Por Escrito
- 21 de agosto de 2017
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O verdadeiro menino da pipa
Por Liz Valente
Nem toda música que fala sobre um menino foi escrita a partir de um encontro com um menino de verdade. Muitas vezes, o menino da canção é apenas fruto da imaginação do compositor, ou mesmo de alguma vívida lembrança de um menino já envelhecido exteriormente. Esse não foi o meu caso, “Pipa Amarela” é sobre um menino de verdade, mudei apenas a cor da pipa, o resto fluiu como um café passado no passar dos dias. Tudo começou com um encontro acidental com esses rapazes da foto, meninos de pele e osso, dos quais nunca soube o nome, mas com os quais pude passar uma tarde num verão inspirador.
Acredito que nem mesmo o menino da pipa saiba o quanto a sua simplicidade e alegria naquela tarde impactaram a minha história. De uma repartição tímida de ideias lúdicas surgiu uma canção que motivou a gravação do meu primeiro disco, e o vento se tornou o chão de um sonho.
A tarde, a foto e a música aconteceram em 2010, quando, numa tentativa inocente de olhar para minha cidade com intencionalidade, eu me dispus ao hábito de flanar. Esse verbo, pouco usado no português, decorreu de um personagem fictício o “flâneur” criado por Charles Baudelaire. O flâneur era um homem à deriva no espaço urbano, vagante e à toa; que justamente por sua falta de compromisso estava disponível para ver o que se passava quando ninguém estava vendo. Foram as minhas próprias flanâncias, essa espécie ócio proposital, que me levaram àquele lugar, àquele momento de faca de cozinha, varas de bamboo e sacolas plásticas. Vidas enraizadas na mesma terra, Minas Gerais, repartindo brisas e traçando rumos que só Deus sabe para onde nos levarão no final.
Por trás desta foto havia uma menina vagante, em busca de poesia e redenção. Por trás desta foto havia meninos que economizavam sacolas plásticas apenas para vê-las ao céu como velas ao mar. Histórias se cruzando por poucos instantes como rabiolas emboladas em arquivos fotográficos que nunca foram impressos em papel. A pipa original não era amarela, mas a cantiga nasceu de um coração ensolarado. A rua nos trouxe mais uma história, como sempre ela traz.
Fico imaginando as ruas por onde o Filho do Homem andou. Fico pensando na minha própria historia e como Cristo se encontra comigo tantas vezes em minhas andanças, em como ele me interrompe através de uma linha empenada, de um canto de sabiá ou mesmo de uma sombra no chão. Fico pensando nas milhares de vidas se cruzando e em como Cristo derramou seu precioso sangue para que pudéssemos parar para nos deleitarmos somente nele.
Fotos: Liz Valente.
• Liz Valente é mestra em arquitetura e urbanismo. Também é cantora, compositora e autora de 4 peças teatrais. Casada com Pedro Paulo, mãe do João e do Davi.
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