Opinião
- 27 de maio de 2010
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Os amigos de Jó e os desafios do aconselhamento pastoral
Sergio Dario Costa Silva
"Ouvindo os três amigos o que acontecera a Jó, [...] combinaram ir juntos consolá-lo [...] ergueram a voz e choraram [...] sentaram com Jó na terra, sete dias e sete noites, e nenhum dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande." (Jó 1.11-13)
Aconselhar bem é um grande desafio até mesmo para os mais experientes conselheiros. Não se limita ao desejo de ajudar alguém ou vontade de ver a situação do aconselhado mudada. Aconselhar inicia-se com este desejo, mas não se limita a isto. Então como ajudar alguém eficazmente no aconselhamento? Ou melhor, o que significar ajudar? Como saber se estamos, de fato, ajudando ou não? Às vezes pensamos que estamos ajudando quando, na verdade, estamos prejudicando ou impedindo que a pessoa cresça.
Quanto ao texto apresentado, nota-se que os amigos de Jó possuíam um enorme desejo de ajudá-lo; contudo, no final de todo o processo, o livro mostra que os três amigos não foram felizes como conselheiros. Comumente as pessoas condenam a postura dos amigos de Jó, porém esquecem que eles, até certo ponto do processo do aconselhamento, agiram como bons conselheiros. Logo, podemos aprender alguns aspectos importantes do aconselhamento à partir da experiência desses três homens.
Primeiro, os três amigos, quando ficaram cientes da triste situação de Jó, decidiram imediatamente consolá-lo, desejando confortá-lo e ajudá-lo. Os amigos não foram indiferentes à situação de Jó; pelo contrário, deixaram suas obrigações e compromissos pessoais para ir onde ele se encontrava. O texto não diz que foi Jó quem os chamou, logo, entende-se que a iniciativa partiu deles. Dentro desta perspectiva, pode-se notar um clima de preocupação e desejo de ajudar o amigo aflito.
Segundo, os três amigos demonstraram um alto grau de empatia que se espera de um conselheiro. Eles “ergueram a voz e choraram”, demonstrando um elevado grau de compaixão, sentindo a dor do sofrimento de Jó. A empatia é a “tendência para sentir o que sentiria caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa” (Dicionário Aurélio). Tal sentimento precisa ser sincero e espontâneo.
Terceiro, os amigos se colocaram na posição do aflito, “sentaram com Jó na terra”. Eles não se portaram como curiosos que observam de longe a miséria dos aflitos com o sentimento de pena ou zombaria. Esta aproximação, não apenas física mas também psicológica, é fundamental no processo do aconselhamento.
Quarto, os amigos sensibilizaram com a dor de Jó e não menosprezaram ou minimizaram o grau de seu sofrimento, pois “nenhum dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande”. Logo, nunca diga para o seu aconselhado que o problema enfrentado por ele é pequeno, que o sofrimento é insignificante, ou que não há necessidade para tamanha dor e lamento.
Mas, onde foi que os três amigos erraram? Por que eles são ditos como maus conselheiros? Qual foi o grave pecado deles em relação ao papel de conselheiro? A partir do capítulo 3, Jó deseja descobrir a razão de seu sofrimento e o grande erro dos três amigos foi a tentativa de justificar o sofrimento, respondendo os questionamentos levantados pelo aflito Jó. Deve-se evitar responder perguntas que não temos respostas, tais como: por que Deus levou meu filho tão jovem? Por que Deus não evitou esta tragédia, se ele é poderoso? No momento de crise as pessoas fazem questionamentos, querem respostas e justificativas, pois acreditam que se sentirão mais aliviadas sabendo a razão do sofrimento.
Os amigos erraram por que caíram na tentação de responder perguntas que não deveriam ser respondidas. Eles “não disseram de Deus o que era reto”, (Jó 30.7), não conheciam os propósitos de Deus para Jó, e por isso julgaram-no do prisma da teologia da retribuição. A teologia da retribuição é uma verdade bíblica, pois, de fato, as bênçãos divinas seguem os justos e as maldições, os injustos. Contudo, Deus está acima dessa teologia; o justo pode sofrer e o ímpio pode até prosperar (cf. Sl 73). Os amigos concluíram que o pecado era a razão do sofrimento de Jó. Logo, a compreensão errada da teologia da retribuição resultou numa justificativa equivocada do sofrimento de Jó, e consequentemente transmitiram uma imagem deturpada de Deus. Quando respondemos perguntas que não deveriam ser respondidas, não ajudamos o aconselhado, pelo contrário, passamos uma imagem errada de Deus para o aflito.
Enfim, o caráter de Deus nunca deve ser julgado à partir das circunstâncias. Deus é e sempre será justo, reto, misericordioso e compassivo. Muitas tragédias não podem ser justificadas; logo, o conselheiro precisa entender que seu papel não é responder todas as perguntas e todos os questionamentos difíceis dos aconselhados, mas ajudá-los a processar as perdas, ouvindo-os, demonstrando-lhes empatia, não minimizando a dor do aflito e confortando-os com palavras sábias.
• Sergio Dario Costa Silva é mestre em teologia exegética do Antigo Testamento e professor no Seminário Presbiteriano Renovado Brasil Central.
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"Ouvindo os três amigos o que acontecera a Jó, [...] combinaram ir juntos consolá-lo [...] ergueram a voz e choraram [...] sentaram com Jó na terra, sete dias e sete noites, e nenhum dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande." (Jó 1.11-13)
Aconselhar bem é um grande desafio até mesmo para os mais experientes conselheiros. Não se limita ao desejo de ajudar alguém ou vontade de ver a situação do aconselhado mudada. Aconselhar inicia-se com este desejo, mas não se limita a isto. Então como ajudar alguém eficazmente no aconselhamento? Ou melhor, o que significar ajudar? Como saber se estamos, de fato, ajudando ou não? Às vezes pensamos que estamos ajudando quando, na verdade, estamos prejudicando ou impedindo que a pessoa cresça.
Quanto ao texto apresentado, nota-se que os amigos de Jó possuíam um enorme desejo de ajudá-lo; contudo, no final de todo o processo, o livro mostra que os três amigos não foram felizes como conselheiros. Comumente as pessoas condenam a postura dos amigos de Jó, porém esquecem que eles, até certo ponto do processo do aconselhamento, agiram como bons conselheiros. Logo, podemos aprender alguns aspectos importantes do aconselhamento à partir da experiência desses três homens.
Primeiro, os três amigos, quando ficaram cientes da triste situação de Jó, decidiram imediatamente consolá-lo, desejando confortá-lo e ajudá-lo. Os amigos não foram indiferentes à situação de Jó; pelo contrário, deixaram suas obrigações e compromissos pessoais para ir onde ele se encontrava. O texto não diz que foi Jó quem os chamou, logo, entende-se que a iniciativa partiu deles. Dentro desta perspectiva, pode-se notar um clima de preocupação e desejo de ajudar o amigo aflito.
Segundo, os três amigos demonstraram um alto grau de empatia que se espera de um conselheiro. Eles “ergueram a voz e choraram”, demonstrando um elevado grau de compaixão, sentindo a dor do sofrimento de Jó. A empatia é a “tendência para sentir o que sentiria caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa” (Dicionário Aurélio). Tal sentimento precisa ser sincero e espontâneo.
Terceiro, os amigos se colocaram na posição do aflito, “sentaram com Jó na terra”. Eles não se portaram como curiosos que observam de longe a miséria dos aflitos com o sentimento de pena ou zombaria. Esta aproximação, não apenas física mas também psicológica, é fundamental no processo do aconselhamento.
Quarto, os amigos sensibilizaram com a dor de Jó e não menosprezaram ou minimizaram o grau de seu sofrimento, pois “nenhum dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande”. Logo, nunca diga para o seu aconselhado que o problema enfrentado por ele é pequeno, que o sofrimento é insignificante, ou que não há necessidade para tamanha dor e lamento.
Mas, onde foi que os três amigos erraram? Por que eles são ditos como maus conselheiros? Qual foi o grave pecado deles em relação ao papel de conselheiro? A partir do capítulo 3, Jó deseja descobrir a razão de seu sofrimento e o grande erro dos três amigos foi a tentativa de justificar o sofrimento, respondendo os questionamentos levantados pelo aflito Jó. Deve-se evitar responder perguntas que não temos respostas, tais como: por que Deus levou meu filho tão jovem? Por que Deus não evitou esta tragédia, se ele é poderoso? No momento de crise as pessoas fazem questionamentos, querem respostas e justificativas, pois acreditam que se sentirão mais aliviadas sabendo a razão do sofrimento.
Os amigos erraram por que caíram na tentação de responder perguntas que não deveriam ser respondidas. Eles “não disseram de Deus o que era reto”, (Jó 30.7), não conheciam os propósitos de Deus para Jó, e por isso julgaram-no do prisma da teologia da retribuição. A teologia da retribuição é uma verdade bíblica, pois, de fato, as bênçãos divinas seguem os justos e as maldições, os injustos. Contudo, Deus está acima dessa teologia; o justo pode sofrer e o ímpio pode até prosperar (cf. Sl 73). Os amigos concluíram que o pecado era a razão do sofrimento de Jó. Logo, a compreensão errada da teologia da retribuição resultou numa justificativa equivocada do sofrimento de Jó, e consequentemente transmitiram uma imagem deturpada de Deus. Quando respondemos perguntas que não deveriam ser respondidas, não ajudamos o aconselhado, pelo contrário, passamos uma imagem errada de Deus para o aflito.
Enfim, o caráter de Deus nunca deve ser julgado à partir das circunstâncias. Deus é e sempre será justo, reto, misericordioso e compassivo. Muitas tragédias não podem ser justificadas; logo, o conselheiro precisa entender que seu papel não é responder todas as perguntas e todos os questionamentos difíceis dos aconselhados, mas ajudá-los a processar as perdas, ouvindo-os, demonstrando-lhes empatia, não minimizando a dor do aflito e confortando-os com palavras sábias.
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