Opinião
- 18 de junho de 2009
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Pilares
Jorge Camargo
A casa onde morei dos 8 aos 25 anos e que frequentei até bem pouco tempo, quando da morte de minha mãe, ficava no fim de uma longa descida. Uma linha de ônibus que passa no local fez com que o proprietário, que nela morava antes de nos mudarmos, construísse quatro pilastras de concreto, fincadas na calçada em frente ao portão. A ideia é que, se algum dia um daqueles ônibus perdesse os freios, não fosse parar na sala de estar...
Nenhum ônibus jamais deixou de fazer a curva, mas os pilares estão lá. Servem como sinais de identificação, pontos de referência, lugar de descanso aos que passam por lá perdidos e, por fim, como colunas protetoras de um perigo possível.
Nossa vida também necessita de pilares de sustentação, que nos marquem, que nos orientem, que nos sirvam de refrigério e que nos protejam.
Não que com eles estejamos imunes aos desencantos, desencontros e descaminhos da existência. Isso tudo faz parte da nossa condição humana.
Se quisermos ser humanos, assim é que é. Se não quisermos, assim será do mesmo jeito.
Quando leio os evangelhos (e também outros textos sagrados), observo que a essência da vida, que são esses pilares que mencionei, é basicamente a mesma: amor a Deus e amor ao próximo.
Nossos alicerces estão lançados sobre estas duas grandes plataformas. Porém, o que significa amar a Deus?
Penso que amá-lo é notá-lo. Constatar sua presença no mundo, no cotidiano, nas expressões artísticas, nas relações em família.
E constatar também sua ausência. “Tu és um Deus que te escondes”, já dizia o erudito profeta hebreu. Ter saudades dos lugares divinos onde nunca estive, de ouvir sua voz orientadora, em busca de equilíbrio, de justeza.
Sua ausência, no entanto, me chama à responsabilidade e à maturidade diante das decisões que tomo e do rumo que dou a minha própria vida.
É, antes de tudo, ter uma atitude de profunda reverência diante do mistério que me envolve, buscar beber dessa fonte inesgotável, obtendo da água de seu conhecimento, sabedoria e beleza os nutrientes capazes de me manter vivo.
E o que quer dizer amar ao próximo?
Observo com tristeza que o mundo onde vivo é um lugar repleto de religiosidade, de observância de dogmas e de doutrinas que, na maioria das vezes, não se traduzem em ações concretas em favor do outro, em prol da vida. A obediência à lei religiosa se sobrepõe à generosidade, à misericórdia, ao perdão e à compaixão. A gente sempre acaba encontrando desculpas de toda ordem para sermos menos generosos, menos misericordiosos, menos perdoadores, menos compassivos. Afinal, já fomos vítimas de pessoas que tripudiaram sobre nosso gesto generoso, que nos enganaram quando demonstramos misericórdia, que ignoraram nosso perdão, que foram insensíveis diante da nossa compaixão.
Esses gestos, essa postura diante da vida, no entanto, é que nos dão chão, força e prumo. Sem eles corremos o risco de passar em branco por este mundo, de vivermos vidas instáveis, insípidas e inconsistentes.
Os pilares aí estão. Feito aquelas pilastras de concreto à porta da casa onde morei.
E que fazem com que eu a tenha guardado no coração, como o lugar onde me tornei quem sou.
• Jorge Camargo, mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor. www.jorgecamargo.com.br
A casa onde morei dos 8 aos 25 anos e que frequentei até bem pouco tempo, quando da morte de minha mãe, ficava no fim de uma longa descida. Uma linha de ônibus que passa no local fez com que o proprietário, que nela morava antes de nos mudarmos, construísse quatro pilastras de concreto, fincadas na calçada em frente ao portão. A ideia é que, se algum dia um daqueles ônibus perdesse os freios, não fosse parar na sala de estar...
Nenhum ônibus jamais deixou de fazer a curva, mas os pilares estão lá. Servem como sinais de identificação, pontos de referência, lugar de descanso aos que passam por lá perdidos e, por fim, como colunas protetoras de um perigo possível.
Nossa vida também necessita de pilares de sustentação, que nos marquem, que nos orientem, que nos sirvam de refrigério e que nos protejam.
Não que com eles estejamos imunes aos desencantos, desencontros e descaminhos da existência. Isso tudo faz parte da nossa condição humana.
Se quisermos ser humanos, assim é que é. Se não quisermos, assim será do mesmo jeito.
Quando leio os evangelhos (e também outros textos sagrados), observo que a essência da vida, que são esses pilares que mencionei, é basicamente a mesma: amor a Deus e amor ao próximo.
Nossos alicerces estão lançados sobre estas duas grandes plataformas. Porém, o que significa amar a Deus?
Penso que amá-lo é notá-lo. Constatar sua presença no mundo, no cotidiano, nas expressões artísticas, nas relações em família.
E constatar também sua ausência. “Tu és um Deus que te escondes”, já dizia o erudito profeta hebreu. Ter saudades dos lugares divinos onde nunca estive, de ouvir sua voz orientadora, em busca de equilíbrio, de justeza.
Sua ausência, no entanto, me chama à responsabilidade e à maturidade diante das decisões que tomo e do rumo que dou a minha própria vida.
É, antes de tudo, ter uma atitude de profunda reverência diante do mistério que me envolve, buscar beber dessa fonte inesgotável, obtendo da água de seu conhecimento, sabedoria e beleza os nutrientes capazes de me manter vivo.
E o que quer dizer amar ao próximo?
Observo com tristeza que o mundo onde vivo é um lugar repleto de religiosidade, de observância de dogmas e de doutrinas que, na maioria das vezes, não se traduzem em ações concretas em favor do outro, em prol da vida. A obediência à lei religiosa se sobrepõe à generosidade, à misericórdia, ao perdão e à compaixão. A gente sempre acaba encontrando desculpas de toda ordem para sermos menos generosos, menos misericordiosos, menos perdoadores, menos compassivos. Afinal, já fomos vítimas de pessoas que tripudiaram sobre nosso gesto generoso, que nos enganaram quando demonstramos misericórdia, que ignoraram nosso perdão, que foram insensíveis diante da nossa compaixão.
Esses gestos, essa postura diante da vida, no entanto, é que nos dão chão, força e prumo. Sem eles corremos o risco de passar em branco por este mundo, de vivermos vidas instáveis, insípidas e inconsistentes.
Os pilares aí estão. Feito aquelas pilastras de concreto à porta da casa onde morei.
E que fazem com que eu a tenha guardado no coração, como o lugar onde me tornei quem sou.
• Jorge Camargo, mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor. www.jorgecamargo.com.br
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