Opinião
- 10 de maio de 2023
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Padre Johnny — o amor vence [Netflix]
Por Carlos Caldas
Padre Johnny (Johnny) é uma produção polonesa de 2022, do diretor Daniel Jaroszek disponível no canal de streaming Netflix. Baseado em fatos, o filme conta a história real do Padre Jan (João) Kaczkowski, interpretado pelo ator Dawid Ogdronik. O Padre Jan, nascido em 1977, recebeu o apelido de “Johnny”, a forma anglicizada de seu nome. Ele tinha doutorado na área de bioética, e faleceu com apenas 39, vitimado por um câncer. O roteirista do filme é Maciej Kraszewski, autor de uma biografia do Padre “Johnny” Kaczowski. O padre resolveu por sua própria conta e risco abrir na cidade de Puck, norte da Polônia, uma espécie de hospital para prestar cuidados paliativos a pacientes em estado terminal (há algumas cenas pós-créditos no filme que mostram cenas do verdadeiro Padre Johnny em alguns shows de rock e em algumas participações em programas da televisão polonesa, para divulgar e pedir apoio para o hospital que fundou). A autoridade episcopal a quem o Padre Johnny estava subordinado é contra a ideia, mas ele teimosamente leva adiante seu plano. Aí seu caminho cruza com o do jovem Patryk Galewski, um delinquente juvenil que é preso após uma tentativa de roubo, e condenado a uma pena alternativa: ao invés de passar um tempo na cadeia, ele deverá cumprir 360 horas de serviço comunitário no hospital do Padre Johnny.
O filme apresenta o Padre Johnny como um religioso não moralista, sincero em sua fé e totalmente comprometido com a causa que abraçou, qual seja, cuidar amorosamente daqueles a quem a medicina não pode dar nenhuma esperança. No início, como seria de se esperar, a relação com o jovem Patryk é tumultuada. Mas pouco a pouco o rapaz vai amadurecendo existencialmente, e desenvolve laços de ternura e afeto por alguns dos pacientes a quem tem de ajudar a cuidar. Esses laços se tornam tão fortes que ele desaba em prantos quando algum deles finalmente faz a partida. E, claro, o relacionamento de Patryk com o Padre Johnny também amadurece, e de maneira muito natural e espontânea, flui como se fosse um relacionamento entre pai e filho. Desnecessário dizer que quando Padre Johnny falece Patryk fica desolado, como se tivesse perdido seu próprio pai.
Um dia, meio que “por acaso”, Padre Johnny manda que Patryk vá trabalhar na cozinha do hospital, e assim descobre que o jovem tem talento e potencial para ser cozinheiro. Utilizando alguns contatos, Padre Johnny o havia encaminhado para trabalhar como auxiliar de cozinha em um restaurante elegante e sofisticado na cidade. Patryk reluta, não se sente confiante para tal, mas por fim obedece ao seu mentor. Para encurtar a história: depois de Patryk Galewski ter cumprido as 360 horas de serviço comunitário, casou-se e tornou-se um chef de cozinha conhecido e respeitado em toda a Polônia.
O filme é um drama com “final feliz”, por assim dizer. Críticos de cinema que já têm “ranço” em relação a seja lá o que for que tenha a ver com temas religiosos poderão dizer que o filme é previsível, e procurarão de todo jeito argumentos para desmerecê-lo. Mas a despeito destas implicâncias, o filme vale a pena ser visto. É uma história de redenção. Em nenhum momento Padre Johnny “passa a mão na cabeça” de Patryk. Quando necessário, ele soube ser severo com o jovem. Mas também em nenhum momento deixou de apoiá-lo. A narrativa não é piegas, e os diálogos não pretendem dar “lição de moral” ou uma aula de catequese. O filme está longe de ser um dramalhão. De maneira muito natural, o filme apresenta a história real de um homem que se preocupou com pessoas que na maioria absoluta das vezes estão nas margens da sociedade, e que investiu na vida de um jovem a respeito de quem quase todo mundo diria que era um caso perdido. A história de “Padre Johnny” mostra que o amor vence. Deus é amor.
» Para Que Serve a Teologia? - Sabedoria, significado e beleza, Alister McGrath
» Fé Cristã e Cultura Contemporânea – Cosmovisão cristã, igreja local e transformação integral, Rodolfo Amorim Carlos de Souza (org.).
É professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Minas, onde coordena o GPRA – Grupo de Pesquisa Religião e Arte.
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