Opinião
- 20 de setembro de 2023
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Olhando para dentro
“Porque de dentro do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios”
Por Esther Carrenho
Como teóloga e psicóloga vejo uma semelhança entre o evangelho e o trabalho da psicoterapia. Tanto um como o outro nos convida a olhar para dentro. Em psicoterapia a proposta principal é olhar para si mesmo, tomar consciência das próprias sombras e mazelas e escolher novos caminhos e ações para uma vida mais integrada. Nos evangelhos encontramos pelo menos três situações em que Jesus Cristo exorta seus ouvintes e interlocutores a examinarem a si mesmos para perceberem a própria miserabilidade que tanto mal podem fazer para si mesmos e para os outros.
A primeira situação está no relato de Mateus 7.3 - 5 (trecho do Sermão do Monte) e de Lucas 7.1 – 6. Trata-se da advertência tanto para a avaliação que fazemos dos outros quanto para a iniciativa de querer ajudar depois da avaliação feita. Jesus deixa bem claro que se quisermos ajudar a reformar o outro, precisamos primeiro reformar a nós mesmos. E usa um tratamento bem duro chamando de hipócrita aquele que quer tirar um cisco do olho do outro sem primeiro tirar a trave que está no próprio olho.
A segunda, está no relato de Marcos 7.1 - 23 e Mateus 15.1 - 20 em que os discípulos são criticados pelos líderes judeus por comerem ser lavar as mãos, um rito religioso. Jesus exorta tanto os religiosos quanto os seus discípulos a avaliarem com seriedade o que está no interior, porque isto sim pode sair e contaminar muito mais do que a falta de limpeza externa enquanto ritual. E faz uma lista de maus desígnios que dizem respeito a você e a mim: maus pensamentos, imoralidades sexuais, roubos, homicídios, adultérios, cobiças, maldades, engano, devassidão, inveja, calunia, arrogância, insensatez. Com isto fica claro que precisamos nos concentrar, e investir tempo em limpar as impurezas que estão no nosso interior. As limpezas e belezas externas podem alegrar os olhos, mas não cativam coração. A beleza interior atrai o olhar e prende o coração. Não prejudica outros e é prazerosa para quem se aproximar.
A terceira situação registrada em João 8.1 - 11 é a intrigante história de uma mulher pega em adultério e trazida a presença de Cristo pelos escribas e fariseus para que Ele autorize o apedrejamento estabelecido na lei judaica. Aqueles homens estavam ali para exercer juízo contra uma mulher que fora pega numa falha. Jesus diz claramente que depois de eles se autoavaliarem e, olhando para as próprias vidas, não descobrirem nada de errado, estão autorizados a apedrejarem a mulher. O texto diz que rodos saem do local, deixando a mulher livre, obviamente porque rapidamente viram pelo menos um pouco das próprias vidas. E a vida da mulher foi preservada, dando-lhe a oportunidade de mudar seus caminhos.
Neste relato fica bem claro que antes de exercer qualquer juízo ou condenação contra uma pessoa é necessário olhar com sinceridade, a própria vida. Cristo não condenou a mulher adúltera, apenas ordenou que mudasse seu jeito de viver.
O que fazer quando olharmos para dentro e descobrirmos nossas próprias misérias?
Primeiro, dê nome ao que você descobriu. É inveja? Ciúmes? Maldade? Roubo? Hipocrisia? Ou o quê?
Segundo, arrependa-se. Arrependimento gera mal-estar e requer lamento, desejo de reparo. Desejo de ir por outro caminho.
Terceiro, confesse a Deus. De preferência, num lugar privado e audivelmente, para escutar a sua própria voz. Quando confessamos em voz audível o próprio lamento, a dor diminui dando forças para buscar novos caminhos.
Quarto, compartilhe com uma pessoa amorosa a experiência. Pode ser um amigo, um familiar, um conselheiro ou um profissional.
No advento da graça em Cristo Jesus, podemos olhar para dentro e mesmo diante da coisa mais vergonhosa e feia não mais carregar culpa. E muito menos condenar ou punir-se. As Escrituras deixam bem claro, que todo e qualquer peso ou culpa pelos nossos erros e pecados foram expiados na cruz do Gólgota. “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele” (Is 53.5). A única coisa necessária é a conscientização, mesmo que dolorida, e a confissão mesmo que vergonhosa. E desse momento em diante, podemos caminhar como pessoas autênticas e livres!
REVISTA ULTIMATO | DOXOLOGIA NO CULTO PÚBLICO E NA VIDA DIÁRIA
A matéria de capa desta edição convida o leitor ao exercício da doxologia: a afirmação vibrante sobre o que Deus é e o que ele faz. Uma afirmação que traduz a nossa opinião sobre Deus forjada pelas Escrituras e pelas experiências com ele. Isso vai contra a correnteza do mundo em que vivemos, tão pouco propício à solitude, à contemplação e à adoração.
É disso que trata a matéria de capa da edição 403 da Revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» A Cruz e o Paradoxo da Autoestima – Fé Cristã, Valor e Dignidade Humana, Ricardo Barbosa de Sousa
» Um Novo Dia – Deixando para trás ansiedade, fome, controle, vergonha, ira e desespero, Emma Scrivener
» De Hoje Em Diante, Elben César
» “O amor procede de Deus” – aspectos psicoterapêuticos e curativos da Bíblia
» Libertos para viver em dependência e interdependência
Por Esther Carrenho
Como teóloga e psicóloga vejo uma semelhança entre o evangelho e o trabalho da psicoterapia. Tanto um como o outro nos convida a olhar para dentro. Em psicoterapia a proposta principal é olhar para si mesmo, tomar consciência das próprias sombras e mazelas e escolher novos caminhos e ações para uma vida mais integrada. Nos evangelhos encontramos pelo menos três situações em que Jesus Cristo exorta seus ouvintes e interlocutores a examinarem a si mesmos para perceberem a própria miserabilidade que tanto mal podem fazer para si mesmos e para os outros.
A primeira situação está no relato de Mateus 7.3 - 5 (trecho do Sermão do Monte) e de Lucas 7.1 – 6. Trata-se da advertência tanto para a avaliação que fazemos dos outros quanto para a iniciativa de querer ajudar depois da avaliação feita. Jesus deixa bem claro que se quisermos ajudar a reformar o outro, precisamos primeiro reformar a nós mesmos. E usa um tratamento bem duro chamando de hipócrita aquele que quer tirar um cisco do olho do outro sem primeiro tirar a trave que está no próprio olho.
A segunda, está no relato de Marcos 7.1 - 23 e Mateus 15.1 - 20 em que os discípulos são criticados pelos líderes judeus por comerem ser lavar as mãos, um rito religioso. Jesus exorta tanto os religiosos quanto os seus discípulos a avaliarem com seriedade o que está no interior, porque isto sim pode sair e contaminar muito mais do que a falta de limpeza externa enquanto ritual. E faz uma lista de maus desígnios que dizem respeito a você e a mim: maus pensamentos, imoralidades sexuais, roubos, homicídios, adultérios, cobiças, maldades, engano, devassidão, inveja, calunia, arrogância, insensatez. Com isto fica claro que precisamos nos concentrar, e investir tempo em limpar as impurezas que estão no nosso interior. As limpezas e belezas externas podem alegrar os olhos, mas não cativam coração. A beleza interior atrai o olhar e prende o coração. Não prejudica outros e é prazerosa para quem se aproximar.
A terceira situação registrada em João 8.1 - 11 é a intrigante história de uma mulher pega em adultério e trazida a presença de Cristo pelos escribas e fariseus para que Ele autorize o apedrejamento estabelecido na lei judaica. Aqueles homens estavam ali para exercer juízo contra uma mulher que fora pega numa falha. Jesus diz claramente que depois de eles se autoavaliarem e, olhando para as próprias vidas, não descobrirem nada de errado, estão autorizados a apedrejarem a mulher. O texto diz que rodos saem do local, deixando a mulher livre, obviamente porque rapidamente viram pelo menos um pouco das próprias vidas. E a vida da mulher foi preservada, dando-lhe a oportunidade de mudar seus caminhos.
Neste relato fica bem claro que antes de exercer qualquer juízo ou condenação contra uma pessoa é necessário olhar com sinceridade, a própria vida. Cristo não condenou a mulher adúltera, apenas ordenou que mudasse seu jeito de viver.
O que fazer quando olharmos para dentro e descobrirmos nossas próprias misérias?
Primeiro, dê nome ao que você descobriu. É inveja? Ciúmes? Maldade? Roubo? Hipocrisia? Ou o quê?
Segundo, arrependa-se. Arrependimento gera mal-estar e requer lamento, desejo de reparo. Desejo de ir por outro caminho.
Terceiro, confesse a Deus. De preferência, num lugar privado e audivelmente, para escutar a sua própria voz. Quando confessamos em voz audível o próprio lamento, a dor diminui dando forças para buscar novos caminhos.
Quarto, compartilhe com uma pessoa amorosa a experiência. Pode ser um amigo, um familiar, um conselheiro ou um profissional.
No advento da graça em Cristo Jesus, podemos olhar para dentro e mesmo diante da coisa mais vergonhosa e feia não mais carregar culpa. E muito menos condenar ou punir-se. As Escrituras deixam bem claro, que todo e qualquer peso ou culpa pelos nossos erros e pecados foram expiados na cruz do Gólgota. “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele” (Is 53.5). A única coisa necessária é a conscientização, mesmo que dolorida, e a confissão mesmo que vergonhosa. E desse momento em diante, podemos caminhar como pessoas autênticas e livres!
- Esther Carrenho, teóloga, psicóloga e autora dos livros: Raiva: Seu bem, Seu Mal e Caminhos de Vida.
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