Por Escrito
- 15 de dezembro de 2017
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Olhar e não ver
Por Lícia Rosalee
Viver em outra nação com o firme propósito de conhecer e amar a nova cultura nos faz exercitar a arte de olhar e não ver.
Olhar um casal de rapazes de mãos dadas ou abraçados e não ver um par homossexual – porque definitivamente não é.
Olhar dois adolescentes, moça e rapaz, conversando a uma distância respeitosa e não ver apenas dois bons amigos – ali tem muita coisa acontecendo e pode até acabar em casamento!
Olhar uma bela jovem coberta dos pés à cabeça, como orienta sua religião, e não ver uma mulher, necessariamente, infeliz.
Olhar uma criança bem pequena, com a roupa suja e os cabelos desgrenhados, a correr pelas ruas empoeiradas, e não ver um menor negligenciado.
Olhar as jovens dançando alegremente, com movimentos de pés, braços, quadris, cabeças e sorrisos, e não ver nada mais do que jovens louvando ao seu Deus. Quanto estranhamento os nossos olhos nos impõem…
Quisera eu não ver, aqui em Moçambique, com os mesmos olhos do Brasil. Quisera eu conseguir livrar-me dos meus óculos culturais e ver o mundo que me cerca com as mesmas lentes com que seu povo alegre e colorido o enxerga.
>>> Chamado Radical [Bráulia Ribeiro] <<<
>>> Evangelização ou Colonização? [Analzira Nascimento] <<<
Este sonho de todo missionário transcultural simplesmente não é realizável, o que torna nossa vida no campo mais complicada e, por que não dizer, divertida, às vezes.
É importante saber olhar e não ver, ou, dizendo de outra maneira, olhar e não aceitar a primeira resposta que os meus olhos dão; antes, tentar decifrar o sentido que pode estar escondido por trás da superfície. É preciso tirar os óculos. Talvez limpá-los dos preconceitos e das ideias prontas vindas de outra realidade. Para só, então. cumprimentar a muçulmana e sorrir para o menino descalço e, assim, vê-los mais de perto, como de fato eles são.
Míope que sou, sigo com meus óculos. Não sei se, algum dia, saberei andar por aí sem eles. Por ora, ocupo-me em olhar e aprender, cada dia um pouco, como esse mundo quer ser visto por mim.
• Lícia Rosalee, natural da Bahia, professora e missionária, está em Beira, Moçambique, desde agosto de 2017, para trabalhar com educação teológica e com uma igreja local.
Leia mais
A cultura, esta nossa inimiga
É preciso viver com simplicidade para que os outros simplesmente vivam
A cultura e a comunicação do evangelho
Imagem ilustrativa: Photo by Seth Doyle on Unsplash
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Olhar uma bela jovem coberta dos pés à cabeça, como orienta sua religião, e não ver uma mulher, necessariamente, infeliz.
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Olhar as jovens dançando alegremente, com movimentos de pés, braços, quadris, cabeças e sorrisos, e não ver nada mais do que jovens louvando ao seu Deus. Quanto estranhamento os nossos olhos nos impõem…
Quisera eu não ver, aqui em Moçambique, com os mesmos olhos do Brasil. Quisera eu conseguir livrar-me dos meus óculos culturais e ver o mundo que me cerca com as mesmas lentes com que seu povo alegre e colorido o enxerga.
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Este sonho de todo missionário transcultural simplesmente não é realizável, o que torna nossa vida no campo mais complicada e, por que não dizer, divertida, às vezes.
É importante saber olhar e não ver, ou, dizendo de outra maneira, olhar e não aceitar a primeira resposta que os meus olhos dão; antes, tentar decifrar o sentido que pode estar escondido por trás da superfície. É preciso tirar os óculos. Talvez limpá-los dos preconceitos e das ideias prontas vindas de outra realidade. Para só, então. cumprimentar a muçulmana e sorrir para o menino descalço e, assim, vê-los mais de perto, como de fato eles são.
Míope que sou, sigo com meus óculos. Não sei se, algum dia, saberei andar por aí sem eles. Por ora, ocupo-me em olhar e aprender, cada dia um pouco, como esse mundo quer ser visto por mim.
• Lícia Rosalee, natural da Bahia, professora e missionária, está em Beira, Moçambique, desde agosto de 2017, para trabalhar com educação teológica e com uma igreja local.
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