Opinião
- 02 de setembro de 2016
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Pátria amada, idolatrada?
“Torci em silêncio porque temi que eles não entendessem que eu torcia pelo Uruguai. Claro que eu não teria problemas se o Brasil ganhasse, mas eu preferia o Uruguai”. Foi assim que uma de minhas filhas me revelou seu conflito interior. Parece ser algo comum entre aqueles que moram em diferentes países ao longo de sua vida. Costuma ser bem difícil responder a perguntas razoavelmente simples como “de onde você vem?”, “onde é casa para você?”, “qual é a tua pátria?”.
A experiência em família de ter vivido em 6 cidades de 3 diferentes países nos últimos 20 anos certamente nos levou a ter perspectivas diferentes, às vezes conflitivas, sobre as paixões que levam alguém a exaltar sua terra em detrimento das demais. Creio que foi C. S. Lewis quem disse algo sobre o nacionalismo ser uma coisa boa até o momento em que se restringe a amar sua própria terra natal, e bastante nocivo quando significa um desprezo ou ódio pela terra estrangeira.
Amar sua terra só faz sentido quando você também respeita e afirma o direito daquele que ama seu próprio rincão, identidade e cultura. Aliás, a beleza de um lugar só pode ser verdadeiramente apreciada à luz da diferença, do contraste, da beleza do mosaico complexo de nossas diferentes realidades. Triste, muito triste, é aquele que precisa diminuir o que é do outro para encontrar valor no que é seu.
Você poderia dizer, imagino, que para aqueles com uma fé no porvir, no que ainda chegará em outra realidade mais além, que essa seria uma discussão um tanto mesquinha. Nem aqui nem acolá, porque o que importa ainda virá. Somos cidadãos do céu (se bem que uma expressão mais apropriada seria “novos céus e nova terra”), assim que, nessa lógica, de que valeria preocupar-se ou valorizar essas realidades locais que um dia passarão? Há muito o que conversar sobre aspectos das escatologias que vagueiam por aí, sem o espaço para fazê-lo aqui. Sim lhes recomendo, se me permitem a sugestão, que leiam mais sobre as perspectivas que afirmam que o belo, o justo, o criativo, o maravilhoso, serão preservados e luzirão na nova realidade que ainda está por vir.
Por agora pensemos brevemente nessas oposições de cidadanias que nos fazem desprezar a sua pátria aqui, ou a pátria dos demais. Caso você tenha fé no Criador, primeiro apelo para o desafio de conhecer, estudar, descobrir as digitais de Deus na criação, através da complexidade e riqueza de cada povo, língua e nação. Leia mais, se possível visite outros lugares, aprenda outro idioma. Dê um passo além e veja o quão belo e desafiador é aprender a ver as coisas desde outra perspectiva. Se fazes bem a tarefa, uma possível e esperada boa consequência é que virás a apreciar mais o que lhe é peculiar e típico de seu próprio lugar. Melhor ainda, sem precisar comparar negativamente e diminuir o dos demais.
Em segundo lugar, te animo a que sejas responsável com a tua terra, o teu povo, a tua nação. Faria muito pouco sentido querer atuar nas grandes causas do mundo, nas crises mundiais, nas tragédias globais, ao mesmo tempo em que não se interesse minimamente com o bem-estar de seu vizinho, com o cuidado e a prosperidade da tua cidade, com a justiça correndo como um rio caudaloso em tua nação. Uma preocupação alimenta a outra, deveriam sempre ser complementares. Assim como o são as cidadanias celestiais (para os que tem fé) e as prosaicas cidadanias terrenais. Se uma não se corresponde com e não influencia a outra, algo está errado com uma, com a outra, ou com ambas.
Assim deveriam ser esses encadeamentos. Amar tua pátria celestial te leva a amar tua pátria terrenal. Ter esperança no que ainda vem te conduz a cumprir responsavelmente com os deveres de bons mordomos que cultivam as leis, a justiça e o “shalom” no lugar onde estão. Afirmar e defender a beleza do que é teu sempre deve te levar a proteger o direito do diferente e do estrangeiro a declarar e revelar a beleza do que lhe é próprio.
Não, não é preciso torcer em silêncio ao apreciar a beleza de teu vizinho, de perto ou de longe. Pátria amada aqui, pátria amada lá, pátria que ainda virá, pátria já apreciada e desfrutada, quando ela está, misteriosamente, em todo lugar.
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Foto: Arquivo/ABr
A experiência em família de ter vivido em 6 cidades de 3 diferentes países nos últimos 20 anos certamente nos levou a ter perspectivas diferentes, às vezes conflitivas, sobre as paixões que levam alguém a exaltar sua terra em detrimento das demais. Creio que foi C. S. Lewis quem disse algo sobre o nacionalismo ser uma coisa boa até o momento em que se restringe a amar sua própria terra natal, e bastante nocivo quando significa um desprezo ou ódio pela terra estrangeira.
Amar sua terra só faz sentido quando você também respeita e afirma o direito daquele que ama seu próprio rincão, identidade e cultura. Aliás, a beleza de um lugar só pode ser verdadeiramente apreciada à luz da diferença, do contraste, da beleza do mosaico complexo de nossas diferentes realidades. Triste, muito triste, é aquele que precisa diminuir o que é do outro para encontrar valor no que é seu.
Você poderia dizer, imagino, que para aqueles com uma fé no porvir, no que ainda chegará em outra realidade mais além, que essa seria uma discussão um tanto mesquinha. Nem aqui nem acolá, porque o que importa ainda virá. Somos cidadãos do céu (se bem que uma expressão mais apropriada seria “novos céus e nova terra”), assim que, nessa lógica, de que valeria preocupar-se ou valorizar essas realidades locais que um dia passarão? Há muito o que conversar sobre aspectos das escatologias que vagueiam por aí, sem o espaço para fazê-lo aqui. Sim lhes recomendo, se me permitem a sugestão, que leiam mais sobre as perspectivas que afirmam que o belo, o justo, o criativo, o maravilhoso, serão preservados e luzirão na nova realidade que ainda está por vir.
Por agora pensemos brevemente nessas oposições de cidadanias que nos fazem desprezar a sua pátria aqui, ou a pátria dos demais. Caso você tenha fé no Criador, primeiro apelo para o desafio de conhecer, estudar, descobrir as digitais de Deus na criação, através da complexidade e riqueza de cada povo, língua e nação. Leia mais, se possível visite outros lugares, aprenda outro idioma. Dê um passo além e veja o quão belo e desafiador é aprender a ver as coisas desde outra perspectiva. Se fazes bem a tarefa, uma possível e esperada boa consequência é que virás a apreciar mais o que lhe é peculiar e típico de seu próprio lugar. Melhor ainda, sem precisar comparar negativamente e diminuir o dos demais.
Em segundo lugar, te animo a que sejas responsável com a tua terra, o teu povo, a tua nação. Faria muito pouco sentido querer atuar nas grandes causas do mundo, nas crises mundiais, nas tragédias globais, ao mesmo tempo em que não se interesse minimamente com o bem-estar de seu vizinho, com o cuidado e a prosperidade da tua cidade, com a justiça correndo como um rio caudaloso em tua nação. Uma preocupação alimenta a outra, deveriam sempre ser complementares. Assim como o são as cidadanias celestiais (para os que tem fé) e as prosaicas cidadanias terrenais. Se uma não se corresponde com e não influencia a outra, algo está errado com uma, com a outra, ou com ambas.
Assim deveriam ser esses encadeamentos. Amar tua pátria celestial te leva a amar tua pátria terrenal. Ter esperança no que ainda vem te conduz a cumprir responsavelmente com os deveres de bons mordomos que cultivam as leis, a justiça e o “shalom” no lugar onde estão. Afirmar e defender a beleza do que é teu sempre deve te levar a proteger o direito do diferente e do estrangeiro a declarar e revelar a beleza do que lhe é próprio.
Não, não é preciso torcer em silêncio ao apreciar a beleza de teu vizinho, de perto ou de longe. Pátria amada aqui, pátria amada lá, pátria que ainda virá, pátria já apreciada e desfrutada, quando ela está, misteriosamente, em todo lugar.
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Pátria amada, idolatrada, questionada
A Igreja, o País e o Mundo
Pastorais para o Brasil – diálogo e reconciliação em tempos de crise
Ser Evangélico sem deixar de ser Brasileiro
Foto: Arquivo/ABr
É casado com Ruth e pai de Ana Júlia e Carolina. Integra o corpo pastoral da Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo (SP), serve globalmente como secretário adjunto para o engajamento com as Escrituras na IFES (International Fellowship of Evangelical Students) e também apoia a equipe da IFES América Latina.
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