Opinião
- 06 de abril de 2023
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O sofrimento de Jesus, e dos missionários
Por Antonia Leonora van der Meer
Lembramo-nos no período da Quaresma do sofrimento de Jesus, geralmente pensando principalmente nas terríveis dores físicas – que foram realmente muito duras, com dores inimagináveis – e no corpo já dilacerado pelos açoites, pendurado de forma violenta. Mas creio que o sofrimento mais doloroso foi a solidão, uma dor do coração e, mais ainda, uma dor espiritual: sua alma pura sobrecarregada com todos os pecados, de todas as épocas, de bilhões de pessoas.
Isso causou em Jesus uma profunda angústia e uma dor crucial da luta no Getsêmani, vendo com clareza as trevas dominantes nesse cálice doloroso, quando clamou a Deus por três vezes por libertação e por três vezes se entregou para fazer a vontade do Pai. Mas os seus amigos, que deviam apoiá-lo em oração, não entenderam nada da dor mais intensa, inimaginável, que o levou a um grito do sofrimento pelo desamparo de Deus, nas três horas de trevas físicas e espirituais sofridas na cruz, quando ficou sobrecarregado pelos pecados de todos nós, e dos pecadores de todas as nações. (Mt 26.36-40 e 27.45-46).
Antes de continuar pensando em Jesus, vamos refletir um pouco no sofrimento dos missionários. Não quero tratar os missionários como mártires, nem estimular pena, mas sim compreensão.
Quais são os sofrimentos mais comuns dos missionários? Enfermidades graves como malária – que causa febres altas, muita dor e fraqueza – e muitas outras, como por exemplo o câncer, que acontece em qualquer lugar, mas o sofrimento é maior quando o país não tem os recursos necessários, aí há muita insegurança e sofrimento maior até encontrar um lugar e forma de tratamento. Acidentes graves, também em contextos onde faltam os recursos. E se o próprio missionário sofre assim, a angústia é ainda maior quando se trata do sofrimento dos seus filhos. Há também, a possibilidade de sequestros e de feridas causadas pela guerra, ou violência urbana e o sofrimento causado por notícias de enfermidades graves ou morte de seus queridos no país de origem. Isso falando do sofrimento tanto físico como emocional, que causa dor no coração e às vezes sentimento de abandono, se não houver o apoio e a compreensão necessários.
Mas há outras dores, mais emocionais e espirituais. Missionários que amam o povo, investiram todo seu esforço para aprender a língua e adaptar-se à cultura e, inesperadamente, recebem o aviso de que têm sete dias ou 24 horas para sair do país. Ou simplesmente que seu visto não será renovado. Como organizar tudo, em tão pouco tempo? Será que algum dia vão voltar? Isso causa dor, trauma, dúvidas... “Será que entendi tudo errado, e não foi Deus que me chamou e me guiou? E se foi Ele, por que permite essa situação? Será que Ele me ouve, me entende? E minha igreja vai entender?”. São questões que devem ser tratadas com oração e acompanhamento, com cuidado e paciência.
A dor da “reentrada” é algo que poucos conseguem entender. “Você estava vivendo naquele contexto cheio de violência, onde faltavam muitas coisas básicas, agora voltou para seu país e em vez de estar muito feliz fica aí sofrendo pelo país e povo que deixou para trás? Está sofrendo um complexo de culpa?” Eu vivi essa dor e fiquei por um tempo sem coragem para abrir meu coração para outra pessoa e até imaginei que estava ficando louca, até que um casal canadense me mandou um livrinho “Re-entry”, que descrevia tudo o que eu sentia. Que alívio, sou normal, e isso vai passar.
Nesses momentos de dor, de solidão, de não se sentir compreendido podemos encontrar conforto sabendo que Jesus sofreu todas essas lutas e angústias, e prometeu que nunca jamais nos abandonaria. Assim a reflexão sobre os sofrimentos de Jesus no Getsêmani e na cruz, além de refletir toda a riqueza do imensurável amor de Deus pelos pecadores como nós, tem essa dimensão adicional de fazer-nos sentir o quanto ele está perto de nós, e nos abraça com carinho e compreensão quando sofremos as dores típicas de missionários transculturais.
Jesus é nosso sumo sacerdote intercessor que entende nossas lutas e sabe compadecer-se de nossas fraquezas, foi tentado em todas as coisas à nossa semelhança e por isso podemos aproximar-nos do trono de graça com toda confiança para receber misericórdia e graça para cada situação e luta. (Hb 4.14-16).
Por isso, o cristão e, especificamente o missionário (e a missionária), não deve estranhar o fogo que surge para colocá-lo à prova. Mas pode desenvolver uma alegria por ser coparticipante dos sofrimentos de Cristo e para se alegrar quando ele é revelado em sua glória. Essa é uma alegria que só podemos entender quando estamos dispostos a abrir mão de nossas preferencias pessoais e nos dispomos a trilhar o caminho da cruz, onde haverá dor, e também conforto e uma alegria que nada pode nos roubar (1Pe 4.12-13).
Damos graças a Deus pelo seu maravilhoso amor imerecido e porque todos podemos, na hora da dor, buscar sua presença, seu consolo e receber o apoio necessário.
Antonia Leonora van der Meer, professora de missiologia, serviu durante dez anos em Angola. É autora de Eu, Um Missionário?, Missionários Feridos e O Estudo Bíblico Indutivo.
Saiba mais:
>> Missionários Feridos - Como cuidar dos que servem, Antonia Leonora van der Meer
>>Sangue, Sofrimento e Fé – A missão cristã em contextos de perseguição, Antonia Leonora van der Meer | William Taylor | Reg Reimer, ORG.
>> Os Últimos Dias de Jesus- O que de fato aconteceu?, N. T. Wright | Craig A. Evans
>> O que os pregadores falam na Páscoa
>> Jerusalém, Ano 33: três dias de tensão
Lembramo-nos no período da Quaresma do sofrimento de Jesus, geralmente pensando principalmente nas terríveis dores físicas – que foram realmente muito duras, com dores inimagináveis – e no corpo já dilacerado pelos açoites, pendurado de forma violenta. Mas creio que o sofrimento mais doloroso foi a solidão, uma dor do coração e, mais ainda, uma dor espiritual: sua alma pura sobrecarregada com todos os pecados, de todas as épocas, de bilhões de pessoas.
Isso causou em Jesus uma profunda angústia e uma dor crucial da luta no Getsêmani, vendo com clareza as trevas dominantes nesse cálice doloroso, quando clamou a Deus por três vezes por libertação e por três vezes se entregou para fazer a vontade do Pai. Mas os seus amigos, que deviam apoiá-lo em oração, não entenderam nada da dor mais intensa, inimaginável, que o levou a um grito do sofrimento pelo desamparo de Deus, nas três horas de trevas físicas e espirituais sofridas na cruz, quando ficou sobrecarregado pelos pecados de todos nós, e dos pecadores de todas as nações. (Mt 26.36-40 e 27.45-46).
Antes de continuar pensando em Jesus, vamos refletir um pouco no sofrimento dos missionários. Não quero tratar os missionários como mártires, nem estimular pena, mas sim compreensão.
Quais são os sofrimentos mais comuns dos missionários? Enfermidades graves como malária – que causa febres altas, muita dor e fraqueza – e muitas outras, como por exemplo o câncer, que acontece em qualquer lugar, mas o sofrimento é maior quando o país não tem os recursos necessários, aí há muita insegurança e sofrimento maior até encontrar um lugar e forma de tratamento. Acidentes graves, também em contextos onde faltam os recursos. E se o próprio missionário sofre assim, a angústia é ainda maior quando se trata do sofrimento dos seus filhos. Há também, a possibilidade de sequestros e de feridas causadas pela guerra, ou violência urbana e o sofrimento causado por notícias de enfermidades graves ou morte de seus queridos no país de origem. Isso falando do sofrimento tanto físico como emocional, que causa dor no coração e às vezes sentimento de abandono, se não houver o apoio e a compreensão necessários.
Mas há outras dores, mais emocionais e espirituais. Missionários que amam o povo, investiram todo seu esforço para aprender a língua e adaptar-se à cultura e, inesperadamente, recebem o aviso de que têm sete dias ou 24 horas para sair do país. Ou simplesmente que seu visto não será renovado. Como organizar tudo, em tão pouco tempo? Será que algum dia vão voltar? Isso causa dor, trauma, dúvidas... “Será que entendi tudo errado, e não foi Deus que me chamou e me guiou? E se foi Ele, por que permite essa situação? Será que Ele me ouve, me entende? E minha igreja vai entender?”. São questões que devem ser tratadas com oração e acompanhamento, com cuidado e paciência.
A dor da “reentrada” é algo que poucos conseguem entender. “Você estava vivendo naquele contexto cheio de violência, onde faltavam muitas coisas básicas, agora voltou para seu país e em vez de estar muito feliz fica aí sofrendo pelo país e povo que deixou para trás? Está sofrendo um complexo de culpa?” Eu vivi essa dor e fiquei por um tempo sem coragem para abrir meu coração para outra pessoa e até imaginei que estava ficando louca, até que um casal canadense me mandou um livrinho “Re-entry”, que descrevia tudo o que eu sentia. Que alívio, sou normal, e isso vai passar.
Nesses momentos de dor, de solidão, de não se sentir compreendido podemos encontrar conforto sabendo que Jesus sofreu todas essas lutas e angústias, e prometeu que nunca jamais nos abandonaria. Assim a reflexão sobre os sofrimentos de Jesus no Getsêmani e na cruz, além de refletir toda a riqueza do imensurável amor de Deus pelos pecadores como nós, tem essa dimensão adicional de fazer-nos sentir o quanto ele está perto de nós, e nos abraça com carinho e compreensão quando sofremos as dores típicas de missionários transculturais.
Jesus é nosso sumo sacerdote intercessor que entende nossas lutas e sabe compadecer-se de nossas fraquezas, foi tentado em todas as coisas à nossa semelhança e por isso podemos aproximar-nos do trono de graça com toda confiança para receber misericórdia e graça para cada situação e luta. (Hb 4.14-16).
Por isso, o cristão e, especificamente o missionário (e a missionária), não deve estranhar o fogo que surge para colocá-lo à prova. Mas pode desenvolver uma alegria por ser coparticipante dos sofrimentos de Cristo e para se alegrar quando ele é revelado em sua glória. Essa é uma alegria que só podemos entender quando estamos dispostos a abrir mão de nossas preferencias pessoais e nos dispomos a trilhar o caminho da cruz, onde haverá dor, e também conforto e uma alegria que nada pode nos roubar (1Pe 4.12-13).
Damos graças a Deus pelo seu maravilhoso amor imerecido e porque todos podemos, na hora da dor, buscar sua presença, seu consolo e receber o apoio necessário.
Antonia Leonora van der Meer, professora de missiologia, serviu durante dez anos em Angola. É autora de Eu, Um Missionário?, Missionários Feridos e O Estudo Bíblico Indutivo.
Saiba mais:
>> Missionários Feridos - Como cuidar dos que servem, Antonia Leonora van der Meer
>>Sangue, Sofrimento e Fé – A missão cristã em contextos de perseguição, Antonia Leonora van der Meer | William Taylor | Reg Reimer, ORG.
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>> O que os pregadores falam na Páscoa
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