Opinião
- 11 de outubro de 2021
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Paz seja nessa rede
“Paz seja nessa casa” (Lc 10.5) deve ser o nosso cartão de visitas, em qualquer ambiente, virtual ou físico
Por Marcos Simas
De acordo com o Global Digital Overview 2020, cada usuário da internet fica, em média, 100 dias por ano conectado, ou 7 horas diárias. Considerando que a média de sono de uma pessoa é de 7 a 8 horas, isso implica dizer que atualmente passamos quase metade do nosso tempo acordado navegando pela internet. Ao longo de uma semana, teremos passado ao menos dois dias inteiros conectados. Mas esses dados se referem à média mundial.
Com as redes sociais digitais entramos e saímos de ambientes físicos para virtuais e vice-versa sem perceber qualquer diferença.
Os brasileiros estão em segundo lugar no ranking global de permanência já que passam, atualmente, uma média de 10 horas e 08 minutos conectados (entre 10 e 64 anos). E mais, por aqui usuários de mídias sociais chegam a 150 milhões de pessoas (cerca de 70,3% do total de habitantes), com média de uso de 3h42min, com tendência de aumento com a consolidação do TikTok, por causa de seu sucesso recente entre celebridades e jovens. Essas mídias sociais estão de variadas formas afetando e alterando experiências da vida humana, inclusive as relações pessoais, o trabalho, e até a religião.
Não faz muito tempo que a maior parte de nossos relacionamentos ocorria entre aqueles com os quais interagíamos em um único ambiente físico-espacial, com pessoas que viviam em nosso mesmo tempo cultural. E, ainda que houvesse divergências e conflitos, nossas proximidades físicas e culturais nos conduziam naturalmente à uma convivência com menos pessoas, que em geral pensavam como nós. Hoje, com as redes sociais digitais cada vez mais fazendo parte de nossas vidas, entramos e saímos de ambientes físicos para virtuais e vice-versa, sem perceber qualquer diferença.
Os muitos “amigos” conquistados nas redes sociais são uma grande ilusão, ainda que sempre seja possível construir algo real e duradouro nesse mundo fluído em que vivemos.
Mas, como diferenciar entre a realidade física e a virtual em um tempo quando tudo, por ser tão próximo e interdependente, se funde e se entremeia? Inicialmente é preciso delimitarmos a proximidade e similaridade atual entre espaço físico e a “virtualidade real”, termo cunhado pelo sociólogo Manuel Castells, para quem a sociedade em rede nos permite conviver em duas esferas de espaço: o real-físico e o virtual-real. Segundo ele, hoje vivemos essa dupla realidade onde nossas convivências nas redes sociais transitam entre “ambientes” diferentes e simultâneos e isso nos confunde a todos, a ponto de não mais percebermos, em determinados momentos da vida, onde começa e onde termina esse espaço de relacionamentos, e muitos de nós agimos nesse ambiente de “virtualidade real” de tal forma que perdemos a noção de localidade e até de localização. Por isso, hoje nossos relacionamentos estão para além do espaço físico ao nosso redor e das relações pessoais fisicamente próximas que mantemos. Os muitos “amigos” conquistados nas redes sociais são na verdade uma grande ilusão que não condiz com a verdade dos fatos já que relacionamentos são criados, experimentados e aprovados pelo tempo e pela convivência, e a instantaneidade da grande rede não nos dá esse privilégio, ainda que sempre seja possível construir algo real e duradouro nesse mundo fluído em que vivemos.
Vale lembrar que as relações nesse ambiente virtual são de “virtualidade real”, ou seja, afetam relacionamentos reais de forma real, ainda que em um ambiente diferenciado e novo. E nessa “virtualidade real” entramos a todo momento na “casa” de pessoas através das mensagens, imagens e conteúdos que repassamos, comentamos, gostamos (likes) ou apenas concordamos. Por isso, não podemos esquecer que, com quem quer que convivamos, e qualquer que seja o “ambiente”, é preciso ter em mente o que Jesus orientou aos setenta discípulos, quando os enviou como cordeiros no meio de lobos para pregar em cada cidade por onde ele ainda iria passar, para que primeiro dissessem: “Paz seja nesta casa” (Lucas 10.5). Essa oportunidade de apresentar um “cartão de visitas” de quem somos e a que reino pertencemos, antes de falar da mensagem de salvação, é preciosa e não pode ser desprezada. Essa shalom (eiréne em grego) é uma palavra abençoadora em nome de Yahweh que significa também tranquilidade, segurança, bem-estar, saúde, contentamento, sucesso, conforto, plenitude e integridade. Assim, que as nossas palavras ao entramos em qualquer ambiente virtual sejam sempre “Paz seja nesta rede”: de amigos, de inimigos, de familiares, de colegas de trabalho, de irmãos na fé, de adeptos de outra fé, de opositores, de partidários, de iguais, de diferentes, de todos.
• Marcos Simas é doutor em ciências da religião, e por mais de trinta anos tem atuado como editor responsável em mais de 600 projetos editoriais. Por quase dez anos foi publisher e editor-chefe da revista Christianity Today em língua portuguesa.
Leia mais:
» As redes sociais e os irmãos de carne e osso
» Sete dicas para responder e comentar nas redes sociais
Por Marcos Simas
De acordo com o Global Digital Overview 2020, cada usuário da internet fica, em média, 100 dias por ano conectado, ou 7 horas diárias. Considerando que a média de sono de uma pessoa é de 7 a 8 horas, isso implica dizer que atualmente passamos quase metade do nosso tempo acordado navegando pela internet. Ao longo de uma semana, teremos passado ao menos dois dias inteiros conectados. Mas esses dados se referem à média mundial.
Com as redes sociais digitais entramos e saímos de ambientes físicos para virtuais e vice-versa sem perceber qualquer diferença.
Os brasileiros estão em segundo lugar no ranking global de permanência já que passam, atualmente, uma média de 10 horas e 08 minutos conectados (entre 10 e 64 anos). E mais, por aqui usuários de mídias sociais chegam a 150 milhões de pessoas (cerca de 70,3% do total de habitantes), com média de uso de 3h42min, com tendência de aumento com a consolidação do TikTok, por causa de seu sucesso recente entre celebridades e jovens. Essas mídias sociais estão de variadas formas afetando e alterando experiências da vida humana, inclusive as relações pessoais, o trabalho, e até a religião.
Não faz muito tempo que a maior parte de nossos relacionamentos ocorria entre aqueles com os quais interagíamos em um único ambiente físico-espacial, com pessoas que viviam em nosso mesmo tempo cultural. E, ainda que houvesse divergências e conflitos, nossas proximidades físicas e culturais nos conduziam naturalmente à uma convivência com menos pessoas, que em geral pensavam como nós. Hoje, com as redes sociais digitais cada vez mais fazendo parte de nossas vidas, entramos e saímos de ambientes físicos para virtuais e vice-versa, sem perceber qualquer diferença.
Os muitos “amigos” conquistados nas redes sociais são uma grande ilusão, ainda que sempre seja possível construir algo real e duradouro nesse mundo fluído em que vivemos.
Mas, como diferenciar entre a realidade física e a virtual em um tempo quando tudo, por ser tão próximo e interdependente, se funde e se entremeia? Inicialmente é preciso delimitarmos a proximidade e similaridade atual entre espaço físico e a “virtualidade real”, termo cunhado pelo sociólogo Manuel Castells, para quem a sociedade em rede nos permite conviver em duas esferas de espaço: o real-físico e o virtual-real. Segundo ele, hoje vivemos essa dupla realidade onde nossas convivências nas redes sociais transitam entre “ambientes” diferentes e simultâneos e isso nos confunde a todos, a ponto de não mais percebermos, em determinados momentos da vida, onde começa e onde termina esse espaço de relacionamentos, e muitos de nós agimos nesse ambiente de “virtualidade real” de tal forma que perdemos a noção de localidade e até de localização. Por isso, hoje nossos relacionamentos estão para além do espaço físico ao nosso redor e das relações pessoais fisicamente próximas que mantemos. Os muitos “amigos” conquistados nas redes sociais são na verdade uma grande ilusão que não condiz com a verdade dos fatos já que relacionamentos são criados, experimentados e aprovados pelo tempo e pela convivência, e a instantaneidade da grande rede não nos dá esse privilégio, ainda que sempre seja possível construir algo real e duradouro nesse mundo fluído em que vivemos.
Vale lembrar que as relações nesse ambiente virtual são de “virtualidade real”, ou seja, afetam relacionamentos reais de forma real, ainda que em um ambiente diferenciado e novo. E nessa “virtualidade real” entramos a todo momento na “casa” de pessoas através das mensagens, imagens e conteúdos que repassamos, comentamos, gostamos (likes) ou apenas concordamos. Por isso, não podemos esquecer que, com quem quer que convivamos, e qualquer que seja o “ambiente”, é preciso ter em mente o que Jesus orientou aos setenta discípulos, quando os enviou como cordeiros no meio de lobos para pregar em cada cidade por onde ele ainda iria passar, para que primeiro dissessem: “Paz seja nesta casa” (Lucas 10.5). Essa oportunidade de apresentar um “cartão de visitas” de quem somos e a que reino pertencemos, antes de falar da mensagem de salvação, é preciosa e não pode ser desprezada. Essa shalom (eiréne em grego) é uma palavra abençoadora em nome de Yahweh que significa também tranquilidade, segurança, bem-estar, saúde, contentamento, sucesso, conforto, plenitude e integridade. Assim, que as nossas palavras ao entramos em qualquer ambiente virtual sejam sempre “Paz seja nesta rede”: de amigos, de inimigos, de familiares, de colegas de trabalho, de irmãos na fé, de adeptos de outra fé, de opositores, de partidários, de iguais, de diferentes, de todos.
• Marcos Simas é doutor em ciências da religião, e por mais de trinta anos tem atuado como editor responsável em mais de 600 projetos editoriais. Por quase dez anos foi publisher e editor-chefe da revista Christianity Today em língua portuguesa.
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