Opinião
- 06 de agosto de 2014
- Visualizações: 6252
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Planeta dos Macacos: o confronto
“Planeta dos Macacos” é uma das franquias de grande sucesso da ficção científica e da cultura pop do fim do século passado e início do presente. Tudo começou em 1963 com a publicação do livro “Le Plànet des Singes” (O planeta dos símios) pelo romancista francês Pierre Boulle. Em 1968 o livro foi adaptado para o cinema com sucesso estrondoso: “Planet of the Apes” – “Planeta dos Macacos” no Brasil - tendo Charlton Heston como o Capitão Taylor, o astronauta que chega a um planeta em tudo parecido com o nosso, com uma diferença: grandes símios – chipanzés, orangotangos e gorilas – dominam os humanos, tecnologicamente primitivos. A cena final, quando o atônito Taylor descobre que aquele planeta é a nossa Terra, é simplesmente antológica.
Houve quatro sequências no início dos anos de 1970, mas nenhuma delas com a mesma qualidade do original. Depois houve uma série televisiva e uma série animada, explorando a mesma ideia. Em 2001 Tim Burton fez um remake da história, mas não foi feliz. Seu enredo é confuso e atrapalhado. A única coisa que se salva no remake de Burton é a interpretação de Tim Roth, que dá vida ao perverso gorila General Thade. O Thade de Burton é ainda mais cruel e malvado que o gorila General Urko da série televisiva da década de 70. Em 2011 o diretor Rupert Wyatt resolve recriar a série com “Planeta dos Macacos: A Origem”, incomparavelmente melhor que o remake de Tim Burton. E agora em 2014 é lançado “Planeta dos Macacos: O Confronto”, sobre o qual desejo comentar brevemente.
Como o próprio título no Brasil antecipa, o filme vai falar de um embate entre humanos e os grandes antropoides falantes e inteligentes (o título original é “Dawn of the Planet of the Apes”, literalmente, “A aurora do Planeta dos Macacos”, um título que não antecipa nada). E em sua narrativa do confronto entre humanos e macacos o diretor Matt Reeves desconstrói a tão comum ideia de “nós contra eles” – nós somos bonzinhos, bonitos, inteligentes, justos e corretos e eles são maus, feios, burros, injustos e corruptos. O famoso mito do “bom selvagem” de Jean Jacques Rousseau, resultado da antropologia otimista do Iluminismo do século XVIII cai por terra na narrativa de Reeves.
O problema é que é muito difícil não pensar em termos de “nós contra eles”. Eleitores do PSDB contra a turma do PT, palmeirenses contra corintianos, calvinistas contra arminianos são apenas três exemplos do Brasil contemporâneo (cada leitor ou leitora se enquadre e enquadre “os outros” no grupo que quiser). “Nós” estamos sempre certos, e “eles” estão sempre errados. Talvez o exemplo mais eloquente em escala mundial atualmente seja o do conflito entre israelenses e palestinos na Faixa de Gaza: israelenses sádicos contra palestinos indefesos (a cultura do politicamente correto faz com que seja elegante defender o Hamas). Só que a vida não é tão simples assim. A realidade é muito mais complexa. Há erros e acertos em todos os lados. Este é o grande mérito do filme de Reeves: o confronto não é entre humanos maus e macacos bons. Quem semeia o confronto, a cizânia, a traição e a mentira é um macaco. Mas há também humanos maus. E macacos e humanos que fazem tudo para evitar o confronto. Sem sucesso. Mas tentam, porque sabem que a guerra não é a solução.
Deste modo “Planeta dos Macacos: O Confronto” não é apologia de uma teoria da evolução às avessas, como alguns desavisados poderiam pensar, mas um libelo contra a ingenuidade de análises apressadas e superficiais das relações entre os grupos humanos e um apelo à convivência harmônica entre diferentes.
Leia também
Cinema e Fé Cristã
Faculdade de cinema
Houve quatro sequências no início dos anos de 1970, mas nenhuma delas com a mesma qualidade do original. Depois houve uma série televisiva e uma série animada, explorando a mesma ideia. Em 2001 Tim Burton fez um remake da história, mas não foi feliz. Seu enredo é confuso e atrapalhado. A única coisa que se salva no remake de Burton é a interpretação de Tim Roth, que dá vida ao perverso gorila General Thade. O Thade de Burton é ainda mais cruel e malvado que o gorila General Urko da série televisiva da década de 70. Em 2011 o diretor Rupert Wyatt resolve recriar a série com “Planeta dos Macacos: A Origem”, incomparavelmente melhor que o remake de Tim Burton. E agora em 2014 é lançado “Planeta dos Macacos: O Confronto”, sobre o qual desejo comentar brevemente.
Como o próprio título no Brasil antecipa, o filme vai falar de um embate entre humanos e os grandes antropoides falantes e inteligentes (o título original é “Dawn of the Planet of the Apes”, literalmente, “A aurora do Planeta dos Macacos”, um título que não antecipa nada). E em sua narrativa do confronto entre humanos e macacos o diretor Matt Reeves desconstrói a tão comum ideia de “nós contra eles” – nós somos bonzinhos, bonitos, inteligentes, justos e corretos e eles são maus, feios, burros, injustos e corruptos. O famoso mito do “bom selvagem” de Jean Jacques Rousseau, resultado da antropologia otimista do Iluminismo do século XVIII cai por terra na narrativa de Reeves.
O problema é que é muito difícil não pensar em termos de “nós contra eles”. Eleitores do PSDB contra a turma do PT, palmeirenses contra corintianos, calvinistas contra arminianos são apenas três exemplos do Brasil contemporâneo (cada leitor ou leitora se enquadre e enquadre “os outros” no grupo que quiser). “Nós” estamos sempre certos, e “eles” estão sempre errados. Talvez o exemplo mais eloquente em escala mundial atualmente seja o do conflito entre israelenses e palestinos na Faixa de Gaza: israelenses sádicos contra palestinos indefesos (a cultura do politicamente correto faz com que seja elegante defender o Hamas). Só que a vida não é tão simples assim. A realidade é muito mais complexa. Há erros e acertos em todos os lados. Este é o grande mérito do filme de Reeves: o confronto não é entre humanos maus e macacos bons. Quem semeia o confronto, a cizânia, a traição e a mentira é um macaco. Mas há também humanos maus. E macacos e humanos que fazem tudo para evitar o confronto. Sem sucesso. Mas tentam, porque sabem que a guerra não é a solução.
Deste modo “Planeta dos Macacos: O Confronto” não é apologia de uma teoria da evolução às avessas, como alguns desavisados poderiam pensar, mas um libelo contra a ingenuidade de análises apressadas e superficiais das relações entre os grupos humanos e um apelo à convivência harmônica entre diferentes.
Leia também
Cinema e Fé Cristã
Faculdade de cinema
É professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Minas, onde coordena o GPRA – Grupo de Pesquisa Religião e Arte.
- Textos publicados: 82 [ver]
- 06 de agosto de 2014
- Visualizações: 6252
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Corpos doentes [fracos, limitados, mutilados] também adoram
- Pesquisa Força Missionária Brasileira 2025 quer saber como e onde estão os missionários brasileiros
- Perigo à vista ! - Vulnerabilidades que tornam filhos de missionários mais suscetíveis ao abuso e ao silêncio
- As 97 teses de Martinho Lutero
- Lutar pelos sonhos é possível após os 60. Sempre pela bondade do Senhor
- Para fissurados por controle, cancelamento é saída fácil
- A urgência da reconciliação: Reflexões a partir do 4º Congresso de Lausanne, um ano após o 7 de outubro
- A última revista do ano
- Diálogos de Esperança: nova temporada conversa sobre a Igreja e Lausanne 4
- Vem aí "The Connect Faith 2024"