Opinião
- 12 de abril de 2022
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Cristo nossa Páscoa foi imolado, ressuscitou como disse, aleluia!
Por Luiz Fernando dos Santos
“Não tenham medo”, disse ele. “Vocês estão procurando Jesus, o Nazareno, que foi crucificado. Ele ressuscitou! Não está aqui. Vejam o lugar onde o haviam posto” (Mc 16.6).
O título desta pastoral (Pascha nostrum immolatus est Christus. Resurrexit sicut dixit, Alleluia!) é a junção de duas belíssimas antífonas da antiquíssima tradição litúrgica da igreja cristã. Traduzidas livremente, dizem algo assim: Cristo nossa Páscoa foi imolado, ressuscitou como disse, aleluia! É o mais perfeito sumário das celebrações pascais, pois de fato, Cristo, o nosso cordeiro pascal, foi imolado. Como nosso substituto e dando pleno e verdadeiro sentido e eficácia aos sacrifícios da antiga dispensação, Cristo se oferece como oferta pelos nossos pecados e essa oferta ele faz por nós, em nosso favor, mas não para aí. Ele também nos substitui no madeiro.
A cruz não foi preparada para ele, pensada nele, mas para nós, pensada em nós, malfeitores, cruéis e pecadores inveterados. Abraçando livremente a paixão, ele o faz em nosso lugar e carrega sobre si as nossas enfermidades e iniquidades e recebe em seu corpo o castigo que deveria ser descarregado sobre nós. Na liturgia de sua crucifixão, a um só tempo, Jesus é sacerdote, altar e cordeiro. É o ofertante, sobre ele a oferta e sacrificada e ele mesmo é o sacrifício. O Pai aceita nos céus o holocausto do Cordeiro amado e desvia de nós a sua ira e assim, nos recebe de volta em seu seio.
Mas, o sacrifício de sua vida física, sua morte real não conta toda a história. Ele ressuscitou ao terceiro dia, como havia dito, sua ressurreição física, histórica é real, aconteceu de fato. A ressurreição de Cristo é a primícia e ao mesmo tempo, o penhor da nossa ressurreição. O seu corpo agora glorificado é uma prova antecipada do que acontecerá também com esse nosso pobre corpo mortal. Um dia, seremos como ele é agora e o contemplaremos face a face. Muitas outras mensagens podem derivar das festas pascais, como o desejo de que todas as coisas sejam renovadas, que as marcas da cultura a morte desapareçam da sociedade, que os homens se reconciliem, que as guerras cessem de uma vez, que o perdão seja estendido a todos de maneira incondicional, como o da cruz. Entretanto, a igreja nunca poderá deixar de confessar e professar na liturgia, à luz das Escrituras, esse mistério que é o centro estruturante da nossa fé: Cristo Ressuscitou! Sem que esta verdade seja proclamada e ensinada, crida, vivida e celebrada, não há cristianismo autêntico, não há evangelho poderoso, não há esperança que se imponha ao caos do mundo.
A ressurreição de Cristo é o centro do universo criado e o eixo central da história dos homens e o ponto culminante da revelação bíblica. Vivemos dias estranhos na igreja. Os males do mundo são agravados quando a igreja muda ou perde o foco da sua mensagem.
O ‘evangelho’ da prosperidade, do bem-estar, do ‘coach’ não é mais perigoso do que o ‘evangelho’ das causas sociais, do engajamento político, da teologia inclusiva. Infelizmente não há lugar nessa pastoral para dizer que há espaço, em certa e equilibrada medida, de levarmos os homens a considerarem que a vida na Aliança acarreta toda sorte de bênçãos, materiais e psicológicas, inclusive. Há também espaço para uma teologia encarnada e comprometida com a justiça e a transformação da sociedade e a luta em favor dos marginalizados. Mas, essas são mensagens, ensinamentos derivados da mensagem central, irredutível e inegociável da ressurreição de Cristo. Essa proclamação está esculpida nas Escrituras de Gênesis a Apocalipse e é dramatizada nos sacramentos, de maneira que no batismo participamos da morte e ressurreição de Jesus e na Ceia, recordamos a sua paixão, anunciamos a sua morte, proclamamos a sua ressurreição e juntos, ceamos, aguardando a sua volta gloriosa.
A Igreja, em si mesma, é um poderoso sinal da ressurreição de Cristo em meio as mortes do mundo. Ela é o sinal sacramental da humanidade redimida e que desde agora, já vive as primícias da ressurreição enquanto aguarda a transfiguração do seu corpo.
Que as celebrações destes dias pascais nos encorajem a um retorno e a um apego mais deliberado de fazermos da mensagem da cruz e do túmulo vazio o centro da nossa pregação, a verdade mais desconcertante que um homem possa ouvir e a maior bênção que a igreja possa comunicar ao mundo. Como ensina o apóstolo: “...se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como também é inútil a fé que vocês têm. E, se Cristo não ressuscitou, inútil é a fé que vocês têm, e ainda estão em seus pecados” (1Co 15.14,17). Feliz e santa Páscoa da ressurreição de Jesus Cristo para todos!
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Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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