Opinião
- 04 de novembro de 2010
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O voto do evangélico é diferente do católico conservador?
Paixões, como não tê-las? A questão de fundo diz respeito aos interesses do Brasil e da sociedade brasileira: Estado laico e sociedade secular, pois não temos uma teocracia, apesar das reivindicações dos líderes evangélicos Silas Malafaia, pró-Serra, e Edir Macedo, pró-Dilma, como novos apóstolos de Jesus Cristo ou do diabo (nas suas versões dos candidatos). Somos também uma sociedade culturalmente pluralista, entre moderna e arcaica, levando em conta os muitos “brasis”, de norte a sul, de leste a oeste. Respeitável aos católicos é a declaração do presidente da CNBB, D.Geraldo Lyrio, com a frase católica partidarista: “O Estado é laico, mas o povo é profundamente religioso”. Para ele o povo católico deveria ter uma “opinião religiosa” pró-Serra, representante de Jesus Cristo, como nos folhetos e pronunciamentos dos padres da Canção Nova.
Além da opinião política sobre questões que são candentes e muito discutíveis na sociedade brasileira, desde espíritas, afroreligosos, evangélicos, protestantes históricos, a Igreja, quando fala de política, sempre é teocrática, mas sem autorização de Deus (creio eu). “Política partidária constitui divisão por excelência.” A frase é de João Heliofar. Esquecemos a história? A igreja, desde Constantino, século 4, quando estatizada, sempre opina a favor do Estado. Nem Calvino nem Lutero livraram-se disso na Reforma (o primeiro sob regime republicano e o segundo sob a monarquia rebelde dos príncipes alemães). O movimento separatista protestante na Igreja Anglicana do século17, que gerou batistas, congregacionais, presbiterianos, libertários agnósticos, tinha o foco da participação no Parlamento. Falar de um princípio divisionista na política e isentar a igreja do momento político, como se não houvesse disputa de poder em toda ou qualquer igreja denominacional, é ingenuidade, imagino eu.
As realidades são equivalentes, talvez. Evangélicos e católicos ingressam definitivamente na luta política. Onde há poder, influência política e dinheiro tem católico e evangélico farejando, como hienas. O papa sem querer ajudou a eleger Dilma (Ah, ocultando a pedofilia exigia o voto contra o aborto!), quando fez um pronunciamento a pedido da CNBB. Mas carismáticos já tinham decidido. Ligados à força da religião autoritária do midiático Silas Malafaia e de Bento XVI, evangélicos reagiram a ambos e votaram em Dilma Roussef (pesquisa recente entre jovens brasileiros também mostrara o quanto Malafaia é admirado por evangélicos históricos). É no que dá quando se apela para a teocracia. O problema está com o “deus” deles. O mistério, contudo, é que não se pode manipular o Deus da fé.
Na história da humanidade, nenhum homem ou mulher pôde ser apontado como agente de Deus. Nenhum era indispensável, nenhum foi decisivo para o projeto libertário e salvador de Deus em Jesus Cristo. Mistério que até “os anjos queriam conhecer” (1 Pe 1.12) e não lhes foi facultado. Exílios e fraqueza política acompanham a história do povo bíblico. E o mundo segue seu caminho, apesar da arrogância evangélica, de papas e bispos que pretendam fazer a rota cristã ideal no caminho da liberdade. Ah, a liberdade… quem a algemará e engaiolará, para depois jogar a chave no esgoto?
Dilma foi eleita com o voto laico, sem credo religioso. Brasileiros e brasileiras se encantavam com a possibilidade de uma mulher alcançar o topo do poder. Magnífico, especialmente porque não foi com a ajuda da religião atrelada e conservadora que Dilma se elegeu (mas a CNBB cobrou imediatamente à sua eleição o que não lhe emprestou). Devemos orar agradecidos. A liberdade, que é obediência livre a Deus, encontra expressão única no ato da oração e do testemunho da liberdade. A tragédia brasileira permanece em cartaz: desigualdades sociais, fome, pobreza aviltante, educação e saúde precaríssimas e sem qualidade; habitações como na idade das palafitas, domínio do “homo demens”, violência extra e intrafamiliar (como são violentadas crianças e mulheres neste país!); meio ambiente em degradação incontrolável. O índice de desenvolvimento humano, IDH, é de 75% (perde para Cuba, mais pobre, com PIB baixíssimo e IDH de 51%). Porém, reina a esperança. Atos políticos estão sob julgamento. Sejam quais forem.
• Derval Dasilio é pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor do livro “O Dragão que Habita em Nós” (2010). www.derv.wordpress.com
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Além da opinião política sobre questões que são candentes e muito discutíveis na sociedade brasileira, desde espíritas, afroreligosos, evangélicos, protestantes históricos, a Igreja, quando fala de política, sempre é teocrática, mas sem autorização de Deus (creio eu). “Política partidária constitui divisão por excelência.” A frase é de João Heliofar. Esquecemos a história? A igreja, desde Constantino, século 4, quando estatizada, sempre opina a favor do Estado. Nem Calvino nem Lutero livraram-se disso na Reforma (o primeiro sob regime republicano e o segundo sob a monarquia rebelde dos príncipes alemães). O movimento separatista protestante na Igreja Anglicana do século17, que gerou batistas, congregacionais, presbiterianos, libertários agnósticos, tinha o foco da participação no Parlamento. Falar de um princípio divisionista na política e isentar a igreja do momento político, como se não houvesse disputa de poder em toda ou qualquer igreja denominacional, é ingenuidade, imagino eu.
As realidades são equivalentes, talvez. Evangélicos e católicos ingressam definitivamente na luta política. Onde há poder, influência política e dinheiro tem católico e evangélico farejando, como hienas. O papa sem querer ajudou a eleger Dilma (Ah, ocultando a pedofilia exigia o voto contra o aborto!), quando fez um pronunciamento a pedido da CNBB. Mas carismáticos já tinham decidido. Ligados à força da religião autoritária do midiático Silas Malafaia e de Bento XVI, evangélicos reagiram a ambos e votaram em Dilma Roussef (pesquisa recente entre jovens brasileiros também mostrara o quanto Malafaia é admirado por evangélicos históricos). É no que dá quando se apela para a teocracia. O problema está com o “deus” deles. O mistério, contudo, é que não se pode manipular o Deus da fé.
Na história da humanidade, nenhum homem ou mulher pôde ser apontado como agente de Deus. Nenhum era indispensável, nenhum foi decisivo para o projeto libertário e salvador de Deus em Jesus Cristo. Mistério que até “os anjos queriam conhecer” (1 Pe 1.12) e não lhes foi facultado. Exílios e fraqueza política acompanham a história do povo bíblico. E o mundo segue seu caminho, apesar da arrogância evangélica, de papas e bispos que pretendam fazer a rota cristã ideal no caminho da liberdade. Ah, a liberdade… quem a algemará e engaiolará, para depois jogar a chave no esgoto?
Dilma foi eleita com o voto laico, sem credo religioso. Brasileiros e brasileiras se encantavam com a possibilidade de uma mulher alcançar o topo do poder. Magnífico, especialmente porque não foi com a ajuda da religião atrelada e conservadora que Dilma se elegeu (mas a CNBB cobrou imediatamente à sua eleição o que não lhe emprestou). Devemos orar agradecidos. A liberdade, que é obediência livre a Deus, encontra expressão única no ato da oração e do testemunho da liberdade. A tragédia brasileira permanece em cartaz: desigualdades sociais, fome, pobreza aviltante, educação e saúde precaríssimas e sem qualidade; habitações como na idade das palafitas, domínio do “homo demens”, violência extra e intrafamiliar (como são violentadas crianças e mulheres neste país!); meio ambiente em degradação incontrolável. O índice de desenvolvimento humano, IDH, é de 75% (perde para Cuba, mais pobre, com PIB baixíssimo e IDH de 51%). Porém, reina a esperança. Atos políticos estão sob julgamento. Sejam quais forem.
• Derval Dasilio é pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor do livro “O Dragão que Habita em Nós” (2010). www.derv.wordpress.com
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É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
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