Opinião
- 14 de agosto de 2009
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Onde estão os profetas?
Marcos Inhauser
Não é de hoje que me preocupo com a dimensão profética da igreja. Não me refiro às profetadas, tão comum em centros que mais se parecem com adivinhações e chutes prognósticos, nem aos que se sentem porta-vozes de Deus para manipular a vida de incautos. Me refiro à dimensão vetero-testamentária de pessoas vocacionadas por Deus para diagnosticar o presente, para denunciar os pecados individuais, fossem eles cometidos por pessoas simples como pelos reis, e o pecado nacional (tão esquecido pelos púlpitos e animadores de auditório religioso). Falo do pro+phemi, do pro+phetai, dos Isaías, Jeremias, Amós e Habacuques modernos.
Lembro-me de ter conversado com o presidente de uma igreja protestante de Cuba em 1989, que me falava das maravilhas do ser igreja naquela nação, da liberdade que tinham em pregar e evangelizar dentro das quatro paredes, da dimensão querigmática, diacônica e didática que estavam exercendo. Quando lhe perguntei sobre a dimensão profética, senti que ele se encolheu mais que maracujá maduro. E não conseguiu me dar outra resposta senão afirmar que tudo tem seu tempo.
O mesmo aconteceu com um renomado pastor guatemalteco, diretor de seminário e aclamado como teólogo, que em uma reunião de seminários em Campinas dizia ser a Guatemala o país latino americano mais evangélico e evangelizado em todo o continente. Na hora das perguntas eu lhe perguntei como explicava o fato de ser (falo de 1990) o país mais violento politicamente da América. Ele me disse que não estava ali para falar de política. Mas este homem, quando pastor de uma igreja que fica atrás do Palácio Nacional, permitiu que tropas do exército se colocassem na torre da igreja para vigiar e atirar nos manifestantes. E o pastor sabia que eu sabia disto, porque estive na sua igreja e constatei isto.
Mais recentemente fui visitar minha filha na China e fomos três vezes à igreja que é permitida aos estrangeiros frequentar. Ela me explicava que há relativa liberdade, que podem cantar, orar, convidar outros estrangeiros, podem pregar aos nacionais em suas casas e aos empregados, mas que não podem falar de política, nem falar “mal do governo”. A função profética está castrada.
Olho para a igreja brasileira e fico a procurar profetas no sentido bíblico e não os encontro. Conheci Federico Pagura, argentino, metodista, um p(r)o(f)eta, mistura de profeta e poeta. Conheci Dom Pedro Casaldáliga, outro p(r)o(f)eta. Li sobre Helder Câmara e o respeitei e o respeito. E entre os evangélicos? Quem foi ou é profeta? Quem está levantando de forma profética e poética sua voz para denunciar os escândalos, os desmandos, a locupletação da coisa pública, as hienas do erário, o dono do Maranhão?
Que igreja brasileira é esta, muito mais conhecida pelos “louvores”, solicitação à exaustão de ofertas e dízimos, pelos escândalos de seus “pastores”, pela falta de ética generalizada em seus vereadores, deputados e senadores? Que igreja é esta que seus líderes gostam mais de holofotes, palcos, multidões, lojas, carrões, televisão, rádio do que ter cara e coragem para denunciar os políticos? Quem é profeta nesta igreja brasileira? Quem está dando sua cara? Onde estão os Jeremias, Amós, Habacuques, Isaías, Miqueias?
Esta é uma igreja manca, enferma, deficiente, anormal, diria mesmo uma aberração. Uma igreja que tem mais cantores e milagreiros que pastores e profetas. Uma igreja que tem mais animadores de auditório que doutrinadores, que tem mais excitação que adoração, mais embusteiros que mensageiros. Falta-lhe coragem para o ministério que não dá holofotes, que leva mais às cavernas que aos palcos.
• Marcos Inhauser é pastor, presidente da Igreja da Irmandade e colunista do jornal Correio Popular. www.inhauser.com.br / marcos@inhauser.com.br
Não é de hoje que me preocupo com a dimensão profética da igreja. Não me refiro às profetadas, tão comum em centros que mais se parecem com adivinhações e chutes prognósticos, nem aos que se sentem porta-vozes de Deus para manipular a vida de incautos. Me refiro à dimensão vetero-testamentária de pessoas vocacionadas por Deus para diagnosticar o presente, para denunciar os pecados individuais, fossem eles cometidos por pessoas simples como pelos reis, e o pecado nacional (tão esquecido pelos púlpitos e animadores de auditório religioso). Falo do pro+phemi, do pro+phetai, dos Isaías, Jeremias, Amós e Habacuques modernos.
Lembro-me de ter conversado com o presidente de uma igreja protestante de Cuba em 1989, que me falava das maravilhas do ser igreja naquela nação, da liberdade que tinham em pregar e evangelizar dentro das quatro paredes, da dimensão querigmática, diacônica e didática que estavam exercendo. Quando lhe perguntei sobre a dimensão profética, senti que ele se encolheu mais que maracujá maduro. E não conseguiu me dar outra resposta senão afirmar que tudo tem seu tempo.
O mesmo aconteceu com um renomado pastor guatemalteco, diretor de seminário e aclamado como teólogo, que em uma reunião de seminários em Campinas dizia ser a Guatemala o país latino americano mais evangélico e evangelizado em todo o continente. Na hora das perguntas eu lhe perguntei como explicava o fato de ser (falo de 1990) o país mais violento politicamente da América. Ele me disse que não estava ali para falar de política. Mas este homem, quando pastor de uma igreja que fica atrás do Palácio Nacional, permitiu que tropas do exército se colocassem na torre da igreja para vigiar e atirar nos manifestantes. E o pastor sabia que eu sabia disto, porque estive na sua igreja e constatei isto.
Mais recentemente fui visitar minha filha na China e fomos três vezes à igreja que é permitida aos estrangeiros frequentar. Ela me explicava que há relativa liberdade, que podem cantar, orar, convidar outros estrangeiros, podem pregar aos nacionais em suas casas e aos empregados, mas que não podem falar de política, nem falar “mal do governo”. A função profética está castrada.
Olho para a igreja brasileira e fico a procurar profetas no sentido bíblico e não os encontro. Conheci Federico Pagura, argentino, metodista, um p(r)o(f)eta, mistura de profeta e poeta. Conheci Dom Pedro Casaldáliga, outro p(r)o(f)eta. Li sobre Helder Câmara e o respeitei e o respeito. E entre os evangélicos? Quem foi ou é profeta? Quem está levantando de forma profética e poética sua voz para denunciar os escândalos, os desmandos, a locupletação da coisa pública, as hienas do erário, o dono do Maranhão?
Que igreja brasileira é esta, muito mais conhecida pelos “louvores”, solicitação à exaustão de ofertas e dízimos, pelos escândalos de seus “pastores”, pela falta de ética generalizada em seus vereadores, deputados e senadores? Que igreja é esta que seus líderes gostam mais de holofotes, palcos, multidões, lojas, carrões, televisão, rádio do que ter cara e coragem para denunciar os políticos? Quem é profeta nesta igreja brasileira? Quem está dando sua cara? Onde estão os Jeremias, Amós, Habacuques, Isaías, Miqueias?
Esta é uma igreja manca, enferma, deficiente, anormal, diria mesmo uma aberração. Uma igreja que tem mais cantores e milagreiros que pastores e profetas. Uma igreja que tem mais animadores de auditório que doutrinadores, que tem mais excitação que adoração, mais embusteiros que mensageiros. Falta-lhe coragem para o ministério que não dá holofotes, que leva mais às cavernas que aos palcos.
• Marcos Inhauser é pastor, presidente da Igreja da Irmandade e colunista do jornal Correio Popular. www.inhauser.com.br / marcos@inhauser.com.br
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