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Pesquisa inédita relata que mulheres cristãs correm duplo risco de perseguição

Por Portas Abertas

Gênero e religião são fatores que agravam a perseguição contra mulheres no mundo

Pela primeira vez, a perseguição às mulheres cristãs (diferente da perseguição a homens) foi examinada pelos analistas da Lista Mundial da Perseguição. A lista, compilada por Portas Abertas, pesquisa mais de 50 países onde os cristãos são mais perseguidos.

A pesquisa Os Perfis de Perseguição de Gênero revela uma surpreendente exploração em múltiplas camadas das vulnerabilidades estruturais das mulheres cristãs: elas são expostas a quase o dobro de fatores de perseguição que os homens cristãos.

O estudo mostra, ainda, que 83% das mulheres em todo o mundo se identificam com um grupo religioso, em comparação a 79% dos homens. Outro dado é que, de todas as fés, o cristianismo é o grupo religioso mais perseguido: cerca de 245 milhões de cristãos experimentam “níveis extremos, severos e altos de perseguição”.

Este ano, a equipe da Lista Mundial da Perseguição pesquisou e concluiu o que poucos, mesmo na igreja livre de perseguição, querem reconhecer: que as complexas pressões que as mulheres cristãs experimentam regularmente são as mais cruéis e bem diferentes do que a que os homens são submetidos.

Durante entrevistas e observação de grupo de mulheres nos mais diversos países, grande número de pressões “comuns” listadas pelas mulheres em relação aos homens é quase significantemente ímpar. Em contextos onde as mulheres já estão em desvantagem, em países em que são obrigadas a se manter à margem da sociedade, as mulheres cristãs são especificamente e mais frequentemente alvo de três táticas de coerção, violência e perseguição: casamento forçado, estupro (muitas vezes coletivo) e outras formas de violência sexual.

Por outro lado, os homens cristãos relataram uma mistura inteiramente diferente de perseguição. Países hostis ao cristianismo perseguem homens cristãos no que se relaciona a trabalho (não existe trabalho para eles ou são submetidos a trabalhos indignos); recrutamento militar ou de milícias (obrigando-os a se alistar a grupos extremistas); e violência física não-sexual (torturas, apedrejamentos, violência de família e comunidade).

Os pesquisadores encontraram um exemplo claro dessa dinâmica de perseguição no Uzbequistão, onde “a submissão total é esperada das mulheres para seus pais e, se casadas, para seus maridos”. A pressão não vem apenas da família, mas também do Estado e, para os fiéis ortodoxos, da Igreja: “Isso as torna mais vulneráveis à perseguição – tanto como cristãs quanto como mulheres que desafiam a ordem existente. Mulheres e meninas cristãs sofrem abusos verbais e físicos, ameaças, espancamentos, detenções, interrogatórios, multas, prisão, perda de emprego, discriminação, excomunhão, prisão domiciliar, casamento forçado, violência familiar e estupro, vergonha, divórcio e perda de bens.

Exemplo dessa violência é a jovem Jamila*, de um país da Ásia Central. Por pertencer a uma família muçulmana muito pobre e dividida (a jovem foi abandonada pelo pai ainda muito cedo e sua mãe casou-se novamente), aos 16 anos ela foi obrigada a se casar com um homem muito mais velho. Ela já era convertida ao cristianismo quando saiu de casa e seu marido, muçulmano, ao descobrir sua nova fé, a espancava e abusava dela diuturnamente: “Ele me batia até que eu perdesse os sentidos”, conta. Após dois anos enfrentando todo tipo de violência e privações, Jamila reuniu coragem e fugiu de casa. Ela conta que a princípio ficou escondida na casa de irmãs de uma igreja secreta que a resgataram das ruas. Com o tempo, e o fim das ameaças do marido à família, ela retornou à casa de sua mãe. Hoje, apesar das marcas físicas e psicológicas deixadas pela violência e perseguição, Jamila retomou sua vida, trabalha como babá e se encontra frequentemente com irmãs da igreja cristã que se reúne secretamente em sua cidade. Ela ainda é perseguida pela família que não aceita sua nova fé.

Qualquer que seja a forma, o objetivo final de toda a perseguição por gênero é destruir comunidades cristãs locais, como mostrado por um relatório detalhado sobre o assunto publicado após o sequestro das garotas do Chibok, na Nigéria, em 2014. Comunidades que têm suas mulheres sequestradas, mortas ou perseguidas são enfraquecidas.

Baseada nos resultados da pesquisa Os Perfis de Perseguição de Gênero, e diante da conclusão perturbadora de que as mulheres cristãs são expostas ao dobro de fatores de perseguição que os homens, Portas Abertas está trabalhando para fortalecer as mulheres perseguidas pela fé, criando campanhas e dispositivos de auxílio principalmente das mais vulneráveis, como viúvas, mulheres solteiras e meninas.

Nota: *Nome alterado por motivo de segurança

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