Opinião
- 23 de agosto de 2023
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O que Paulo aprendeu com as mães
Por Samara Andrade
Em minhas leituras recentes, chamou-me a atenção três momentos distintos em que o apóstolo Paulo usa de uma analogia entre a maternidade (ou algum aspecto dela) e o discipulado cristão.
1) Dar à luz é um processo doloroso e exigente.
“Meus filhos, novamente estou sofrendo dores de parto por sua causa, até que Cristo seja formado em vocês." (Gl 4:19)
Como uma parturiente que passa por várias fases até que possa, finalmente, ver o rosto da criança que gestou, Paulo declara no versículo acima que levar uma pessoa a Cristo, pelas etapas da conversão e do discipulado, exige esforço e, muitas vezes, fortes dores. Pode-se estender a analogia: o início do trabalho de parto ocorre de forma independente do controle da gestante. Assim também o Espírito é quem inicia o novo nascimento, quando provê ao cristão o privilégio de trazer à luz um filho espiritual.
2) Os bebês não nascem prontos para o alimento sólido.
“Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo.” (1Co 3:2)
Antes que tenham maturidade fisiológica para aproveitar os nutrientes da alimentação própria dos adultos, os bebês precisam do leite materno. Esse alimento exclusivo é especialmente produzido pela mãe para prover ao bebê o que necessita para seu crescimento e desenvolvimento. Igualmente, os bebês espirituais demandam da igreja que haja ensino e trato apropriados para seu crescimento na fé. O leite é imprescindível na tenra idade, e o neófito deve desejá-lo para o crescimento (1 Pe 2.2). Isso porque o discipulado é essencial para lançar as bases da vida cristã madura. Infelizmente, diferente do que ocorre com os bebês, a passagem do tempo pode ter pouca relação com o estado espiritual dos cristãos, que podem manter-se como crianças na fé mesmo muitos anos depois de sua conversão (veja Hebreus 5.12-13).
3) O amor materno é sacrificial.
“...tornamo-nos bondosos entre vocês, como uma mãe que cuida dos próprios filhos. Sentindo, assim, tanta afeição por vocês, decidimos dar-lhes não somente o evangelho de Deus, mas também a nossa própria vida, porque vocês se tornaram muito amados por nós.” (1Ts 2:7-8).
Em diversos momentos Paulo usa a figura de pai para se referir àqueles que gerou na fé. Mas no trecho acima é à imagem de mãe que o apóstolo recorre para deixar claro que o amor que tinha pela igreja de Tessalônica era duradouro e que não media esforços para prover tudo o que estivesse ao seu alcance pelo bem daqueles filhos espirituais. Em tempos como os nossos, em que a maternidade vem sendo desconstruída e atacada, é revigorante ver como Paulo enalteceu tanto a afeição como a doação maternas, utilizando-as como analogia para o cuidado que ele mesmo tinha com os cristãos a quem escreveu.
Como igreja, que possamos acolher e aprender com as mães que estão em nosso meio. Quem ingere alimento sólido deve cuidar de quem alimenta-se de leite. Quem ainda está no leite deve aspirar ao alimento sólido, crescendo na salvação.
Como mães, que possamos refletir a graça de Deus através da nossa maternidade e não apesar dela. Que possamos nos dedicar à geração e ao cuidado de filhos espirituais e que possamos guiar nossos filhos naturais do leite ao alimento sólido também na dimensão espiritual.
- Samara Monteiro de Andrade, 31 anos, farmacêutica e servidora pública. Casada com Davi e mãe do Moisés e da Irene.
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