recordo sempre da carta de Paulo aos Romanos e de seu convite ao inconformismo, à transformação e renovação de nossas mentes (Rm 12.2).

Sejamos jovens capazes de nos indignar diante dos problemas e tragédias que acometem as juventudes latino-americanas. Demonstremos nossa compaixão, nosso inconformismo e tomemos parte nas lutas pela construção de um mundo mais justo, em conformidade com os valores do Reino, para que experimentemos a boa, perfeita e agradável vontade do Pai. Amém.

Notas
1. Para mais informações, acessar www.juventudesulamericana.org.br
2. Foram detectadas sete demandas mais frequentes: (1) educação pública, gratuita e de qualidade; (2) trabalho; (3) cultura; (4) transporte público; (5) segurança; (6) cuidado com o meio ambiente; (7) saúde.


Sarah Nigri, mestre em história política pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), é representante da ABUB no Conselho Nacional de Juventude.

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Altos Papos,  ed. 322

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