Opinião
- 12 de setembro de 2008
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Perdão por nascer homem
Marcos Monteiro
Entendo, Odja, que é muito pouco o que queremos fazer: pedir perdão. Lamentavelmente, isso será o máximo que faremos, porque não iremos nos converter e não aprenderemos a nos arrepender (e nem queremos realmente). Não escolhemos nascer homens, mas temos tirado todo o proveito possível dessa desigualdade acidental. A sociedade nos destinou o melhor pedaço, as melhores oportunidades e os maiores privilégios, e nos apossamos disso com certo prazer malévolo.
A maioria de nós nem percebe a injustiça dessa sociedade androcêntrica; a parte que percebe faz muito pouco. Acompanhar as dores específicas dessas mulheres especiais que são vocês duas, Pastora Odja (com concílio) e Pastora Cleide (apesar do concílio), é somente reconhecer as dores generalizadas de todas as mulheres, incluindo as outras pastoras, nesse absurdo mal de ser, como denuncia Gebara e como lembra você.
O esforço de vocês é desumano. Precisam se esforçar dez vezes mais e trabalhar dez vezes mais somente para provar que são iguais a nós, homens. No discipulado de iguais de Jesus Cristo, certamente vocês seriam reconhecidas mais justamente. Aliás, esse título de “pastor” e essas cerimônias conciliares e sacerdotais são típicas do mundo masculino. Em uma sociedade de iguais, talvez prevalecesse aquilo que uma de suas teólogas colocou magistralmente: “A questão talvez não seja ordenar a mulher, mas desordenar o homem”. Essa perspicácia feminina nos incomoda bastante. O amor ao poder parece ter sido nossa principal bandeira, enquanto o poder do amor tem sido a constante demonstração de vocês. Obviamente, muito mais evangélica.
Não iremos lutar contra estruturas, nós homens somos as estruturas. Nós nos apoderamos delas e não abriremos mão facilmente dos nossos privilégios. Nos apossamos do movimento de Jesus, da seleção de textos sagrados, da interpretação dos mesmos e faremos o possível para construir um discurso teológico que nos mantenha no poder, mesmo reconhecendo que as nossas estruturas estão falidas (incrível como repetimos isso inutilmente). Continuaremos repetindo discursos imbecis e piadinhas idiotas, exatamente para mascarar o nosso fracasso, e continuaremos, enquanto possível, nos desviando das questões teológicas mais sérias do nosso tempo.
Não iremos nos arrepender. Em vez de mudar de mentalidade e de atitude prática contra o machismo estrutural que somos nós, estabeleceremos uma série de metas menores e insignificantes para fingir que somos cristãos. Evitaremos sempre a luta contra o mal na base da nossa sociedade: não podemos arriscar nossos privilégios seculares.
Por tudo isso, Odja e Cleide, pessoas humanas que nem precisam de títulos como precisamos, o máximo que podemos fazer é pedir perdão e não mais do que isto. Lamentavelmente, a esperança por um mundo de iguais passa pela luta solitária de vocês, onde não nos terão como parceiros. Continuem a luta. Por incrível que pareça, precisamos de vocês. A libertação das mulheres também significa inevitavelmente a libertação dos homens. Conseguindo, vocês mulheres, se libertar do mal ontológico de ser, nós homens seremos automaticamente libertados do mal ontológico de oprimir.
• Marcos Monteiro é autor de Um Jumentinho na Avenida, vencedor do Prêmio Areté de Literatura 2008 (categoria “Evangelização”). É um dos pastores da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA, e faz parte do colégio pastoral da Primeira Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE.
Entendo, Odja, que é muito pouco o que queremos fazer: pedir perdão. Lamentavelmente, isso será o máximo que faremos, porque não iremos nos converter e não aprenderemos a nos arrepender (e nem queremos realmente). Não escolhemos nascer homens, mas temos tirado todo o proveito possível dessa desigualdade acidental. A sociedade nos destinou o melhor pedaço, as melhores oportunidades e os maiores privilégios, e nos apossamos disso com certo prazer malévolo.
A maioria de nós nem percebe a injustiça dessa sociedade androcêntrica; a parte que percebe faz muito pouco. Acompanhar as dores específicas dessas mulheres especiais que são vocês duas, Pastora Odja (com concílio) e Pastora Cleide (apesar do concílio), é somente reconhecer as dores generalizadas de todas as mulheres, incluindo as outras pastoras, nesse absurdo mal de ser, como denuncia Gebara e como lembra você.
O esforço de vocês é desumano. Precisam se esforçar dez vezes mais e trabalhar dez vezes mais somente para provar que são iguais a nós, homens. No discipulado de iguais de Jesus Cristo, certamente vocês seriam reconhecidas mais justamente. Aliás, esse título de “pastor” e essas cerimônias conciliares e sacerdotais são típicas do mundo masculino. Em uma sociedade de iguais, talvez prevalecesse aquilo que uma de suas teólogas colocou magistralmente: “A questão talvez não seja ordenar a mulher, mas desordenar o homem”. Essa perspicácia feminina nos incomoda bastante. O amor ao poder parece ter sido nossa principal bandeira, enquanto o poder do amor tem sido a constante demonstração de vocês. Obviamente, muito mais evangélica.
Não iremos lutar contra estruturas, nós homens somos as estruturas. Nós nos apoderamos delas e não abriremos mão facilmente dos nossos privilégios. Nos apossamos do movimento de Jesus, da seleção de textos sagrados, da interpretação dos mesmos e faremos o possível para construir um discurso teológico que nos mantenha no poder, mesmo reconhecendo que as nossas estruturas estão falidas (incrível como repetimos isso inutilmente). Continuaremos repetindo discursos imbecis e piadinhas idiotas, exatamente para mascarar o nosso fracasso, e continuaremos, enquanto possível, nos desviando das questões teológicas mais sérias do nosso tempo.
Não iremos nos arrepender. Em vez de mudar de mentalidade e de atitude prática contra o machismo estrutural que somos nós, estabeleceremos uma série de metas menores e insignificantes para fingir que somos cristãos. Evitaremos sempre a luta contra o mal na base da nossa sociedade: não podemos arriscar nossos privilégios seculares.
Por tudo isso, Odja e Cleide, pessoas humanas que nem precisam de títulos como precisamos, o máximo que podemos fazer é pedir perdão e não mais do que isto. Lamentavelmente, a esperança por um mundo de iguais passa pela luta solitária de vocês, onde não nos terão como parceiros. Continuem a luta. Por incrível que pareça, precisamos de vocês. A libertação das mulheres também significa inevitavelmente a libertação dos homens. Conseguindo, vocês mulheres, se libertar do mal ontológico de ser, nós homens seremos automaticamente libertados do mal ontológico de oprimir.
• Marcos Monteiro é autor de Um Jumentinho na Avenida, vencedor do Prêmio Areté de Literatura 2008 (categoria “Evangelização”). É um dos pastores da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA, e faz parte do colégio pastoral da Primeira Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE.
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