Opinião
- 29 de setembro de 2020
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O que não podemos fazer online?
Por Vacilius Santos
Quantas coisas estamos descobrindo. Quantas novas oportunidades online. Quantos deslocamentos descobrimos que não precisamos mais fazer. Daqui para frente só vamos a uma conferência ou curso presencial se assim decidirmos. Temos a opção fantástica do home office.
Criamos grupos de oração online, fazemos discipulado online, ministramos a Palavra online, até algumas “visitas” fazemos online.
No entanto, há algumas coisas que não dá para ser online. Os desdobramentos da pandemia não foram capazes de alterar algumas coisas que só podemos fazer offline. E trata-se de coisas fundamentais.
O que definitivamente não podemos fazer online e que é vital para um líder?
Tempo de solitude offline
Retiro pessoal. Todo líder precisa de um “monte” para onde possa fugir e de um “jardim” onde possa chorar as gotas de sangue.
O “monte” é o local e tempo em que não é permitida a influência de ninguém. Isto precisa ser offline. As conexões precisam ser interrompidas. Aquele tempo só pode ser de auto-reflexão e oração. Não pode ser só de oração porque precisamos ficar quietos e ouvir, nem pode ser apenas de reflexão porque derramamos nosso coração.
Aliás, o nosso “Getsêmani” é o jardim onde a nossa alma será melhor derramada. Quantos conflitos, irritabilidade, tensões e percalços porque estamos cheios de coisas que deveríamos ter semeado em nosso jardim mais pessoal.
Se vamos ao “monte” conectados, recebemos todas as influências que invadem e bloqueiam a nossa pessoalidade. E se vamos online ao “jardim”, não seremos capazes de “chorar” o nosso choro, as nossas próprias angústias, antes as dos outros.
A geografia ajuda muito, mas um lugar e um tempo sem interrupções, ligações, mensagens, precisam ser – intencionalmente – criados por nós.
Qual foi a última vez, offline, que você subiu ao “monte” e entrou no “jardim”?
O que mais seria fundamental não ser engolido pelo online?
Tempo de qualidade offline
Tempo de qualidade exclusivo com a família, e mais alguém em quem precisamos investir. Com a família, o ideal é que este tempo fosse diário, ainda que curto.
Porém, não seria possível um tempo de qualidade online? Naturalmente, criamos tempo de qualidade online. Assistimos a um filme juntos, fazemos alguma pesquisa interessante, acessamos vídeos cujo papel é nos fazer rir. Enfim, existe entretenimento online positivo, e, por isso, é possível ter um tempo de qualidade online.
Entretanto, a nossa questão é tempo de qualidade exclusivo e não interferido. É o tempo de olhar nos olhos, e ouvir, sem a menor distração. Em casa, decidimos cultivar este tempo nas refeições. Algumas vezes, precisamos ser intencionais. Fazemos perguntas, e ninguém está online.
Não é assim que devemos agir com os outros, que caminham conosco?
Por que, quando estamos offline para os outros, estamos dizendo aos que estão à nossa frente: “Nada mais interessa, além de você”.
O que mais deve ser offline?
Hospitalidade offline
A hospitalidade nunca será online, ainda que tenhamos momentos incríveis na frente da tela.
Riscos? Sempre haverá. A vida exige que corramos riscos. Vale a pena abrir a porta para receber, e “dar um copo de água” a qualquer um dos “pequeninos” a quem temos acesso.
Precisamos nos cercar de cuidados protetores, ao mesmo tempo em que cuidamos de abrir nossas portas. Elas não podem se fechar, porque seria fechar as portas do acolhimento aos que precisam, assim como fechar as portas das honras em receber “anjos”.
Enfim, em um tempo em que acessar, clicar, conectar... é, irreversivelmente, parte de nós, precisamos estar “off” para o mar de informações, de oportunidades, de lives, de conversas e de reuniões que são “impostas democraticamente” sobre nós.
Quem quiser não apenas não adoecer, antes ser mais saudável ainda, precisa subir o “monte” e derramar-se no “jardim”, precisa ainda sentar-se ao redor da “mesa” da comunhão caseira, informal e intencional, e preparar a “cama” e as “toalhas” para servir aos que chegarem à nossa porta.
• Vacilius Santos é missionário da Sepal em Portugal. Instragam: @vacilius.lima
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