Por Escrito
- 27 de junho de 2019
- Visualizações: 6958
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Os conflitos de Jesus com as instituições religiosas
Por Marô da Matta Machado | Resenha
Certamente o amadurecimento na vida cristã passa por questionamentos e desconstruções profundas e inquietantes.
Há questões que nem ousamos fazer, porque podem parecer “pecaminosas” ou porque nos dão o trabalho de “desconstruir” e rever princípios.
Azorrague (Editora Mundo Cristão) é um desses livros em que vemos algumas dessas questões que tentamos evitar. Somos confrontados com uma leitura clara, instigante, eloquente, por vezes perturbadora, controversa e crítica. Porém, inspiradora, bíblica e autêntica. Não tem como não parar e refletir.
Ao analisar a moral e o legalismo presentes na religião judaica e mostrar a forma como Jesus reagiu, Antônio Carlos Costa mostra que nós corremos os mesmos riscos de ser, individual ou comunitariamente, questionados e até rejeitados por Jesus, nosso amoroso Mestre.
O livro tem cinco capítulos, cada um com uma passagem bíblica pela qual o autor nos faz caminhar, atentando para conflitos encontrados por Jesus na prática dos líderes religiosos da época.
São cinco capítulos, cinco passagens bíblicas, cinco reações e lições de Jesus sobre um comportamento religioso reprovável, a partir da ótica do Evangelho que Ele veio encarnar.
O primeiro texto bíblico mostra a mulher adúltera, os doutores da Lei e Jesus, que, com uma resposta inesperada, confronta o moralismo religioso, também presente hoje no seio de muitas igrejas e que faz com que se perca de vista a singularidade da vida humana. Como naquela época, frequentemente confunde-se pregar o evangelho com pregar moralidade. Passa a ser mais importante expor os erros dos pecadores e condená-los do que praticar a misericórdia e admoestar o pecador em amor.
Outro texto está em Marcos 7.1-23. Jesus declara que “o que sai do homem, isso é o que o contamina”. Vivemos numa sociedade que nos impõe vários fardos. A Igreja, que deveria ser agente revelador daquele que se oferece para carregar nossos fardos, tem sido também fonte geradora de pesos. Cristo confronta a tradição religiosa socialmente construída, que gera inflexibilidade e legalismo e coloca “na boca de Deus”, como diz o autor, “o que Deus nunca falou”. “Ao sobrecarregar os homens com fardos que ninguém consegue suportar, as tradições religiosas fazem que até mesmo cristãos sintam-se exasperados em relação a Deus”.
O terceiro texto fala sobre a “religião sem alma”, a partir da parábola do Bom Samaritano (Lucas 10.25-37). Que belo capítulo! Somos criados para o amor. O próprio intérprete da Lei sabe a doutrina e responde: “Amarás o Senhor, teu Deus. Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Mas, e a prática? “Para alguns mestres (da Lei), esse amor pelo próximo significava apenas amor pelos judeus e pelos convertidos ao judaísmo”. A cultura religiosa de algumas igrejas reproduz esse tipo de amor seletivo que o autor chama de “amor mutilado”. “Amar o próximo significa fazer com que cada pessoa que cruza o nosso caminho volte para casa se sentindo amada[...] Amar é tornar o próximo... próximo de Deus”. Podemos e devemos adorar a Deus por meio do serviço àqueles feridos à beira do caminho, sem permitir que a religião nos desumanize.
No quarto texto (Mateus 23.1-39), Jesus critica duramente os líderes “do mal” – “Ai de vós, escribas e fariseus...”. O autor revela como Jesus alerta as multidões sobre os perigos da religião, mostra aos discípulos como não conduzir o rebanho e anuncia o juízo por vir, alertando sobre a responsabilidade dos líderes. Um capítulo perturbador, mas muito pertinente.
Por fim, ao abordar o texto sobre o fariseu e o publicano (Lucas 18.9-14) no capítulo “Cristo e o grande pecado da religião”, o autor confronta os líderes que dão margem ao orgulho, à justiça própria e à inferiorização dos que são tidos como “mais pecadores”.
Em meio a tantas exortações, há esperança: é o Evangelho que nos salva do farisaísmo!
Sei que um livro realmente me fez refletir quando tenho vontade de recomendá-lo aos amigos. Li Azorrague com o coração aberto e fui muito edificada. A igreja brasileira precisa de mais livros como esse.
• Marô da Matta Machado é professora, casada com Zilbinho, mãe da Lis e da Júlia.
>> Conheça também o livro As Controvérsias de Jesus, de John Stott
Leia mais
» Religiões em crise
» Grupos religiosos da época de Jesus [Estudo Bíblico]
Leia mais
» Religiões em crise
» Grupos religiosos da época de Jesus [Estudo Bíblico]
- 27 de junho de 2019
- Visualizações: 6958
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Por Escrito
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Corpos doentes [fracos, limitados, mutilados] também adoram
- Pesquisa Força Missionária Brasileira 2025 quer saber como e onde estão os missionários brasileiros
- Perigo à vista ! - Vulnerabilidades que tornam filhos de missionários mais suscetíveis ao abuso e ao silêncio
- A urgência da reconciliação: Reflexões a partir do 4º Congresso de Lausanne, um ano após o 7 de outubro
- As 97 teses de Martinho Lutero
- Lutar pelos sonhos é possível após os 60. Sempre pela bondade do Senhor
- Diálogos de Esperança: nova temporada conversa sobre a Igreja e Lausanne 4
- A última revista do ano
- Para fissurados por controle, cancelamento é saída fácil
- Vem aí "The Connect Faith 2024"