Opinião
- 04 de agosto de 2017
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O que se aprende na igreja?
Por Cláudio Marra
A história do povo de Deus mostra que, em seus melhores momentos, a igreja foi um lugar de ensino.
Quando Israel se aproximou de Canaã, a lei foi repetida e Moisés deixou clara a importância de ela ser ensinada às futuras gerações (Dt 6.1-9). O processo educativo seria fundamental para a preservação da identidade, da fé e da cultura em Israel.
Além dos pais, o Senhor responsabilizou também os sacerdotes e os anciãos de Israel pela transmissão da lei (Dt 31.12-13).
Os israelitas, porém, foram abandonando o ensino da lei aos seus descendentes (Dt 5.24-29; 11.19). As gerações seguintes não conheciam seu Deus, nada sabiam de suas palavras e atos em favor de Israel e passaram a servir outros deuses (Jz 2.10-11). Uns poucos reis e profetas tementes a Deus esforçaram-se para promover o ensino da lei.
Foi o que fez Josafá, que enviou príncipes, levitas e sacerdotes para ensinar o povo (2Cr 17.7-9). Ezequias restaurou a contribuição aos sacerdotes e levitas, “para que pudessem dedicar-se à lei do Senhor” (2Cr 31.4). Seu bisneto Josias redescobriu a Lei e em seus dias os levitas “ensinavam a todo o Israel” (2Cr 35.3). Um dos mais notáveis líderes de Judá pós-cativeiro foi Esdras, o sacerdote e escriba que “tinha disposto o coração para (...) ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos” (Ed 7.10).
Quando a maioria das famílias parou de ensinar a Lei aos seus filhos, líderes tementes a Deus pensaram em uma alternativa para continuar o ensino da Lei para as novas gerações, o que resultou nas sinagogas. Esse era o sistema adotado na sociedade judaica na época de Jesus. A sinagoga era o centro de estudo da Lei, Jesus a frequentou regularmente e ensinou lá (Lc 4.16-21). Paulo, o apóstolo, igualmente tirou vantagem das oportunidades que as sinagogas ofereciam (At 17.1-2), porém, a igreja cristã promoveu o ensino da Palavra em suas próprias reuniões (At 2.42; 11.26; 13.1;), sendo a aptidão para ensinar uma das exigências para os candidatos ao presbiterato (1Tm 3.2; 5.17; 2Tm 4.2; Tt 1.9; 1Pe 1.22-25).
Nos primeiros anos da igreja cristã, surgiu a catequese integrada ao ensino nos lares e à adoração comunitária (At 20.20; 1Tm 4.13). Já no segundo século havia as escolas de catequese, com ensino avançado para futuros líderes. Vários deles associaram seu nome ao ensino na igreja: Justino Mártir (100-165), Irineu de Lião (130-200), Clemente (150-215), Gregório o Iluminador (240-332), João Crisóstomo (347-407), Agostinho de Hipona (354-430), Gregório Magno (540-604), entre outros. O sexto Concílio de Constantinopla (c.680) decretou que escolas deveriam ser estabelecidas para ensinar o cristianismo em pequenas localidades.
A Idade Média viu a Renascença Carolíngia no século oitavo, sob a liderança de Alcuíno (735-804); a dedicação dos Dominicanos ao ensino; e o reavivamento do ensino nos séculos 10 e 11.
A Reforma ocasionou a maior das revoluções no ensino, provavelmente por causa da sua insistência no ensino como um componente crítico do trabalho do pastor. Martinho Lutero enfatizou a centralidade da instrução doméstica. Philipp Melanchthon sugeriu que um dia por semana deveria ser separado para a instrução religiosa e estabeleceu escolas similares à futura Escola Dominical. João Calvino insistia que os pastores eram mestres da fé e exigia que aprender a ensinar fizesse parte do treinamento deles.
O século 17 testemunhou a contribuição dos puritanos e a de Jan Amos Comenius (1592-1670), que via a educação como sendo o melhor meio para a glorificação de Deus. A Bíblia não apenas ocupava lugar central no currículo puritano, mas era também o modelo adotado por eles para avaliar as outras disciplinas. O século 18 viu um grande esforço em favor do ensino no ministério de John Wesley (1703-1791).
As igrejas adotaram a Escola Dominical e passaram a alcançar crianças e adultos de diferentes níveis sociais, e não apenas crianças carentes. Até ali, o ensino na igreja, além das pregações, apoiava-se em um sistema de instrução privada e de visitação às famílias por parte do pastor e dos presbíteros, com a catequese sendo conduzida nas casas. Esse modelo resultou da Reforma do século 16 e foi trazido para as colônias americanas pelos puritanos e outros imigrantes da Europa. No século 19 a Escola Dominical já era quase universalmente aceita entre os evangélicos.
A pregação da Palavra nos cultos e o ensino da Escritura na Escola Dominical foi o modelo trazido ao Brasil por metodistas, congregacionais, presbiterianos e batistas, pioneiros na pregação do evangelho neste país, seguidos de outros irmãos.
Essa história exibe de modo claro o lugar do ensino na igreja, tal como a entendemos.
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Photo by Megan Soule on Unsplash
A história do povo de Deus mostra que, em seus melhores momentos, a igreja foi um lugar de ensino.
Quando Israel se aproximou de Canaã, a lei foi repetida e Moisés deixou clara a importância de ela ser ensinada às futuras gerações (Dt 6.1-9). O processo educativo seria fundamental para a preservação da identidade, da fé e da cultura em Israel.
Além dos pais, o Senhor responsabilizou também os sacerdotes e os anciãos de Israel pela transmissão da lei (Dt 31.12-13).
Os israelitas, porém, foram abandonando o ensino da lei aos seus descendentes (Dt 5.24-29; 11.19). As gerações seguintes não conheciam seu Deus, nada sabiam de suas palavras e atos em favor de Israel e passaram a servir outros deuses (Jz 2.10-11). Uns poucos reis e profetas tementes a Deus esforçaram-se para promover o ensino da lei.
Foi o que fez Josafá, que enviou príncipes, levitas e sacerdotes para ensinar o povo (2Cr 17.7-9). Ezequias restaurou a contribuição aos sacerdotes e levitas, “para que pudessem dedicar-se à lei do Senhor” (2Cr 31.4). Seu bisneto Josias redescobriu a Lei e em seus dias os levitas “ensinavam a todo o Israel” (2Cr 35.3). Um dos mais notáveis líderes de Judá pós-cativeiro foi Esdras, o sacerdote e escriba que “tinha disposto o coração para (...) ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos” (Ed 7.10).
Quando a maioria das famílias parou de ensinar a Lei aos seus filhos, líderes tementes a Deus pensaram em uma alternativa para continuar o ensino da Lei para as novas gerações, o que resultou nas sinagogas. Esse era o sistema adotado na sociedade judaica na época de Jesus. A sinagoga era o centro de estudo da Lei, Jesus a frequentou regularmente e ensinou lá (Lc 4.16-21). Paulo, o apóstolo, igualmente tirou vantagem das oportunidades que as sinagogas ofereciam (At 17.1-2), porém, a igreja cristã promoveu o ensino da Palavra em suas próprias reuniões (At 2.42; 11.26; 13.1;), sendo a aptidão para ensinar uma das exigências para os candidatos ao presbiterato (1Tm 3.2; 5.17; 2Tm 4.2; Tt 1.9; 1Pe 1.22-25).
Nos primeiros anos da igreja cristã, surgiu a catequese integrada ao ensino nos lares e à adoração comunitária (At 20.20; 1Tm 4.13). Já no segundo século havia as escolas de catequese, com ensino avançado para futuros líderes. Vários deles associaram seu nome ao ensino na igreja: Justino Mártir (100-165), Irineu de Lião (130-200), Clemente (150-215), Gregório o Iluminador (240-332), João Crisóstomo (347-407), Agostinho de Hipona (354-430), Gregório Magno (540-604), entre outros. O sexto Concílio de Constantinopla (c.680) decretou que escolas deveriam ser estabelecidas para ensinar o cristianismo em pequenas localidades.
A Idade Média viu a Renascença Carolíngia no século oitavo, sob a liderança de Alcuíno (735-804); a dedicação dos Dominicanos ao ensino; e o reavivamento do ensino nos séculos 10 e 11.
A Reforma ocasionou a maior das revoluções no ensino, provavelmente por causa da sua insistência no ensino como um componente crítico do trabalho do pastor. Martinho Lutero enfatizou a centralidade da instrução doméstica. Philipp Melanchthon sugeriu que um dia por semana deveria ser separado para a instrução religiosa e estabeleceu escolas similares à futura Escola Dominical. João Calvino insistia que os pastores eram mestres da fé e exigia que aprender a ensinar fizesse parte do treinamento deles.
O século 17 testemunhou a contribuição dos puritanos e a de Jan Amos Comenius (1592-1670), que via a educação como sendo o melhor meio para a glorificação de Deus. A Bíblia não apenas ocupava lugar central no currículo puritano, mas era também o modelo adotado por eles para avaliar as outras disciplinas. O século 18 viu um grande esforço em favor do ensino no ministério de John Wesley (1703-1791).
As igrejas adotaram a Escola Dominical e passaram a alcançar crianças e adultos de diferentes níveis sociais, e não apenas crianças carentes. Até ali, o ensino na igreja, além das pregações, apoiava-se em um sistema de instrução privada e de visitação às famílias por parte do pastor e dos presbíteros, com a catequese sendo conduzida nas casas. Esse modelo resultou da Reforma do século 16 e foi trazido para as colônias americanas pelos puritanos e outros imigrantes da Europa. No século 19 a Escola Dominical já era quase universalmente aceita entre os evangélicos.
A pregação da Palavra nos cultos e o ensino da Escritura na Escola Dominical foi o modelo trazido ao Brasil por metodistas, congregacionais, presbiterianos e batistas, pioneiros na pregação do evangelho neste país, seguidos de outros irmãos.
Essa história exibe de modo claro o lugar do ensino na igreja, tal como a entendemos.
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Casado com Sandra, é jornalista, pastor presbiteriano e editor da Cultura Cristã.
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