Opinião
- 25 de julho de 2022
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Para medir a temperatura da igreja
Por Luiz Fernando dos Santos
“Nunca lhes falte o zelo, sejam fervorosos no espírito, sirvam ao Senhor” (Romanos 12.11).
O livro do Apocalipse usa o vocabulário ‘térmico’ para descrever a vida espiritual da igreja: “Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente!” (Apocalipse 3.15). O Senhor Jesus também de igual modo, ao falar do amor dos homens: “Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará” (Mateus 24.12). Por essas duas passagens, de contextos distintos e autores diferentes, podemos concluir que o cristão e a igreja correm mesmo o perigo de verem despencar de uma hora para a outra a temperatura da sua espiritualidade, do seu compromisso e do seu entusiasmo pelas coisas de Deus. Todavia, tanto individual como comunitariamente, os discípulos de Cristo devem vigiar para que essas oscilações não sejam constantes e que menos ainda, perdurem por muito tempo. Mornidão e frieza não são condições climáticas apropriadas para a igreja cumprir a sua missão.
Precisamos identificar quais eventualidades que costumam influenciar no clima da comunidade cristã. Seguramente, a relação com a liderança é uma dessas condições e das mais habituais. Aqui, o quadro pode ser muito variado. Decepção, relação marcada por tensões, escândalo, truculência etc. Mas, é possível que a perda de um pastor, de um líder carismático ou modelar, por motivos difíceis de serem explicados, podem muito bem jogar um balde de água fria no fervor da comunidade. Ainda mais se essa comunidade for de alguma maneira muito dependente da liderança do seu pastor.
Uma outra realidade que costuma jogar para baixo a temperatura são as disputas internas por controle, poder e proeminência entre os irmãos. Um espírito competitivo, apegos muito ciosos a cargos e o desejo de se estar em evidência, contribuem decisivamente para que o ardor ministerial e a caridade diminuam. Pecados não tratados, escândalos públicos, e uma seletiva aplicação da disciplina eclesiástica sob o mote: ‘para os amigos, tudo, para os outros, a lei’, isto é, uma ‘justiça’ seletiva, também esfriam a igreja.
Outra causa de fortes oscilações nessa temperatura tem a ver com a má formação e a rasa preparação dos oficiais presbíteros e diáconos, dos professores de Escola Dominical e um espírito de contínua improvisação e absoluta falta de planejamento por parte do pastor. Quando essa realidade se impõe, aí temos uma tempestade perfeita, pois a comunidade não tem convicções, identidade, senso de missão e direção. É uma nau à deriva, o que gera muito abatimento.
Uma igreja se esfria também quando arrefece o ardor evangelístico, quando não se move em direção aos de fora, quando não leva o Evangelho aos incrédulos e não testemunha de Cristo de maneira concreta e comprometida onde há alienação, miséria e desumanidade. Sempre que a comunidade dos discípulos vive ‘autocentrada’, gasta a maior parte dos seus recursos financeiros e humanos, e esgota a sua agenda com atividade para dentro dos seus muros, depois de um tempo, ela perde um pouco o senso de propósito, o que leva muitos a se ‘congelarem’, se tornarem insensíveis às causas do Reino.
Claro, não podemos deixar de mencionar que entre os fenômenos meteorológicos que influenciam o clima ‘polar ártico’ na igreja está a ausência da vida de oração consistente e fervorosa. Uma igreja (um crente) que não privilegie a vida de oração vê diminuir a cada dia a chama do entusiasmo e do ardor. Quanto menos uma igreja ora, tenha pouquíssimos momentos comunitários de oração, menos energia, força e disposição para o trabalho ela possui. Orar é fundamental para se evitar o esfriamento do amor entre os irmãos e para com os pecadores, um dos motivos para as missões.
A ausência de pregação bíblica expositiva é outro desses fenômenos, sem a Palavra de Deus como o sol, a luz mais fulgurosa na igreja, as almas logo serão tomadas de um frio glacial. É a Bíblia que ilumina e aquece a comunidade e o coração de cada crente.
Outro fator congelante que torna a alma estéril, apática é o desprezo por doutrina e teologia. Sã doutrina e boa teologia são como fogo, apaixonam, queimam no coração, iluminam a mente e afervoram o desejo de levar outros a conhecerem as mesmas verdades. A ignorância teológica e o desconhecimento das doutrinas, esfriam e estupidificam.
E por último e não menos importante, a falta de apreço e cultivo da santidade pessoal e de tudo que se relaciona com o Santo Nome, criam um ambiente invernal. Não levar a sério a própria santidade e não cultivar com disciplina a sua existência e o seu desenvolvimento em nosso caráter, torna o coração empedernido, frio como um cadáver. A falta de zelo pelo culto, pela beleza da liturgia e sua solenidade e o cumprimento de nossos deveres com desmazelo criam igualmente baixíssimas temperaturas espirituais.
Considere tudo o que conversamos aqui e vigie. No que depender de você mantenha relações saudáveis e biblicamente defensáveis com a liderança. Tenha na justa medida a honra devida aos ministros, sem patológica dependência. Esteja atento para que o pecado não se torne um hóspede habitual na igreja e sobretudo, viva a sua vocação ministerial de maneira devota, comprometida, santa e entusiasmada dentro do seu contexto. Que bons e cálidos dias nos esperem mais à frente.
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Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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