Opinião
- 03 de abril de 2012
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O Senhor morto e o Senhor vivo
Na próxima sexta-feira, a cristandade vai lembrar
a morte de Jesus e, no próximo domingo, a sua ressurreição. São dois eventos históricos, um atrás do outro. Não vale a pena comemorar o primeiro se não comemorarmos o segundo. Nesse caso, é melhor abrir mão de ambos, da crucificação e da ressurreição.
No gramado entre o refeitório e o pavilhão de aulas do Centro Evangélico de Missões, em Viçosa (MG), temos uma imponente cruz vazada. Essa cruz anuncia os dois grandes eventos da Semana da Paixão (ou Semana Santa): a morte e a ressurreição de Jesus. A cruz não-vazada, que está em toda parte (nas igrejas, nos cemitérios, em algumas repartições públicas, nos colares e broches e na lapela de muitos casacos) nos leva ao Senhor Morto. E a cruz vazada nos leva ao Senhor Ressuscitado. A cruz vazada precisa estar na consciência coletiva e na memória de cada cristão.
O Senhor Morto tem um significado enorme e sublime. O Senhor Ressuscitado também tem um significado enorme e sublime. Um não é mais importante do que o outro. Ambos formam e são um só bloco, completo, o bloco da redenção. Na sexta-feira colocamos Jesus na cruz e no domingo o tiramos de lá. Esse foi o erro de José de Anchieta conhecido como “o Apóstolo do Brasil”, morto aos 63 anos, há mais de quatro séculos (junho de 1597).
Não por falta de convicção, mas por lamentável omissão, o famoso missionário jesuíta, que veio para cá como noviço aos 19 anos, esqueceu-se de mencionar a ressurreição de Jesus em seu catecismo bilíngue (tupi e português), escrito por volta de 1560, intitulado Diálogo da Fé.
Das 616 perguntas e respostas do catecismo de Anchieta, 168 (mais de 25%) invocam acontecimentos da Sexta-feira Santa, desde a saída de Jesus do cenáculo até o seu sepultamento. Anchieta deixa claro que o Senhor morreu por vontade própria e para tornar possível o perdão de Deus. Todavia, nada menciona sobre o túmulo vazio, sobre as diversas aparições de Jesus pelo período de 40 dias, embora na última resposta se diga que “o Senhor Jesus se preparava para viver de novo” (Diálogo da Fé, p. 193). Crianças e adultos, nativos e forasteiros, negros e brancos que estudavam e decoravam o seu catecismo, anos a fio, ficaram sem essa informação clara e preciosa, uma das mais importantes e emocionantes colunas do cristianismo.
A pessoa que não vê Cristo na cruz nem no túmulo, lugares anteriormente ocupados por ele, mas consegue enxergar nitidamente a cruz vazia e o túmulo vazio — essa pessoa pode tranquilamente denominar-se cristã!
Foto: Ana Cláudia Nunes
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