Opinião
- 27 de setembro de 2021
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Política e equilíbrio bíblico
Série Democracia e Fé Cristã
Por Ronald Sider
O equilíbrio bíblico é vital para todas as áreas de nossas vidas. Ele é importante em nossa vida pessoal à medida que buscamos unir oração e ação. É primordial para a vida da congregação local, pois combina a jornada interior da adoração, da comunhão e da instrução com a jornada exterior da missão ao mundo. E é crucial para quando procuramos um equilíbrio adequado do evangelismo e da questão social na nossa prática missionária, sendo algo essencial à medida que buscamos formar uma vida política que de alguma maneira seja fiel a Cristo.
Vamos repassar cada um desses pontos.
Primeiro, oração e ação. Sou um ativista por instinto natural. Não acho que ser estratégico e atuante seja algo ruim. Deus nos deu cérebros para usarmos, mas, certamente, o nosso primeiro passo ao percebermos um problema deve ser orar e buscar orientação do Espírito Santo. Sendo assim, todas as nossas estratégias e ações devem estar imersas em oração. Se Jesus precisava parar de pregar e curar para poder usufruir de tempo em oração, então, sem dúvida, nós precisamos fazer o mesmo.
Segundo, precisamos de equilíbrio bíblico na congregação local. É óbvio que precisamos de uma adoração vibrante, comunhão afetuosa e de exortarmos ousadamente uns aos outros dentro da congregação local, mas muitas de nossas congregações são, em grande parte, autocentradas. Elas gastam quase todo seu recurso e tempo com a vida interior da congregação, no entanto a missão ao mundo também é parte central da fé bíblica. As congregações não seriam mais fiéis a Jesus se gastassem 50% de sua renda na sua vida interior e 50% em missões para os de fora?
Terceiro, precisamos de equilíbrio bíblico na forma como abraçamos tanto o evangelismo quanto a ação social. Na maior parte do século 20, algumas igrejas se baseavam quase exclusivamente em evangelismo enquanto outras igrejas quase exclusivamente na ação social. Felizmente, o mundo evangélico tem feito grandes progressos nos últimos quarenta anos ao abranger ambos. Em 1973, a Declaração de Chicago de Preocupação Social Evangélica chamou os evangélicos para um maior engajamento com questões sociais como racismo, justiça econômica, opressão às mulheres e nacionalismo violento. Em 1974, o Pacto de Lausanne declarou corajosamente que tanto a evangelização quanto a responsabilidade social fazem parte do nosso dever cristão. Nos anos seguintes, cada vez mais líderes e congregações evangélicas começaram a combinar o alcance evangelístico com programas que ministravam às necessidades sociais das pessoas. As agências evangélicas de ajuda e desenvolvimento floresceram.
Mas é muito fácil perder o equilíbrio. Por diversas vezes ministérios cristãos como as Associações Cristãs de Moços (ACM) começaram com uma ótima combinação de evangelismo e ação social. Então, pouco a pouco, eles perderam a evangelização. Em minha vida, conheci jovens ativistas sociais evangélicos que ficaram tão perturbados com o fracasso dos líderes evangélicos em lidar com questões como racismo e injustiça econômica, que abandonaram qualquer interesse pelo evangelismo. Às vezes, me preocupo com a atual juventude evangélica. Eles dizem apenas pressupor que os cristãos fiéis acolhem tanto a palavra quanto a ação, mas na prática, eles gastam – de fato – a maior parte do seu tempo e dinheiro em ações sociais.
Jesus é o nosso único modelo perfeito. Jesus pregou e curou. Jesus não achava que deveria passar todo o seu tempo pregando. Os Evangelhos mostram que Jesus usou muito tempo de “pregação em potencial” ministrando às necessidades físicas das pessoas, mas, de igual modo, Jesus não passou todo o seu tempo cuidando das necessidades físicas das pessoas. Na missão, devemos nos esforçar para vivermos como Jesus.
Finalmente, como evangélicos, precisamos desesperadamente de equilíbrio bíblico em nossa atividade política. Eu sei que esse é um assunto complicado e delicado. Não se preocupe, eu não vou lhe dizer como votar. No entanto, imagino que uma das primeiras coisas que os evangélicos devem perguntar ao pensarem sobre um engajamento político fidedigno é: “Sobre o que a Bíblia nos diz que Deus se importa?”. Quando essa pergunta é feita, torna-se claro que Deus se importa tanto com a santidade da vida humana quanto com a justiça racial; com ambos, o casamento e a justiça para com os pobres; tanto com a integridade sexual quanto com o cuidado com a criação. O documento oficial de política pública da Associação Nacional de Evangélicos afirma que “o fidedigno engajamento cívico evangélico deve defender uma agenda biblicamente equilibrada” O documento faz fortes declarações sobre a santidade da vida humana e o casamento entre um homem e uma mulher, mas ele também tem seções enfáticas sobre a importância da justiça econômica, do cuidado com a criação e da oposição ao racismo.
Se alguém é completamente pró-vida (como eu procuro ser), então deve defender a santidade da vida humana onde quer que essa esteja sendo ameaçada. Evitar que pessoas morram de fome ou pela falta de assistência médica adequada também são questões pró-vida.
Os cristãos fiéis promoverão uma agenda política que reflita o equilíbrio bíblico. Quando os cristãos evangélicos apoiam movimentos políticos que falham em não condenar ou até incentivam o racismo, que negligenciam a justiça econômica para todos, especialmente aos pobres, e que não cuidam do meio ambiente que o Criador nos deu, abandonam um equilíbrio bíblico e desvalorizam a fé cristã. Dizer a verdade é essencial tanto para seguirmos a Jesus quanto para uma democracia dinâmica. Os evangélicos que lembram das palavras de Jesus de que a verdade nos libertará devem ser os defensores mais ávidos da verdade na vida pública.
É sempre difícil incorporar um equilíbrio completamente bíblico nas decisões políticas. Normalmente, um político ou partido estará mais perto de uma agenda biblicamente definida em alguns assuntos, e o outro partido ou pessoa estará mais perto em outros assuntos. Reconheço que, neste momento, as escolhas políticas desta nação são extremamente difíceis. Mas os evangélicos biblicamente comprometidos devem ser amplamente conhecidos como os mais fortes defensores tanto da santidade da vida humana quanto da justiça econômica; por apoiarem o casamento e rejeitarem o racismo; por uma integridade sexual e por zelarem pela criação e pela verdade. As vozes políticas evangélicas devem promover o equilíbrio bíblico. É nisso que o público deve pensar quando considerar o engajamento político evangélico.
Então, é isto que digo para os graduandos de 2018 e a todos os líderes da igreja.
Como pastores e líderes na igreja e na sociedade, por favor, peçam ao Senhor para ajudá-los a aderir e a promover um equilíbrio bíblico. Aceitem todas as partes do evangelho de Jesus, as verticais e as horizontais. Onde quer que seja, compartilhem com pessoas machucadas a gloriosa notícia de que não importa o quanto elas tenham errado, Deus está de braços abertos, ansioso para perdoar os seus pecados. Portanto, com o mesmo vigor, ensinem a todos que creem em Cristo a viverem – agora – como Jesus, para que a igreja seja uma pequena imagem de como será o reino em sua plenitude, quando Cristo voltar.
Encorajo vocês a pregar, a ensinar e a viver o equilíbrio bíblico da oração e ação. Formem congregações que deem a mesma ênfase à vida interior da igreja e a missão ao mundo. Cultivem congregações que, anualmente, levem várias pessoas a confessar a Cristo pela primeira vez e depois a se lançar aos pobres, às pessoas da sociedade que estão feridas e a caminhar com eles em direção à plenitude. Por fim, como pastores, não digam aos seus membros como devem votar, mas atrevam-se a ajudar seus membros a abraçarem uma agenda política biblicamente equilibrada em seu engajamento cívico para que, quando o mundo falar sobre a atividade política evangélica, eles digam: “esses evangélicos são líderes na proteção da santidade da vida humana e do casamento, mas também são líderes em rejeitar o racismo, capacitar os pobres, proteger o meio ambiente e dizer a verdade”.
Meus amigos, eu lhes encorajo: façam do equilíbrio bíblico a sua estrela guia.
Essa é uma versão abreviada do meu discurso de formatura realizado no Seminário Bíblico em Hatfield, Pensilvânia, em 9 de janeiro de 2018. Você pode ler o discurso completo no meu novo livro God’s Invitation to Peace and Justice; Sermons and Essays on Shalom [O Convite de Deus à paz e justiça; Sermões e ensaios sobre Shalom], disponível aqui e na Amazon.
Ronald Sider é professor de teologia, ministério holístico e de políticas públicas. É presidente dos Evangélicos pela Ação Social. É autor de vinte e sete livros - dentre os quais O Escândalo do Comportamento Evangélico (Ultimato) - e de vários artigos. O seu livro Cristãos Ricos em Tempo de Fome foi reconhecido pela Christianity Today com um dos cem livros religiosos mais influentes do século 20. É editor da revista PRISM. Leciona em diversas universidades ao redor do mundo, incluindo Yale, Harvard, Princeton e Oxford.
Ronald Sider é professor de teologia, ministério holístico e de políticas públicas. É presidente dos Evangélicos pela Ação Social. É autor de vinte e sete livros - dentre os quais O Escândalo do Comportamento Evangélico (Ultimato) - e de vários artigos. O seu livro Cristãos Ricos em Tempo de Fome foi reconhecido pela Christianity Today com um dos cem livros religiosos mais influentes do século 20. É editor da revista PRISM. Leciona em diversas universidades ao redor do mundo, incluindo Yale, Harvard, Princeton e Oxford.
Traduzido por Gabrielle Costa de Jesus Lourenço
>> Conheça o livro Cristianismo e Política, de Robinson Cavalcanti.
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