Opinião
- 09 de agosto de 2015
- Visualizações: 8570
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Onde está Deus?
Onde está Deus? Muitas vezes perguntamos, principalmente diante de uma tragédia ou de acontecimentos violentos. Assistimos com assombro a violência e outras crueldades feitas em nome de certos ideais. Numa dimensão mais pessoal, nos perturbamos quando alguém próximo é vítima de violência ou enfermidade, e nos perguntamos: “por quê”? Onde está Deus?
Parece que pior do que o sofrimento físico é o sentimento de não entender o porquê, é a sensação de falta de sentido e coerência entre aquilo que cremos a respeito de Deus e aquilo que estamos experimentando na realidade. Cremos num Deus presente a todo tempo e em todo lugar e que é Senhor da história. Porém, muitas vezes, temos dificuldade de enxergar na sociedade e em nossa própria vida sinais concretos do amor de Deus, de sua compaixão, graça, justiça, retidão e soberania. Pelo contrário, diante de violência e injustiça desejamos não só ver sentido naquilo como também saber onde Deus está nisso tudo. Afinal, Deus se ausenta de nós?
Muitos salmistas fizeram semelhantes indagações e registraram suas angústias em suas orações, como: “até quando ocultarás de mim o rosto?” (Sl 13.1), “por que me rejeitas?” (Sl 43.2.), “por que te esqueceste de mim?” (Sl 42.9), “até quando ficarei lamentando?” (Sl 42.9), “por que me desamparaste?” (Sl 22.2), “por que dormes, Senhor? [...] Por que escondes o rosto e te esqueces da nossa tribulação e da nossa angústia?” (Sl 44.23).
A Bíblia fala enfaticamente da presença soberana de Deus. Deus é o Senhor de toda a terra, governa reinos, controla a natureza e dirige a vida das pessoas. Deus é o sublime, inalcançável, soberano, mas é também o Deus presente no coração do humilde (Is 57.15). O Deus criador é o Deus que se importa com o necessitado e se manifesta humildemente em Jesus como Salvador.
A Bíblia também nos conta como, depois do pecado, o ser humano foi expulso da presença de Deus (Gn 3.22-24). O pecado o afastou de Deus (Is 59.2). Ao mesmo tempo em que a Bíblia proclama a presença de Deus em todo lugar e a todo tempo, conta também de como o ser humano está longe de Deus.
Gosto de pensar na história bíblica como uma narrativa de como o ser humano, depois de expulso do jardim do Éden, será conduzido de volta à presença de Deus. Isso significa que entre Gênesis 1-2 e Apocalipse 21-22 o ser humano está longe ou afastado de Deus. O relato bíblico registra, de um lado, o drama da vida longe de Deus e, de outro, como Deus manifesta a sua presença na história e na vida humana. Há diversos modos ou manifestações da presença de Deus na terra. A promessa de Deus e aliança com Noé, Abraão, Moisés, Davi, e a nova aliança em Cristo. Deus também manifesta a sua presença por meio da lei no Antigo Testamento e do evangelho no Novo Testamento. A monarquia, o templo, o sacrifício e a pregação dos profetas são modos e sinais da presença de Deus. No Novo Testamento, o Verbo que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14) é o Deus presente. Mateus anuncia Jesus como o Deus conosco (Mt 1.23). O autor de Hebreus diz que Deus no passado falou de muitas maneiras e que nesses últimos dias nos falou pelo Filho que é “o resplendor da sua glória e a representação exata do seu Ser” (Hb 1.3, A21). Contudo, o Deus presente em Jesus Cristo se despede dos discípulos e é assunto ao céu. Os discípulos aguardam a promessa do Espírito, o Consolador que estará “para sempre convosco” (Jo 14.16). Assim também aguardamos a manifestação da glória e presença de Cristo que reinará para sempre.
Nessa perspectiva, a vida humana é um paradoxo de se estar longe do Deus presente. Como afirma Phillip Yancey, “assim, a história começa e termina no mesmo lugar, e tudo nesse ínterim diz respeito à luta para recuperar o que foi perdido” (2004, p. 181). Cremos nesse Deus soberano, que rege o universo, mas nos sentimos distante de seu amparo e proteção. Objetivamente, Deus está presente, contudo, o pecado nos separa dele. Subjetivamente, nos sentimos afastados dele e vemos como indivíduos e a sociedade não o têm como centro de sua vida.
Acredito que parte essencial da mensagem e missão cristã é proclamar a presença de Deus e tornar Deus o centro da vida e sociedade humana contemporânea. Mas como fazê-lo? Na igreja cristã, há diversas compreensões sobre a presença de Deus na terra hoje. Elas não são necessariamente excludentes, porém, revelam a ênfase de cada tradição. Há a compreensão de que Deus se manifesta nos atos salvíficos revelado nas Escrituras e que a sua proclamação, portanto, manifesta a sua presença. Há os que compreendem que Deus se manifesta por meio de seu poder e manifestações do Espírito. Há a compreensão de que é por meio da prática da justiça que Deus manifesta a sua presença. Outros ainda veem que é no viver ético e moral do povo de Deus que Deus se manifesta. Enfim, há diversas maneiras de compreender e proclamar a presença de Deus na terra.
Leia também
Salmos: para buscar a Deus e encontrá-lo
Emmanuel – a revelação visível do Deus invisível
O Deus cristão não vive na solidão (Ed René Kivitz)
A Pessoa Mais Importante do Mundo
Parece que pior do que o sofrimento físico é o sentimento de não entender o porquê, é a sensação de falta de sentido e coerência entre aquilo que cremos a respeito de Deus e aquilo que estamos experimentando na realidade. Cremos num Deus presente a todo tempo e em todo lugar e que é Senhor da história. Porém, muitas vezes, temos dificuldade de enxergar na sociedade e em nossa própria vida sinais concretos do amor de Deus, de sua compaixão, graça, justiça, retidão e soberania. Pelo contrário, diante de violência e injustiça desejamos não só ver sentido naquilo como também saber onde Deus está nisso tudo. Afinal, Deus se ausenta de nós?
Muitos salmistas fizeram semelhantes indagações e registraram suas angústias em suas orações, como: “até quando ocultarás de mim o rosto?” (Sl 13.1), “por que me rejeitas?” (Sl 43.2.), “por que te esqueceste de mim?” (Sl 42.9), “até quando ficarei lamentando?” (Sl 42.9), “por que me desamparaste?” (Sl 22.2), “por que dormes, Senhor? [...] Por que escondes o rosto e te esqueces da nossa tribulação e da nossa angústia?” (Sl 44.23).
A Bíblia fala enfaticamente da presença soberana de Deus. Deus é o Senhor de toda a terra, governa reinos, controla a natureza e dirige a vida das pessoas. Deus é o sublime, inalcançável, soberano, mas é também o Deus presente no coração do humilde (Is 57.15). O Deus criador é o Deus que se importa com o necessitado e se manifesta humildemente em Jesus como Salvador.
A Bíblia também nos conta como, depois do pecado, o ser humano foi expulso da presença de Deus (Gn 3.22-24). O pecado o afastou de Deus (Is 59.2). Ao mesmo tempo em que a Bíblia proclama a presença de Deus em todo lugar e a todo tempo, conta também de como o ser humano está longe de Deus.
Gosto de pensar na história bíblica como uma narrativa de como o ser humano, depois de expulso do jardim do Éden, será conduzido de volta à presença de Deus. Isso significa que entre Gênesis 1-2 e Apocalipse 21-22 o ser humano está longe ou afastado de Deus. O relato bíblico registra, de um lado, o drama da vida longe de Deus e, de outro, como Deus manifesta a sua presença na história e na vida humana. Há diversos modos ou manifestações da presença de Deus na terra. A promessa de Deus e aliança com Noé, Abraão, Moisés, Davi, e a nova aliança em Cristo. Deus também manifesta a sua presença por meio da lei no Antigo Testamento e do evangelho no Novo Testamento. A monarquia, o templo, o sacrifício e a pregação dos profetas são modos e sinais da presença de Deus. No Novo Testamento, o Verbo que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14) é o Deus presente. Mateus anuncia Jesus como o Deus conosco (Mt 1.23). O autor de Hebreus diz que Deus no passado falou de muitas maneiras e que nesses últimos dias nos falou pelo Filho que é “o resplendor da sua glória e a representação exata do seu Ser” (Hb 1.3, A21). Contudo, o Deus presente em Jesus Cristo se despede dos discípulos e é assunto ao céu. Os discípulos aguardam a promessa do Espírito, o Consolador que estará “para sempre convosco” (Jo 14.16). Assim também aguardamos a manifestação da glória e presença de Cristo que reinará para sempre.
Nessa perspectiva, a vida humana é um paradoxo de se estar longe do Deus presente. Como afirma Phillip Yancey, “assim, a história começa e termina no mesmo lugar, e tudo nesse ínterim diz respeito à luta para recuperar o que foi perdido” (2004, p. 181). Cremos nesse Deus soberano, que rege o universo, mas nos sentimos distante de seu amparo e proteção. Objetivamente, Deus está presente, contudo, o pecado nos separa dele. Subjetivamente, nos sentimos afastados dele e vemos como indivíduos e a sociedade não o têm como centro de sua vida.
Acredito que parte essencial da mensagem e missão cristã é proclamar a presença de Deus e tornar Deus o centro da vida e sociedade humana contemporânea. Mas como fazê-lo? Na igreja cristã, há diversas compreensões sobre a presença de Deus na terra hoje. Elas não são necessariamente excludentes, porém, revelam a ênfase de cada tradição. Há a compreensão de que Deus se manifesta nos atos salvíficos revelado nas Escrituras e que a sua proclamação, portanto, manifesta a sua presença. Há os que compreendem que Deus se manifesta por meio de seu poder e manifestações do Espírito. Há a compreensão de que é por meio da prática da justiça que Deus manifesta a sua presença. Outros ainda veem que é no viver ético e moral do povo de Deus que Deus se manifesta. Enfim, há diversas maneiras de compreender e proclamar a presença de Deus na terra.
Leia também
Salmos: para buscar a Deus e encontrá-lo
Emmanuel – a revelação visível do Deus invisível
O Deus cristão não vive na solidão (Ed René Kivitz)
A Pessoa Mais Importante do Mundo
Pastor presbiteriano e doutor em Antigo Testamento, é professor e capelão no Seminário Presbiteriano do Sul, e tradutor de obras teológicas. É autor do livro O propósito bíblico da missão.
- Textos publicados: 63 [ver]
- 09 de agosto de 2015
- Visualizações: 8570
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Descobrindo o potencial da diáspora: um chamado à igreja brasileira
- Trabalho sob a perspectiva do reino de Deus
- Jesus [não] tem mais graça
- Onde estão as crianças?
- Não confunda o Natal com Papai Noel — Para celebrar o verdadeiro Natal
- Uma cidade sitiada - Uma abordagem literária do Salmo 31
- C. S. Lewis, 126 anos
- Ultimato recebe prêmio Areté 2024
- Exalte o Altíssimo!
- Paciência e determinação: virtudes essenciais para enfrentar a realidade da vida