Opinião
- 16 de abril de 2021
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O que se espera da Igreja na (pós) pandemia?
*Conteúdo publicado originalmente na edição 384 de Ultimato.
Eu gostaria de ver a Igreja orando mais. Durante a pandemia ficamos muito tempo em casa e tivemos a oportunidade de desenvolver mais o tempo de oração. Que o hábito seja mantido.
A pandemia que abalou o mundo inteiro, expondo a sua fragilidade, pegou as igrejas também de calças curtas! A necessidade do isolamento flagrou a sua dependência de templos e pastores. Ficou evidente que não cultivamos a vivência, mas o consumo de espiritualidade. Pois, isolada em suas casas, sem as reuniões no templo e a assistência dos “produtores de espiritualidade” (Magnus Malm), a maioria não sabe como exercitar a vida de fé em seu lar. Não aprendeu a meditar na Palavra de Deus, pois bastava-lhe “ruminar” a porção pré-mastigada servida. Não sabe louvar com a própria voz, pois limitava-se a assistir ao louvor vibrante. Não sabe o que fazer com o silêncio, pois até as orações no templo contavam com o embalo dispersivo de um fundo musical. Não sabe como lidar com o sofrimento, a dor e a morte, pois os sermões só falavam de bênçãos e vitórias…
Aproveitando o fato de que fomos obrigados a sair das quatro paredes do templo durante a pandemia, seria oportuno a Igreja sair definitivamente de seu conforto rotineiro e voltar a atenção para a sociedade da qual faz parte. Na missão de Deus, Cristo envia a sua Igreja para dentro do mundo e não a isola da realidade das pessoas que vivem em seu entorno. É hora de a Igreja ser missional e fazer diferença dentro de um contexto permeado por injustiça social, cultura do jeitinho desonesto, corrupção sistêmica e sistemática e pobreza institucionalizada. Ao mesmo tempo a Igreja brasileira precisa assumir sua responsabilidade pela evangelização completa de nosso país, focando nos grupos ainda pouco evangelizados, mesmo que isso exija investimento de tempo e de finanças que não dão o retorno rápido e o ibope almejados pelas lideranças eclesiásticas de ideologia empresarial. Somos abençoados por Deus, com recursos e com crescimento, para promover o seu reino e os seus valores, tanto em nossa pátria como ao redor do mundo (Sl 67).
Bertil Ekström
A Igreja brasileira engloba uma vasta gama de denominações e igrejas independentes, desde pequenas comunidades até megaestruturas corporativas. A atual crise da Covid-19 explicitou profundas divisões entre essas instituições, mas também provou a força evangélica de amor encarnado em muitos gestos de serviço aos afetados pela pandemia. Um gargalo, entretanto, que tanto igrejas grandes quanto pequenas demonstram é a dificuldade de compreender o lugar das ciências na vida da sociedade e da Igreja – gargalo que tem, infelizmente, custado vidas e colocado em xeque o próprio testemunho da Igreja. Ao corretamente rejeitar o “imperialismo científico” – a tendência que alguns têm de apresentar a ciência como o único domínio de conhecimento válido –, cristãos têm deixado de reconhecer as raízes cristãs da ciência e de acolhê-la em sua importância para a vida social. Concedo que integrar fé e ciência não seja trivial, mas acredito ser essa uma das tarefas mais importantes para a Igreja nos difíceis anos que nos aguardam.
Marcelo Braga Cabral
A Igreja cristã precisa de arrependimento. Por seu afastamento das reais dores do povo, agora escancaradas pela Covid-19. Por seu flerte constante com o poder, não importa se de direita ou esquerda. A Igreja quer ser adulada e admirada, mas, como disse Warren Wiersbe, “Jesus não está edificando uma sociedade de admiração mútua. Ele está construindo sua Igreja”. A Igreja se afastou da pregação da vitória sobre o pecado, da mudança real de vida, dos frutos da santificação. A Igreja tem negociado valores e, neste tempo de pandemia, a questão financeira, embora inegável, não pode ser o padrão para o comportamento indolente de muitas lideranças influentes. A Igreja precisará reequilibrar-se naquilo que, pelo menos para nós de origem wesleyana, sempre foi importante: “Unir ciência e piedade vital”. Ser uma Igreja inteligente, ativa, que estuda e compreende, capaz de discernir tempos e épocas. Porque nós vimos que, uma vez que o templo e a oportunidade das “grandes produções gospel” nos foram tirados, a única saída real foi a volta à Palavra. Apenas a pregação bíblica autêntica, sob a unção do Espírito, sustenta a esperança e libera poder nos tempos difíceis.
Hideide Brito Torres
A liberdade de culto nos permitia fazer dos cultos eventos com atrações, segundo a agenda anual. Nada nos faltava segundo as medidas de crescimento de igrejas no mundo livre. Porém, o isolamento social chegou. Logo percebeu-se que nem tudo que fazíamos era fundamental. O chamado importante era temporal, talvez até egocêntrico e comercial. Estávamos ocupados, fazíamos, porém a motivação nem sempre era o genuíno ministério.
A essencialidade da Igreja é determinada por Deus, e não pelos governantes; a paralisação de expedientes e liturgias públicas jamais serão indicativos de interrupção da dinâmica e da missão da Igreja de Jesus. Contudo, nestes dias de pandemia, o confinamento familiar, o distanciamento forçado e a iminente ameaça de um vírus mortal revelaram a consistência ou inconsistência da fé e da eclesiologia até então vividas por cada um de nós.
Espero uma igreja transformadora. A atual crise sanitária, atrelada à conjuntura política e econômica, tem tido uma forte repercussão sobre a vida da população em geral e, de forma mais contundente, sobre a vida dos mais pobres. Outro fenômeno que essa situação acentuou é que não é possível elaborar reflexões sobre as igrejas, entendendo-as como iguais. Pensar a Igreja nos dias atuais é considerar que são diferentes, e o que as diferencia são as respostas que têm dado às necessidades humanas. A Igreja pós-pandemia resultará da sua ação junto aos necessitados antes e durante a pandemia. Uma Igreja que sempre esteve omissa diante dos clamores por justiça possivelmente não mudará sua postura. No entanto, a Igreja que se sensibilizou, se organizou, se reinventou para melhor cuidar certamente entendeu seu propósito no mundo. Entendo que a Igreja pós-pandemia precisará exercitar sua capacidade transformadora, por meio de uma espiritualidade misericordiosa e fundamentada na justiça, ampliando, assim, suas ações geradoras de vida digna para todas as pessoas.
Valdenice José Raimundo
Em primeiro lugar, espero que não seja possível voltarmos a ser Igreja como nós éramos. Oro para que, quando nos reencontrarmos, tenhamos a coragem e a humildade necessárias para, pelo menos, perguntarmos: (1) O que Jesus pensa da nossa Igreja?; (2) Que Igreja Jesus espera que sejamos?; (3) Estamos dispostos a recomeçar a partir de Cristo, enxergando a necessidade de conversão pessoal e comunitária?
Uma Igreja mais quebrantada. Essa impensável pandemia tem ceifado vidas, destruído sonhos e encurralado a esperança. Momentos de sofrimento que certamente carecem de conforto e consolo. Mas ela é também um chamado de Deus para o quebrantamento. A Palavra nos lembra com bastante frequência que Deus usa esses insuportáveis desertos para colocar em xeque nossa ilusão de autossuficiência e nos moldar para que sejamos vasos de honra. Talvez a figura bíblica mais apropriada seja a do oleiro, que em Jeremias 18 refaz um vaso quebrado “segundo bem lhe pareceu” (v. 4). Quebrantamento para nos apegarmos mais à Palavra do que aos chavões, para buscarmos mais piedade do que o sucesso e para nos envolvermos menos conosco e mais com a missão. Oro pela Igreja brasileira pelos mesmos motivos que oro pelo meu próprio coração, para que essa crise (e qualquer crise) nos leve a sermos mais bíblicos, piedosos e missionários.
Ronaldo Lidório
Colaboraram para a produção deste artigo:
• Armando Bispo, pastor titular da Igreja Batista Central de Fortaleza (IBC) desde 1983. Casado com Heloiza, duas filhas e quatro netos.
• Bertil Ekström, pastor batista e professor de teologia e de missiologia.
• Durvalina Bezerra, diretora-geral do Centro Teológico e Missiológico Betel Brasileiro e integrante do Conselho de Referência da Aliança Evangélica Brasileira.
• Hideide Brito Torres, bispa da Igreja Metodista – Oitava Região Eclesiástica (DF, GO, MT, TO).
• Marcelo Braga Cabral, gerente editorial e de ensino da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (ABC2).
• Martin Weingaertner, pastor luterano, professor de teologia na FATEV, em Curitiba, PR, e editor do devocionário Orando em Família. Casado com Ursula, cinco filhos e nove netos.
• Bebeto Araújo, diretor nacional da Missão Aliança.
• Ronaldo Lidorio, pastor presbiteriano e missionário ligado à APMT e WEC.
• Silas Tostes, presidente da Missão Antioquia e do Conselho Gestor da Aliança Evangélica Brasileira.
• Valdenice José Raimundo, professora da Universidade Católica de Pernambuco, integrante da Pastoral da Negritude Rosa Parks e facilitadora da Escola de Fé e Política Pastor Martin Luther King Jr., da Igreja Batista em Coqueiral, Recife, PE.
Eu gostaria de ver a Igreja orando mais. Durante a pandemia ficamos muito tempo em casa e tivemos a oportunidade de desenvolver mais o tempo de oração. Que o hábito seja mantido.
Uma Igreja com uma fé robusta, fortalecida na fé. A experiência nova de estarmos diante de um vírus letal revelou a fragilidade humana, a limitação da ciência, a incerteza quanto à economia, e tudo isso comprovou a necessidade do exercício da fé nas promessas do Deus Todo-Poderoso.
A Igreja reflete a espiritualidade vivida em família. O culto doméstico foi retomado. Espero ver a comunidade mais madura nos relacionamentos.
Temos tido uma imensidão de lives, cultos e conferências on-line de muitas igrejas. Espero que o conhecimento bíblico e a paixão pela Palavra tenham marcado a vida da Igreja.
Gostaria de ver uma Igreja mais solidária. A situação de vulnerabilidade e as dificuldades econômicas vividas por muitos provocaram atitudes generosas por parte da população. Isto deve marcar a Igreja pós-pandemia.
Uma Igreja mais comprometida com a missão. Essa pandemia nos faz dirigir o olhar aos sinais dos tempos, ao tempo do fim. E isso deve nos apressar para fazer a luz do evangelho chegar a todos os povos da Terra.
Durvalina BezerraA pandemia que abalou o mundo inteiro, expondo a sua fragilidade, pegou as igrejas também de calças curtas! A necessidade do isolamento flagrou a sua dependência de templos e pastores. Ficou evidente que não cultivamos a vivência, mas o consumo de espiritualidade. Pois, isolada em suas casas, sem as reuniões no templo e a assistência dos “produtores de espiritualidade” (Magnus Malm), a maioria não sabe como exercitar a vida de fé em seu lar. Não aprendeu a meditar na Palavra de Deus, pois bastava-lhe “ruminar” a porção pré-mastigada servida. Não sabe louvar com a própria voz, pois limitava-se a assistir ao louvor vibrante. Não sabe o que fazer com o silêncio, pois até as orações no templo contavam com o embalo dispersivo de um fundo musical. Não sabe como lidar com o sofrimento, a dor e a morte, pois os sermões só falavam de bênçãos e vitórias…
Temos necessidade de reaprumar-nos sobre o fundamento, que é Cristo. Que os membros da Igreja redescubram o que significa viver na dependência do Senhor! E que os líderes aprendam a fazer-lhes retaguarda para encorajá-los a caminhar com os próprios pés e alcançar maturidade.
Martin WeingaertnerAproveitando o fato de que fomos obrigados a sair das quatro paredes do templo durante a pandemia, seria oportuno a Igreja sair definitivamente de seu conforto rotineiro e voltar a atenção para a sociedade da qual faz parte. Na missão de Deus, Cristo envia a sua Igreja para dentro do mundo e não a isola da realidade das pessoas que vivem em seu entorno. É hora de a Igreja ser missional e fazer diferença dentro de um contexto permeado por injustiça social, cultura do jeitinho desonesto, corrupção sistêmica e sistemática e pobreza institucionalizada. Ao mesmo tempo a Igreja brasileira precisa assumir sua responsabilidade pela evangelização completa de nosso país, focando nos grupos ainda pouco evangelizados, mesmo que isso exija investimento de tempo e de finanças que não dão o retorno rápido e o ibope almejados pelas lideranças eclesiásticas de ideologia empresarial. Somos abençoados por Deus, com recursos e com crescimento, para promover o seu reino e os seus valores, tanto em nossa pátria como ao redor do mundo (Sl 67).
Bertil Ekström
A Igreja brasileira engloba uma vasta gama de denominações e igrejas independentes, desde pequenas comunidades até megaestruturas corporativas. A atual crise da Covid-19 explicitou profundas divisões entre essas instituições, mas também provou a força evangélica de amor encarnado em muitos gestos de serviço aos afetados pela pandemia. Um gargalo, entretanto, que tanto igrejas grandes quanto pequenas demonstram é a dificuldade de compreender o lugar das ciências na vida da sociedade e da Igreja – gargalo que tem, infelizmente, custado vidas e colocado em xeque o próprio testemunho da Igreja. Ao corretamente rejeitar o “imperialismo científico” – a tendência que alguns têm de apresentar a ciência como o único domínio de conhecimento válido –, cristãos têm deixado de reconhecer as raízes cristãs da ciência e de acolhê-la em sua importância para a vida social. Concedo que integrar fé e ciência não seja trivial, mas acredito ser essa uma das tarefas mais importantes para a Igreja nos difíceis anos que nos aguardam.
Marcelo Braga Cabral
A Igreja cristã precisa de arrependimento. Por seu afastamento das reais dores do povo, agora escancaradas pela Covid-19. Por seu flerte constante com o poder, não importa se de direita ou esquerda. A Igreja quer ser adulada e admirada, mas, como disse Warren Wiersbe, “Jesus não está edificando uma sociedade de admiração mútua. Ele está construindo sua Igreja”. A Igreja se afastou da pregação da vitória sobre o pecado, da mudança real de vida, dos frutos da santificação. A Igreja tem negociado valores e, neste tempo de pandemia, a questão financeira, embora inegável, não pode ser o padrão para o comportamento indolente de muitas lideranças influentes. A Igreja precisará reequilibrar-se naquilo que, pelo menos para nós de origem wesleyana, sempre foi importante: “Unir ciência e piedade vital”. Ser uma Igreja inteligente, ativa, que estuda e compreende, capaz de discernir tempos e épocas. Porque nós vimos que, uma vez que o templo e a oportunidade das “grandes produções gospel” nos foram tirados, a única saída real foi a volta à Palavra. Apenas a pregação bíblica autêntica, sob a unção do Espírito, sustenta a esperança e libera poder nos tempos difíceis.
Hideide Brito Torres
A liberdade de culto nos permitia fazer dos cultos eventos com atrações, segundo a agenda anual. Nada nos faltava segundo as medidas de crescimento de igrejas no mundo livre. Porém, o isolamento social chegou. Logo percebeu-se que nem tudo que fazíamos era fundamental. O chamado importante era temporal, talvez até egocêntrico e comercial. Estávamos ocupados, fazíamos, porém a motivação nem sempre era o genuíno ministério.
Agora alijados da performance da agenda, do que mesmo sentimos falta? Não nos faltaram lives, videoconferências, até mesmo aniversários, casamentos e funerais on-line. Do que mesmo sentimos falta?
No pós-pandemia, espero que tenhamos aprendido a saciar a alma com mais comunhão como irmãos. Que tenhamos mais exposição bíblica que fundamente a nossa comunhão com Deus. Assim como o nosso serviço e amor num mundo sem todas as respostas e unidade.
Do que mesmo sentimos falta? Comunhão com Deus, uns com os outros, amor e serviço segundo os valores do reino de Deus. Menos ministério humano, mais ministério do Espírito Santo.
Silas TostesA essencialidade da Igreja é determinada por Deus, e não pelos governantes; a paralisação de expedientes e liturgias públicas jamais serão indicativos de interrupção da dinâmica e da missão da Igreja de Jesus. Contudo, nestes dias de pandemia, o confinamento familiar, o distanciamento forçado e a iminente ameaça de um vírus mortal revelaram a consistência ou inconsistência da fé e da eclesiologia até então vividas por cada um de nós.
O futuro depende de quanto seremos capazes de compreender que essa pandemia desnudou a nossa dependência dos “eventos e das estruturas” e o distanciamento da organicidade e da simplicidade dos “encontros e relacionamentos” com Deus e com as pessoas.
Minha expectativa é que tenhamos aprendido a lição de que não fomos feitos para viver primordialmente em torno de um templo no estilo Babel, centrados nas estruturas e nas celebridades. A essência que prevalecerá será o “encontro” pessoal e diário com Deus e o relacionamento do organismo que ama e serve na liturgia que se faz plena de casa em casa, a exemplo do Êxodo, da última Ceia e da matriz de Pentecostes.
Armando BispoEspero uma igreja transformadora. A atual crise sanitária, atrelada à conjuntura política e econômica, tem tido uma forte repercussão sobre a vida da população em geral e, de forma mais contundente, sobre a vida dos mais pobres. Outro fenômeno que essa situação acentuou é que não é possível elaborar reflexões sobre as igrejas, entendendo-as como iguais. Pensar a Igreja nos dias atuais é considerar que são diferentes, e o que as diferencia são as respostas que têm dado às necessidades humanas. A Igreja pós-pandemia resultará da sua ação junto aos necessitados antes e durante a pandemia. Uma Igreja que sempre esteve omissa diante dos clamores por justiça possivelmente não mudará sua postura. No entanto, a Igreja que se sensibilizou, se organizou, se reinventou para melhor cuidar certamente entendeu seu propósito no mundo. Entendo que a Igreja pós-pandemia precisará exercitar sua capacidade transformadora, por meio de uma espiritualidade misericordiosa e fundamentada na justiça, ampliando, assim, suas ações geradoras de vida digna para todas as pessoas.
Valdenice José Raimundo
Em primeiro lugar, espero que não seja possível voltarmos a ser Igreja como nós éramos. Oro para que, quando nos reencontrarmos, tenhamos a coragem e a humildade necessárias para, pelo menos, perguntarmos: (1) O que Jesus pensa da nossa Igreja?; (2) Que Igreja Jesus espera que sejamos?; (3) Estamos dispostos a recomeçar a partir de Cristo, enxergando a necessidade de conversão pessoal e comunitária?
Seria muito bom que nos tornássemos uma Igreja mais fraterna, mais sensível, mais encarnada, mais corajosa, mais comprometida com a defesa da vida e com a prática da justiça. Uma Igreja com um coração samaritano. Uma Igreja que volta os olhos para o seu Senhor e redefine a sua agenda a partir da vida, ensino e exemplo dele, Jesus de Nazaré – a encarnação da misericórdia de Deus. Misericórdia que se manifesta por meio de um gesto concreto: ele “deu o seu único Filho”.
Portanto, misericórdia não é uma ideia abstrata, é uma atitude! Quem foi alcançado pela misericórdia de Deus não pode deixar de partilhar uma porção dela com os que estão caídos à beira do caminho. Que a Igreja brasileira nunca esqueça que a prática da misericórdia é o critério por excelência para indicar quem de fato é discípulo e discípula de Jesus de Nazaré.
Bebeto AraújoUma Igreja mais quebrantada. Essa impensável pandemia tem ceifado vidas, destruído sonhos e encurralado a esperança. Momentos de sofrimento que certamente carecem de conforto e consolo. Mas ela é também um chamado de Deus para o quebrantamento. A Palavra nos lembra com bastante frequência que Deus usa esses insuportáveis desertos para colocar em xeque nossa ilusão de autossuficiência e nos moldar para que sejamos vasos de honra. Talvez a figura bíblica mais apropriada seja a do oleiro, que em Jeremias 18 refaz um vaso quebrado “segundo bem lhe pareceu” (v. 4). Quebrantamento para nos apegarmos mais à Palavra do que aos chavões, para buscarmos mais piedade do que o sucesso e para nos envolvermos menos conosco e mais com a missão. Oro pela Igreja brasileira pelos mesmos motivos que oro pelo meu próprio coração, para que essa crise (e qualquer crise) nos leve a sermos mais bíblicos, piedosos e missionários.
Ronaldo Lidório
Colaboraram para a produção deste artigo:
• Armando Bispo, pastor titular da Igreja Batista Central de Fortaleza (IBC) desde 1983. Casado com Heloiza, duas filhas e quatro netos.
• Bertil Ekström, pastor batista e professor de teologia e de missiologia.
• Durvalina Bezerra, diretora-geral do Centro Teológico e Missiológico Betel Brasileiro e integrante do Conselho de Referência da Aliança Evangélica Brasileira.
• Hideide Brito Torres, bispa da Igreja Metodista – Oitava Região Eclesiástica (DF, GO, MT, TO).
• Marcelo Braga Cabral, gerente editorial e de ensino da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (ABC2).
• Martin Weingaertner, pastor luterano, professor de teologia na FATEV, em Curitiba, PR, e editor do devocionário Orando em Família. Casado com Ursula, cinco filhos e nove netos.
• Bebeto Araújo, diretor nacional da Missão Aliança.
• Ronaldo Lidorio, pastor presbiteriano e missionário ligado à APMT e WEC.
• Silas Tostes, presidente da Missão Antioquia e do Conselho Gestor da Aliança Evangélica Brasileira.
• Valdenice José Raimundo, professora da Universidade Católica de Pernambuco, integrante da Pastoral da Negritude Rosa Parks e facilitadora da Escola de Fé e Política Pastor Martin Luther King Jr., da Igreja Batista em Coqueiral, Recife, PE.
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