Opinião
- 25 de julho de 2022
- Visualizações: 2453
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Para medir a temperatura da igreja
Por Luiz Fernando dos Santos
“Nunca lhes falte o zelo, sejam fervorosos no espírito, sirvam ao Senhor” (Romanos 12.11).
O livro do Apocalipse usa o vocabulário ‘térmico’ para descrever a vida espiritual da igreja: “Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente!” (Apocalipse 3.15). O Senhor Jesus também de igual modo, ao falar do amor dos homens: “Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará” (Mateus 24.12). Por essas duas passagens, de contextos distintos e autores diferentes, podemos concluir que o cristão e a igreja correm mesmo o perigo de verem despencar de uma hora para a outra a temperatura da sua espiritualidade, do seu compromisso e do seu entusiasmo pelas coisas de Deus. Todavia, tanto individual como comunitariamente, os discípulos de Cristo devem vigiar para que essas oscilações não sejam constantes e que menos ainda, perdurem por muito tempo. Mornidão e frieza não são condições climáticas apropriadas para a igreja cumprir a sua missão.
Precisamos identificar quais eventualidades que costumam influenciar no clima da comunidade cristã. Seguramente, a relação com a liderança é uma dessas condições e das mais habituais. Aqui, o quadro pode ser muito variado. Decepção, relação marcada por tensões, escândalo, truculência etc. Mas, é possível que a perda de um pastor, de um líder carismático ou modelar, por motivos difíceis de serem explicados, podem muito bem jogar um balde de água fria no fervor da comunidade. Ainda mais se essa comunidade for de alguma maneira muito dependente da liderança do seu pastor.
Uma outra realidade que costuma jogar para baixo a temperatura são as disputas internas por controle, poder e proeminência entre os irmãos. Um espírito competitivo, apegos muito ciosos a cargos e o desejo de se estar em evidência, contribuem decisivamente para que o ardor ministerial e a caridade diminuam. Pecados não tratados, escândalos públicos, e uma seletiva aplicação da disciplina eclesiástica sob o mote: ‘para os amigos, tudo, para os outros, a lei’, isto é, uma ‘justiça’ seletiva, também esfriam a igreja.
Outra causa de fortes oscilações nessa temperatura tem a ver com a má formação e a rasa preparação dos oficiais presbíteros e diáconos, dos professores de Escola Dominical e um espírito de contínua improvisação e absoluta falta de planejamento por parte do pastor. Quando essa realidade se impõe, aí temos uma tempestade perfeita, pois a comunidade não tem convicções, identidade, senso de missão e direção. É uma nau à deriva, o que gera muito abatimento.
Uma igreja se esfria também quando arrefece o ardor evangelístico, quando não se move em direção aos de fora, quando não leva o Evangelho aos incrédulos e não testemunha de Cristo de maneira concreta e comprometida onde há alienação, miséria e desumanidade. Sempre que a comunidade dos discípulos vive ‘autocentrada’, gasta a maior parte dos seus recursos financeiros e humanos, e esgota a sua agenda com atividade para dentro dos seus muros, depois de um tempo, ela perde um pouco o senso de propósito, o que leva muitos a se ‘congelarem’, se tornarem insensíveis às causas do Reino.
Claro, não podemos deixar de mencionar que entre os fenômenos meteorológicos que influenciam o clima ‘polar ártico’ na igreja está a ausência da vida de oração consistente e fervorosa. Uma igreja (um crente) que não privilegie a vida de oração vê diminuir a cada dia a chama do entusiasmo e do ardor. Quanto menos uma igreja ora, tenha pouquíssimos momentos comunitários de oração, menos energia, força e disposição para o trabalho ela possui. Orar é fundamental para se evitar o esfriamento do amor entre os irmãos e para com os pecadores, um dos motivos para as missões.
A ausência de pregação bíblica expositiva é outro desses fenômenos, sem a Palavra de Deus como o sol, a luz mais fulgurosa na igreja, as almas logo serão tomadas de um frio glacial. É a Bíblia que ilumina e aquece a comunidade e o coração de cada crente.
Outro fator congelante que torna a alma estéril, apática é o desprezo por doutrina e teologia. Sã doutrina e boa teologia são como fogo, apaixonam, queimam no coração, iluminam a mente e afervoram o desejo de levar outros a conhecerem as mesmas verdades. A ignorância teológica e o desconhecimento das doutrinas, esfriam e estupidificam.
E por último e não menos importante, a falta de apreço e cultivo da santidade pessoal e de tudo que se relaciona com o Santo Nome, criam um ambiente invernal. Não levar a sério a própria santidade e não cultivar com disciplina a sua existência e o seu desenvolvimento em nosso caráter, torna o coração empedernido, frio como um cadáver. A falta de zelo pelo culto, pela beleza da liturgia e sua solenidade e o cumprimento de nossos deveres com desmazelo criam igualmente baixíssimas temperaturas espirituais.
Considere tudo o que conversamos aqui e vigie. No que depender de você mantenha relações saudáveis e biblicamente defensáveis com a liderança. Tenha na justa medida a honra devida aos ministros, sem patológica dependência. Esteja atento para que o pecado não se torne um hóspede habitual na igreja e sobretudo, viva a sua vocação ministerial de maneira devota, comprometida, santa e entusiasmada dentro do seu contexto. Que bons e cálidos dias nos esperem mais à frente.
SAUDADES DO PENTECOSTES | REVISTA ULTIMATO
É disso que trata a matéria de capa da edição 388 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Pentecostes é, sem dúvida, o evento mais marcante relacionado com o Espírito Santo. Mas o Espírito Santo está ativo em toda a narrativa bíblica. E hoje, temos nos dado conta da atuação do Espírito Santo? Entendemos o Espírito Santo o suficiente para buscá-lo? As igrejas têm ensinado correta e integralmente sobre o Espírito Santo?
É disso que trata a matéria de capa da edição 388 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» O Que Cristo Pensa da Igreja: a Mensagem das Sete Cartas de Apocalipse, de John Stott
» Carta à igreja de Laodiceia – De todo o coração, por John Stott
» Práticas Devocionais: exercícios de sobrevivência e plenitude espiritual, de Elben César
» Avivamento que não gera empolgação por Jesus não é autêntico
» Impacto social dos grandes avivamentos
» Carta à igreja de Laodiceia – De todo o coração, por John Stott
» Práticas Devocionais: exercícios de sobrevivência e plenitude espiritual, de Elben César
» Avivamento que não gera empolgação por Jesus não é autêntico
» Impacto social dos grandes avivamentos
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
- Textos publicados: 105 [ver]
- 25 de julho de 2022
- Visualizações: 2453
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Em janeiro: CIMA 2025 - Cumpra seu destino
- Corpos doentes [fracos, limitados, mutilados] também adoram
- Cheiro de graça no ar
- Vem aí o Congresso ALEF 2024 – “Além dos muros – Quando a igreja abraça a cidade”
- Todos querem Ser milionários
- A visão bíblica sobre a velhice
- Vem aí o Congresso AME: Celebremos e avancemos no Círculo Asiático
- A colheita da fé – A semente caiu em boa terra, e deu fruto
- IV Encontro do MC 60+ reúne idosos de todo o país – Um espaço preferencial
- A era inconclusa