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- 12 de julho de 2024
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“Peça-me outra coisa, pois crente eu não quero ser!”
Eu só enxergava loucura naquilo que era adoração. Frequentei a igreja por dois anos sem revelação alguma da graça de Deus
Por Samuel Rêgo
Cresci em um lar católico, fiz o ensino fundamental e médio em uma escola católica, aprendi os valores morais da virtude, fiz eucaristia, crisma e eventualmente frequentava a missa. Tive uma infância e adolescência que considero normais. Mas foi após a faculdade de medicina que muitas mudanças aconteceram em minha vida. A primeira delas foi um senso de liberdade e de busca por “aproveitar” a vida. A tão esperada recompensa pelos duros anos dedicados aos estudos finalmente havia chegado. Nesta época eu gozava de uma autoconfiança muito grande. Sentia-me quase inabalável. Uma grande ânsia de ser o melhor me impulsionava. Poderia fazer o que quisesse, ficar com quem quisesse, ser o que quisesse. Trilhei um caminho de muito sucesso profissional e conquistas materiais. Naquele momento não havia nada de errado com isso e eu continuava seguindo firme sem muitas reflexões sobre o futuro.
Em 2007, decidi me casar. Algum tipo de pensamento moral herdado das idades mais jovens me impeliam a tomar aquela decisão. Nesta época, sem ter uma consciência clara sobre isso, eu já havia trocado a moral baseada em virtudes por uma ética emotivista. Mergulhei fundo no hedonisno e na filosofia carpe diem. Aquelas experiências eram alimentos para a alma e toda a minha vida parecia ter “muito sentido”.
Para permanecer nessa vida de hipocrisia, muitas mentiras foram necessárias. No meio disso tudo meu filho nasceu. Pela primeira vez na vida acho que amei alguém além de mim mesmo. Ainda assim, apesar de algumas mudanças, o ego continuou reinando. Essa jornada seguiu firme até o dia em que decidi pôr fim ao meu casamento. Sentia que correntes haviam me aprisionado e minha vontade era de ser verdadeiramente livre. Não conseguia enxergar que as correntes eram internas e coloquei a culpa no matrimônio – afinal de contas, parecia meio obvio que o casamento realmente aprisiona as pessoas e aquela decisão me pareceu muito acertada, apesar das consequências dolorosas que traria. Segui em frente convicto de que não havia outra opção.
Agora não havia mais a quem culpar, e tive de me defrontar com o vazio que havia dentro de mim. As aventuras cheias de adrenalina já não tinham a mesma graça de antes. Tive uma crise de pânico e passei semanas com o coração agitado. A sensação de normalidade havia se perdido com a quebra da rotina. Acho que nunca me senti tão perdido na vida como naquela época. Mas eu realmente estava perdido, não sabia para onde ir e por isso não fui a lugar algum. Busquei me entorpecer em festas, viagens, novas amizades... mas a cada dia o vazio era maior. Até o dia em que veio o pensamento de que já tinha vivido o suficiente e de que talvez estivesse na hora de encerrar o ciclo. Então, percebi que realmente não estava bem.
Nesse tempo eu não orava, há muitos anos eu já não cria mais em Deus e já tinha experimentado várias religiões que não conseguiram me convencer de que havia uma realidade transcendente. Eu me tornara um materialista inveterado. Não sei como isso aconteceu, pois, quando criança, eu cria em Deus.
Foi então que conheci uma pessoa que viria a ser um elo de transformação profunda em minha vida. Quando a conheci pensei que seria apenas mais uma “presa” nas mãos, ou melhor, nos dentes draculianos. Mas, para o meu próprio bem, eu estava muito enganado. Ela começou a me levar para a igreja e, alguns anos mais tarde, tornou-se minha esposa. Confesso que só ia à igreja porque tinha medo de algum “crente” ficar dando em cima dela. Mas, sinceramente, eu não queria estar ali. Eu olhava para as pessoas durante o culto e lembrava-me dos pacientes internados no hospital psiquiátrico – fiz residência médica em psiquiatria. Eu só enxergava loucura naquilo que era adoração. Frequentei aquele lugar por dois anos sem revelação alguma da graça de Deus.
Mas um dia a voz do Senhor falou claramente ao meu coração: “Está na hora”. Eu estranhei, fiquei curioso com a provocação e respondi: “Hora de quê?”. A voz retrucou: “Você já sabe”. O pior é que eu já sabia mesmo e respondi altivo e cheio de soberba: “Peça-me outra coisa, pois crente eu não quero ser!”. Eu sentia que estava totalmente blindado contra qualquer proposta de conversão religiosa, mas aquela voz sabia que assim como Aquiles, eu tinha um ponto de vulnerabilidade. Não era o calcanhar. A voz apenas disse suavemente: “Você precisa dar o exemplo para seu filho”. Eu não sei o que aconteceu, mas de uma hora para outra é como se eu tivesse conseguido enxergar tudo o que antes eu não via. Percebi que eu já era crente e apenas não sabia disso. Foi uma experiência muito intensa e cheia de significado. Posso afirmar tranquilamente que naquele momento eu nasci de novo. Um mês após esse episódio eu estava descendo nas águas e confirmando a minha total entrega a Cristo, meu Salvador e meu Senhor!
Mas ainda não acabara. Continuei tendo fortes experiências com aquela voz que continuou me conduzindo.
Seis semanas depois que fui batizado, aconteceu o meu casamento. Agora, eu conseguia entender o que estava acontecendo e o significado de uma aliança. Eu não queria mais viver para mim mesmo nem desfrutar de uma vida a sós, centrada nas minhas necessidades. Um dia depois do meu casamento, em um domingo, fomos ao culto, e nesse dia eu senti algo como nunca antes. Era como um fogo no peito queimando por dentro. Falei para dois irmãos que estavam próximos a mim que estava sentindo uma vontade irresistível de orar. Ao que eles disseram: “Vamos orar”. Pela primeira vez na vida orei em público. Sem que eu pudesse entender, no meio da oração, algumas palavras estranhas começaram a sair de minha boca. Eu nunca tinha visto alguém orando assim nem ouvido falar em “línguas estranhas”. Foi somente após aquele evento que os irmãos que estavam comigo explicaram-me que eu havia sido “batizado no Espírito Santo”. Meu batismo aconteceu em maio e esse evento foi no dia 14 de julho de 2019, um dia após o meu casamento.
Desde então, tenho sido fortalecido no Senhor e tenho buscado contemplar sua glória, sendo diariamente transformado por ela.
REVISTA ULTIMATO | PARA QUE SERVE A TEOLOGIA?
A resposta à pergunta “Para que serve a teologia?” revela que ela serve a Deus, exaltando-o como Senhor. Serve a igreja, ajudando-a a conhecer e a adorar seu Deus. Serve o mundo, revelando a verdadeira fonte de sabedoria, beleza, sentido e salvação.
A teologia é resultado de esforço acadêmico e também do convívio singular entre cristãos; envolve profundo estudo, mas também ocorre na singela e comprometida leitura das Escrituras. Depende do Espírito, por isso implica humildade. Ajuda a conhecer a Deus e a amá-lo.
É disso que trata a matéria de capa da edição 408 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» A Pessoa Mais Importante do Mundo, Elben César
» O Discípulo Radical, John Stott
» Culpa e Graça, Paul Tournier
Por Samuel Rêgo
Cresci em um lar católico, fiz o ensino fundamental e médio em uma escola católica, aprendi os valores morais da virtude, fiz eucaristia, crisma e eventualmente frequentava a missa. Tive uma infância e adolescência que considero normais. Mas foi após a faculdade de medicina que muitas mudanças aconteceram em minha vida. A primeira delas foi um senso de liberdade e de busca por “aproveitar” a vida. A tão esperada recompensa pelos duros anos dedicados aos estudos finalmente havia chegado. Nesta época eu gozava de uma autoconfiança muito grande. Sentia-me quase inabalável. Uma grande ânsia de ser o melhor me impulsionava. Poderia fazer o que quisesse, ficar com quem quisesse, ser o que quisesse. Trilhei um caminho de muito sucesso profissional e conquistas materiais. Naquele momento não havia nada de errado com isso e eu continuava seguindo firme sem muitas reflexões sobre o futuro.
Em 2007, decidi me casar. Algum tipo de pensamento moral herdado das idades mais jovens me impeliam a tomar aquela decisão. Nesta época, sem ter uma consciência clara sobre isso, eu já havia trocado a moral baseada em virtudes por uma ética emotivista. Mergulhei fundo no hedonisno e na filosofia carpe diem. Aquelas experiências eram alimentos para a alma e toda a minha vida parecia ter “muito sentido”.
Para permanecer nessa vida de hipocrisia, muitas mentiras foram necessárias. No meio disso tudo meu filho nasceu. Pela primeira vez na vida acho que amei alguém além de mim mesmo. Ainda assim, apesar de algumas mudanças, o ego continuou reinando. Essa jornada seguiu firme até o dia em que decidi pôr fim ao meu casamento. Sentia que correntes haviam me aprisionado e minha vontade era de ser verdadeiramente livre. Não conseguia enxergar que as correntes eram internas e coloquei a culpa no matrimônio – afinal de contas, parecia meio obvio que o casamento realmente aprisiona as pessoas e aquela decisão me pareceu muito acertada, apesar das consequências dolorosas que traria. Segui em frente convicto de que não havia outra opção.
Agora não havia mais a quem culpar, e tive de me defrontar com o vazio que havia dentro de mim. As aventuras cheias de adrenalina já não tinham a mesma graça de antes. Tive uma crise de pânico e passei semanas com o coração agitado. A sensação de normalidade havia se perdido com a quebra da rotina. Acho que nunca me senti tão perdido na vida como naquela época. Mas eu realmente estava perdido, não sabia para onde ir e por isso não fui a lugar algum. Busquei me entorpecer em festas, viagens, novas amizades... mas a cada dia o vazio era maior. Até o dia em que veio o pensamento de que já tinha vivido o suficiente e de que talvez estivesse na hora de encerrar o ciclo. Então, percebi que realmente não estava bem.
Nesse tempo eu não orava, há muitos anos eu já não cria mais em Deus e já tinha experimentado várias religiões que não conseguiram me convencer de que havia uma realidade transcendente. Eu me tornara um materialista inveterado. Não sei como isso aconteceu, pois, quando criança, eu cria em Deus.
Foi então que conheci uma pessoa que viria a ser um elo de transformação profunda em minha vida. Quando a conheci pensei que seria apenas mais uma “presa” nas mãos, ou melhor, nos dentes draculianos. Mas, para o meu próprio bem, eu estava muito enganado. Ela começou a me levar para a igreja e, alguns anos mais tarde, tornou-se minha esposa. Confesso que só ia à igreja porque tinha medo de algum “crente” ficar dando em cima dela. Mas, sinceramente, eu não queria estar ali. Eu olhava para as pessoas durante o culto e lembrava-me dos pacientes internados no hospital psiquiátrico – fiz residência médica em psiquiatria. Eu só enxergava loucura naquilo que era adoração. Frequentei aquele lugar por dois anos sem revelação alguma da graça de Deus.
Mas um dia a voz do Senhor falou claramente ao meu coração: “Está na hora”. Eu estranhei, fiquei curioso com a provocação e respondi: “Hora de quê?”. A voz retrucou: “Você já sabe”. O pior é que eu já sabia mesmo e respondi altivo e cheio de soberba: “Peça-me outra coisa, pois crente eu não quero ser!”. Eu sentia que estava totalmente blindado contra qualquer proposta de conversão religiosa, mas aquela voz sabia que assim como Aquiles, eu tinha um ponto de vulnerabilidade. Não era o calcanhar. A voz apenas disse suavemente: “Você precisa dar o exemplo para seu filho”. Eu não sei o que aconteceu, mas de uma hora para outra é como se eu tivesse conseguido enxergar tudo o que antes eu não via. Percebi que eu já era crente e apenas não sabia disso. Foi uma experiência muito intensa e cheia de significado. Posso afirmar tranquilamente que naquele momento eu nasci de novo. Um mês após esse episódio eu estava descendo nas águas e confirmando a minha total entrega a Cristo, meu Salvador e meu Senhor!
Mas ainda não acabara. Continuei tendo fortes experiências com aquela voz que continuou me conduzindo.
Seis semanas depois que fui batizado, aconteceu o meu casamento. Agora, eu conseguia entender o que estava acontecendo e o significado de uma aliança. Eu não queria mais viver para mim mesmo nem desfrutar de uma vida a sós, centrada nas minhas necessidades. Um dia depois do meu casamento, em um domingo, fomos ao culto, e nesse dia eu senti algo como nunca antes. Era como um fogo no peito queimando por dentro. Falei para dois irmãos que estavam próximos a mim que estava sentindo uma vontade irresistível de orar. Ao que eles disseram: “Vamos orar”. Pela primeira vez na vida orei em público. Sem que eu pudesse entender, no meio da oração, algumas palavras estranhas começaram a sair de minha boca. Eu nunca tinha visto alguém orando assim nem ouvido falar em “línguas estranhas”. Foi somente após aquele evento que os irmãos que estavam comigo explicaram-me que eu havia sido “batizado no Espírito Santo”. Meu batismo aconteceu em maio e esse evento foi no dia 14 de julho de 2019, um dia após o meu casamento.
Desde então, tenho sido fortalecido no Senhor e tenho buscado contemplar sua glória, sendo diariamente transformado por ela.
- Samuel Rego é médico psiquiatra, membro da Associação Brasileira do Sono e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e vice-presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Piauí (SIMEPI).
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A resposta à pergunta “Para que serve a teologia?” revela que ela serve a Deus, exaltando-o como Senhor. Serve a igreja, ajudando-a a conhecer e a adorar seu Deus. Serve o mundo, revelando a verdadeira fonte de sabedoria, beleza, sentido e salvação.
A teologia é resultado de esforço acadêmico e também do convívio singular entre cristãos; envolve profundo estudo, mas também ocorre na singela e comprometida leitura das Escrituras. Depende do Espírito, por isso implica humildade. Ajuda a conhecer a Deus e a amá-lo.
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