Opinião
- 07 de abril de 2017
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Pode a mesma boca que diz “Hosanas ao Rei” gritar “crucifica-o”?
Por Luiz Fernando dos Santos
Quando fazemos firmações sobre as quais não temos convicção alguma
O Domingo de Ramos abre de maneira dramática as comemorações pascais. Com a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém tem início também a semana das dores do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, cujo ponto alto é a crucifixão e morte do inocente Jesus na cruz do calvário.
Entre os hosanas de um povo em festa, cuja liturgia já estava prevista no Antigo Testamento como atesta o Salmo 118, Jesus entra em Jerusalém aclamado Rei, sucessor de Davi e consequentemente reconhecido pela turba como o Messias prometido. Como a própria narrativa bíblica ensina, é fácil deixar-se envolver emocionalmente com os aspectos exteriores da religião. É fácil ser impactado pela mensagem e ser como que induzido a fazer afirmações sobre as quais não se tem convicção alguma.
De fato, tudo o que a multidão exclamou no que diz respeito a Jesus era verdadeiro. Tudo o que Jesus viveu de forma dramática naquele dia cumpria em ínfimos detalhes o que prediziam os profetas. Todavia, a maioria daqueles que ali estenderam as suas vestes e cortaram e agitavam os seus ramos estavam como que tomados de uma experiência religiosa instantânea, porém passageira, sem fundamento, sem experiência pessoal e espiritual, que fizesse nascer uma convicção inabalável quanto a pessoa de Jesus.
Religiosidade e incredulidade não necessariamente antagônicas
Muitos dessa mesma multidão, uma semana depois, na sexta feira da paixão, trocarão os “hosanas” pelos “crucifica-o”, não mais gritarão “Bendito o que vem em Nome do Senhor”, mas berrarão a plenos pulmões “solta-nos Barrabás”. Tudo isso aconteceu por incredulidade. Religiosidade e incredulidade não necessariamente são coisas antagônicas. Na verdade, há mais incredulidade nas Escrituras estampada entre o povo da Aliança do que das nações ditas pagãs. O próprio Senhor Jesus achou mais fé no centurião romano do que em seus patrícios Judeus. Esses, no dia em que Jesus entrou em Jerusalém, celebraram uma festa litúrgica sem igual. Deram pública demonstração de serem um povo religioso e que conhecia as Escrituras. Mais tarde, porém, o que vimos foi a farsa de corações não convertidos ser desmascarada às portas do palácio de Pôncio Pilatos.
A igreja de todos os tempos e de todas as tradições corre sempre o mesmo perigo. É possível que nos acostumemos à religião. É possível que reduzamos nossa vida cristã a experiências emocionais, ao formalismo religioso, ao ativismo e etc. Também é possível que façamos uma leitura bíblica inofensivamente devocional e que jamais cheguemos à maturidade da fé e as implicações do texto que devem transformar o nosso ‘ethos’. O cristianismo nominal ou uma vivência do evangelho sem profundidade pode ser incredulidade, a mesma que entregou Jesus ao suplício, a mesma que pediu a sua crucifixão, a mesma que o abandonou no calvário, a mesma que trancafiou e paralisou os discípulos no cenáculo naqueles dias.
O Domingo de Ramos é uma boa ocasião para que todos, como igreja e como discípulos individualmente, façamos um exame sincero e profundo de nosso compromisso comunitário e pessoal com o seguimento de Jesus. Um tempo propício para que investiguemos as disposições de nossos corações quanto a sinceridade, o nível de compromisso e implicações com as afirmações de fé que fizemos em nosso batismo e em nossa pública profissão de fé.
Minha participação na igreja tem mais a ver com costume e tradição do que com certezas pessoais?
Seria possível que nossa pertença à igreja tenha mais a ver com costume e tradição do que com certezas pessoais? Seria possível que nossa ativa participação na vida da igreja tenha mais a ver com a natureza social e gregária da comunidade, sendo mais uma cultura e um estilo de vida, do que uma aliança cujo propósito é a missão?
A Entrada de Jesus em Jerusalém nos recorda o nível de profundidade do compromisso de Jesus com o seu Pai. Jesus desejou estar ali. Jesus quis ardentemente viver aqueles eventos com os seus discípulos. Jesus encaminha-se livremente para a cruz. Não só nos recorda e faz saber essas coisas, mas a festa de Ramos também é um convite para que cada cristão renove o seu ardor por Jesus.
É gracioso chamado para que cada crente e toda a igreja voltem ao seu primeiro amor, aos dias daquele entusiasmo quando estávamos dispostos a sacrificar-nos para estar onde Jesus estava, para ouvir o que ele tinha a dizer e para obedecer prontamente ao que ele ordenava fazer. Que nossos lábios proclamem hosanas ao Rei e que nossa vida grite no coração do mundo: “Bendito o que vem em Nome do Senhor”. Vem Senhor Jesus!
Leia mais
A semana das dores
Ramos: um domingo para nunca mais esquecer
A marcha triunfal de Jesus
O Incomparável Cristo [John Stott]
“Bendito é o que vem em nome do Senhor. Da casa do Senhor nós os abençoamos”
(Sl 118.26)
(Sl 118.26)
Quando fazemos firmações sobre as quais não temos convicção alguma
O Domingo de Ramos abre de maneira dramática as comemorações pascais. Com a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém tem início também a semana das dores do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, cujo ponto alto é a crucifixão e morte do inocente Jesus na cruz do calvário.
Entre os hosanas de um povo em festa, cuja liturgia já estava prevista no Antigo Testamento como atesta o Salmo 118, Jesus entra em Jerusalém aclamado Rei, sucessor de Davi e consequentemente reconhecido pela turba como o Messias prometido. Como a própria narrativa bíblica ensina, é fácil deixar-se envolver emocionalmente com os aspectos exteriores da religião. É fácil ser impactado pela mensagem e ser como que induzido a fazer afirmações sobre as quais não se tem convicção alguma.
De fato, tudo o que a multidão exclamou no que diz respeito a Jesus era verdadeiro. Tudo o que Jesus viveu de forma dramática naquele dia cumpria em ínfimos detalhes o que prediziam os profetas. Todavia, a maioria daqueles que ali estenderam as suas vestes e cortaram e agitavam os seus ramos estavam como que tomados de uma experiência religiosa instantânea, porém passageira, sem fundamento, sem experiência pessoal e espiritual, que fizesse nascer uma convicção inabalável quanto a pessoa de Jesus.
Religiosidade e incredulidade não necessariamente antagônicas
Muitos dessa mesma multidão, uma semana depois, na sexta feira da paixão, trocarão os “hosanas” pelos “crucifica-o”, não mais gritarão “Bendito o que vem em Nome do Senhor”, mas berrarão a plenos pulmões “solta-nos Barrabás”. Tudo isso aconteceu por incredulidade. Religiosidade e incredulidade não necessariamente são coisas antagônicas. Na verdade, há mais incredulidade nas Escrituras estampada entre o povo da Aliança do que das nações ditas pagãs. O próprio Senhor Jesus achou mais fé no centurião romano do que em seus patrícios Judeus. Esses, no dia em que Jesus entrou em Jerusalém, celebraram uma festa litúrgica sem igual. Deram pública demonstração de serem um povo religioso e que conhecia as Escrituras. Mais tarde, porém, o que vimos foi a farsa de corações não convertidos ser desmascarada às portas do palácio de Pôncio Pilatos.
A igreja de todos os tempos e de todas as tradições corre sempre o mesmo perigo. É possível que nos acostumemos à religião. É possível que reduzamos nossa vida cristã a experiências emocionais, ao formalismo religioso, ao ativismo e etc. Também é possível que façamos uma leitura bíblica inofensivamente devocional e que jamais cheguemos à maturidade da fé e as implicações do texto que devem transformar o nosso ‘ethos’. O cristianismo nominal ou uma vivência do evangelho sem profundidade pode ser incredulidade, a mesma que entregou Jesus ao suplício, a mesma que pediu a sua crucifixão, a mesma que o abandonou no calvário, a mesma que trancafiou e paralisou os discípulos no cenáculo naqueles dias.
O Domingo de Ramos é uma boa ocasião para que todos, como igreja e como discípulos individualmente, façamos um exame sincero e profundo de nosso compromisso comunitário e pessoal com o seguimento de Jesus. Um tempo propício para que investiguemos as disposições de nossos corações quanto a sinceridade, o nível de compromisso e implicações com as afirmações de fé que fizemos em nosso batismo e em nossa pública profissão de fé.
Minha participação na igreja tem mais a ver com costume e tradição do que com certezas pessoais?
Seria possível que nossa pertença à igreja tenha mais a ver com costume e tradição do que com certezas pessoais? Seria possível que nossa ativa participação na vida da igreja tenha mais a ver com a natureza social e gregária da comunidade, sendo mais uma cultura e um estilo de vida, do que uma aliança cujo propósito é a missão?
A Entrada de Jesus em Jerusalém nos recorda o nível de profundidade do compromisso de Jesus com o seu Pai. Jesus desejou estar ali. Jesus quis ardentemente viver aqueles eventos com os seus discípulos. Jesus encaminha-se livremente para a cruz. Não só nos recorda e faz saber essas coisas, mas a festa de Ramos também é um convite para que cada cristão renove o seu ardor por Jesus.
É gracioso chamado para que cada crente e toda a igreja voltem ao seu primeiro amor, aos dias daquele entusiasmo quando estávamos dispostos a sacrificar-nos para estar onde Jesus estava, para ouvir o que ele tinha a dizer e para obedecer prontamente ao que ele ordenava fazer. Que nossos lábios proclamem hosanas ao Rei e que nossa vida grite no coração do mundo: “Bendito o que vem em Nome do Senhor”. Vem Senhor Jesus!
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O Incomparável Cristo [John Stott]
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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