Opinião
- 28 de abril de 2009
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Páscoa: creio na ressurreição dos mortos
Derval Dasilio
Sou crente, sabiam? Mas discuto o que se diz sobre a ressurreição do Senhor, sem conformar-me com o engodo biológico, ou “arqueológico”, que expõe sua ressurreição como parte fossilizada da cruz. As relíquias da crucificação, como o Santo Sudário e os túmulos revirados, de longe nos afastaram do sentido original que os primeiros cristãos experimentaram. Cristo vive, apesar da “re-crucificação” cotidiana e do esforço de religiosos de fossilizar a memória da ressurreição! Não sabendo acolher a vida biológica como dom divino, um dado natural na existência dos seres comuns, cuja mortalidade constitui-se na multiplicação da vida (“Se o grão não morre, não produz frutos!” Jo 12.33), a destruição da vida identifica a ênfase de nosso tempo em diluir as referências da verdadeira Páscoa cristã: ressurreição e vida plena para todos, como sinais de ressurreição pelo perdão e reconciliação com Deus (Cl 3.1-3).
Karl Barth, destacado teólogo protestante, disse que a ressurreição de Cristo, enquanto um processo de destruição da morte, também afirma a vida eterna (“éon”), já experimentada no mundo presente. A ressurreição é um fato que transforma tudo em vida nova e abundante. A Páscoa é a novidade de um novo tempo, um novo mundo, em razão da ressurreição do homem Jesus. Uma nova vida começa, o “guia” vitorioso sobre a morte exemplifica. Cristo vive! Os primeiros cristãos viram não apenas a continuação sobrenatural da vida anterior, mas também uma vida completa, em plenitude, na ressurreição. A própria vida, social ou religiosa, ressurge da morte.
Teilhard Chardin escreveu: "Algum dia, quando tivermos dominado os ventos, as ondas, as marés e a gravidade, utilizaremos as energias do amor. Então, pela segunda vez na história do mundo, o homem descobrirá o fogo". Uma nova consciência do mundo comunicando-se, como o Espírito Santo em Pentecostes, na história humana como evolução do simples para o múltiplo, do particular para o comum, do morto para o vivo, nas formas mais complexas da consciência viva. Mas o sábio e interessantíssimo pensador não chegou a deparar-se com intervenções da bioética, ocorridas décadas depois de sua morte. Nem mesmo pressentiu a descoberta do DNA, quando se desvendou segredos hereditários. Transplantes, clonagem, células tronco, pelos quais é possível corrigir defeitos até recentemente considerados irreversíveis, adiando a morte, são ressuscitações comuns nos nossos dias. Não se referem à ressurreição do corpo, como afirma o Credo cristão. Como associar o corpo com esses fatos?
Com fé no progresso humano, Teilhard não percebe a dubiedade da própria evolução. Enfim, genocídios, e não só dos judeus sob o nazismo, são considerados aqui. Populações indígenas, astecas, incas, maias, guaranis; negros trazidos da África (padecendo sob colonizadores cristãos) foram vítimas de genocídio. Em suas cartas, durante a 1ª Guerra Mundial, Teillard se esforçou por convencer seus amigos abalados por massacres cristãos de irmãos a uma compreensão positiva da guerra: “A guerra é uma contribuição honrosa para a evolução natural”. Não imaginou que evolução também significa “seleção” da espécie humana (Jürgen Moltmann).
Evolução, desse modo, é uma espécie de execução biológica, “sentença do forte sobre o mundo no fraco”, excluindo-se o doente, o faminto, o incapaz, fadados ao desaparecimento. Que mérito existe na alternativa evolutiva? Quando o homem assume esta função, ele chega rápido à “eutanásia” (eliminação de vida indigna, do fraco, deficiente, diferente). Esquecemo-nos do Senhor ressuscitado, tipológica e analogicamente também um fraco e oprimido. O Filho do Homem é um homem que sofre todas as dores. Sem a ressurreição pascal, passamos a desejar o mundo seletivo dos bem-sucedidos e bem-postos na vida. E por que, em seu mundo sem dor, se importariam com a ressurreição?
• Derval Dasilio é pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil.
Sou crente, sabiam? Mas discuto o que se diz sobre a ressurreição do Senhor, sem conformar-me com o engodo biológico, ou “arqueológico”, que expõe sua ressurreição como parte fossilizada da cruz. As relíquias da crucificação, como o Santo Sudário e os túmulos revirados, de longe nos afastaram do sentido original que os primeiros cristãos experimentaram. Cristo vive, apesar da “re-crucificação” cotidiana e do esforço de religiosos de fossilizar a memória da ressurreição! Não sabendo acolher a vida biológica como dom divino, um dado natural na existência dos seres comuns, cuja mortalidade constitui-se na multiplicação da vida (“Se o grão não morre, não produz frutos!” Jo 12.33), a destruição da vida identifica a ênfase de nosso tempo em diluir as referências da verdadeira Páscoa cristã: ressurreição e vida plena para todos, como sinais de ressurreição pelo perdão e reconciliação com Deus (Cl 3.1-3).
Karl Barth, destacado teólogo protestante, disse que a ressurreição de Cristo, enquanto um processo de destruição da morte, também afirma a vida eterna (“éon”), já experimentada no mundo presente. A ressurreição é um fato que transforma tudo em vida nova e abundante. A Páscoa é a novidade de um novo tempo, um novo mundo, em razão da ressurreição do homem Jesus. Uma nova vida começa, o “guia” vitorioso sobre a morte exemplifica. Cristo vive! Os primeiros cristãos viram não apenas a continuação sobrenatural da vida anterior, mas também uma vida completa, em plenitude, na ressurreição. A própria vida, social ou religiosa, ressurge da morte.
Teilhard Chardin escreveu: "Algum dia, quando tivermos dominado os ventos, as ondas, as marés e a gravidade, utilizaremos as energias do amor. Então, pela segunda vez na história do mundo, o homem descobrirá o fogo". Uma nova consciência do mundo comunicando-se, como o Espírito Santo em Pentecostes, na história humana como evolução do simples para o múltiplo, do particular para o comum, do morto para o vivo, nas formas mais complexas da consciência viva. Mas o sábio e interessantíssimo pensador não chegou a deparar-se com intervenções da bioética, ocorridas décadas depois de sua morte. Nem mesmo pressentiu a descoberta do DNA, quando se desvendou segredos hereditários. Transplantes, clonagem, células tronco, pelos quais é possível corrigir defeitos até recentemente considerados irreversíveis, adiando a morte, são ressuscitações comuns nos nossos dias. Não se referem à ressurreição do corpo, como afirma o Credo cristão. Como associar o corpo com esses fatos?
Com fé no progresso humano, Teilhard não percebe a dubiedade da própria evolução. Enfim, genocídios, e não só dos judeus sob o nazismo, são considerados aqui. Populações indígenas, astecas, incas, maias, guaranis; negros trazidos da África (padecendo sob colonizadores cristãos) foram vítimas de genocídio. Em suas cartas, durante a 1ª Guerra Mundial, Teillard se esforçou por convencer seus amigos abalados por massacres cristãos de irmãos a uma compreensão positiva da guerra: “A guerra é uma contribuição honrosa para a evolução natural”. Não imaginou que evolução também significa “seleção” da espécie humana (Jürgen Moltmann).
Evolução, desse modo, é uma espécie de execução biológica, “sentença do forte sobre o mundo no fraco”, excluindo-se o doente, o faminto, o incapaz, fadados ao desaparecimento. Que mérito existe na alternativa evolutiva? Quando o homem assume esta função, ele chega rápido à “eutanásia” (eliminação de vida indigna, do fraco, deficiente, diferente). Esquecemo-nos do Senhor ressuscitado, tipológica e analogicamente também um fraco e oprimido. O Filho do Homem é um homem que sofre todas as dores. Sem a ressurreição pascal, passamos a desejar o mundo seletivo dos bem-sucedidos e bem-postos na vida. E por que, em seu mundo sem dor, se importariam com a ressurreição?
• Derval Dasilio é pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil.
É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
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