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Opinião

O sonho de Martin Luther King Jr.

Por René Padilla

A aspiração a um mundo de justiça e liberdade continua sendo uma necessidade hoje.
 
Desde 1983, toda terceira segunda-feira de janeiro, nos Estados Unidos, é celebrado o Dia de Martin Luther King Jr. Nascido em Atlanta, em 15 de janeiro de 1929, esse pastor batista de raça negra movido pelo amor transformou-se no ícone da luta pelos direitos humanos dos negros. Viveu treze anos de prisões, insultos, calúnias, maus-tratos e ameaças de morte, que foram sua cruz de cada dia. O FBI o qualificou como “o negro mais perigoso da nação” e, em 4 de abril de 1968, uma bala o matou aos 39 anos de idade.
 
No entanto, em outubro de 1964, foi honrado com o Prêmio Nobel da Paz. E, depois de ser assassinado, a cada janeiro, o país todo celebra a sua vida dedicada à luta pela igualdade racial e pela justiça para todos. Uma luta motivada pelo sonho cristão que ele sintetizou em seu memorável discurso pronunciado diante de uma multidão de 250 mil pessoas (negras e brancas, ricas e pobres), participantes da “Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade”, junto ao monumento a Abraham Lincoln, na capital estadunidense. Com a eloquência desenvolvida na igreja batista que pastoreava, descreveu seu sonho de um mundo de justiça e liberdade onde todos fossem respeitados como filhos de Deus criados à sua imagem e semelhança, sem distinção de raça, nacionalidade, classe social ou credo.
 
Essa aspiração estava vinculada à tradição democrática definida na Constituição Nacional de seu país, mas jamais poderemos entender sua luta sem reconhecer suas raízes bíblicas. Mais que um defensor dos direitos civis dos negros, King foi um pastor evangélico com profundas convicções cristãs, disposto a morrer não por um ideal libertário e democrático como tal, mas sim pelo próximo como criatura de Deus, fosse quem fosse. Por isso, desafiou seus concidadãos a ver que esse ideal não poderia ser realizado fora desse “sonho mais amplo de um mundo de fraternidade e paz e boa vontade”. Como disse uma vez: “Temos de aprender a viver juntos como irmãos, ou pereceremos juntos como tolos. Temos de conseguir entender que nenhum indivíduo pode viver sozinho, que nenhuma nação pode viver sozinha”.

 
A motivação fundamental de King foi o amor cristão que ele concebia como a maior força para a transformação pessoal e social. Ao mesmo tempo, estava convencido de que seu sonho tinha de ser traduzido em ação não violenta em prol de mudanças sociais concretas. Por isso, junto com outros pastores negros, em janeiro de 1957, organizou a Conferência dos Líderes Cristãos do Sul para conseguir “os plenos direitos como cidadão, a igualdade e a integração do negro a todos os aspectos da vida americana”. Para ele, a segregação racial era um problema não apenas político, mas também moral: os políticos segregacionistas eram culpados de destruir a fibra moral da nação e as igrejas que não se opunham à segregação negavam com os fatos a autenticidade de seu compromisso cristão.
 
Tristemente, a nação que hoje celebra Martin Luther King Jr. como herói nacional gasta bilhões e trilhões em armas “para manter a paz”. O orçamento para os programas de ajuda social foi cortado drasticamente e o déficit fiscal chegou a seus níveis mais elevados. Apesar de todas as conquistas obtidas mediante a luta promovida pelo movimento do qual King fez parte a favor das minorias étnicas no campo político e legal, seu sonho continua sendo nada mais que um sonho, não só nos Estados Unidos, mas também em praticamente todos os países ao redor do mundo, em relação ao reconhecimento da igualdade de todos os seres humanos, sem o qual não há possibilidade de realização do lindo sonho de um mundo de justiça e liberdade para todos. O legado de luta de Martin Luther King Jr. é um chamado à luta pela realização de seu sonho de um mundo de justiça e igualdade em nossa própria situação e em todo o mundo.
 
Artigo originalmente publicado na edição 370 da revista Ultimato.

REVISTA ULTIMATO | DOENÇAS QUE FAZEM SOFRER TAMBÉM OS QUE CREEM
 
Todas as pessoas – também os que creem – correm o risco de adoecer mentalmente. Há multidões na igreja lutando com problemas de saúde mental. Felizmente, há esperança e ajuda: profissionais da saúde, recursos terapêuticos e medicamentos. Os cristãos podem contar ainda com a ajuda extraordinária de seu Deus. E a igreja deve proporcionar um espaço seguro para estes.

É disso que trata a matéria de capa da edição 405 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.

Saiba mais: 
É fundador e presidente da Rede Miqueias, e membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de O Que É Missão Integral? e colunista da revista Ultimato.
  • Textos publicados: 16 [ver]

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