Opinião
- 04 de fevereiro de 2019
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O que há por trás de uma música
Por Sérgio Pavarini
Faltavam poucas horas para a aguardada cerimônia de casamento quando uma tragédia interrompeu os sonhos de José Scriven. Sua noiva morreu afogada e o jovem irlandês decidiu emigrar para o Canadá. Sob a companhia permanente da tristeza, escolheu dedicar sua existência aos pobres e necessitados.
Em reconhecimento ao seu trabalho abnegado e compassivo, moradores da cidade ergueram um monumento em sua homenagem como fruto de gratidão.
Em reconhecimento ao seu trabalho abnegado e compassivo, moradores da cidade ergueram um monumento em sua homenagem como fruto de gratidão.
Um amigo visitou Scriven quando ele estava doente e encontrou uma poesia rabiscada num pedaço de papel. Intitulada “Quão bondoso amigo é Cristo”, fora escrita para consolar a mãe em um momento de angústia profunda. Desde então, milhões de pessoas têm sido confortadas pela inspiração dessas palavras comoventes.
Quão bondoso amigo é Cristo
Revelou-nos seu amor
E nos manda que levemos
A seus pés a nossa dor
Falta ao coração dorido
Gozo, paz, consolação?
É porque não confiamos
Tudo a ele, em oração.
Vivemos tempos em que a depressão está presente no cotidiano de 322 milhões de pessoas, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Nesse quadro cada vez mais complicado, o Brasil é o campeão em transtornos de ansiedade: 9,3% da população sofre com o problema.
Diante de tantos sofrimentos de alma, é possível recorrer a uma prateleira musical de reconhecido poder terapêutico. Ela segue o padrão bíblico de não ocultar fraquezas e temores, mas de compartilhá-los em oração. Se no ambiente corporativo somos instados à eficiência que produz lucros, na igreja temos a oportunidade de redescobrir que somos apenas pó.
Em algum lugar do passado
No século passado ainda não havia celular e o moleque irrequieto usava o Salmos e Hinos para se distrair durante as pregações. Chamava-lhe a atenção a quantidade de menções a uma certa Sarah Poulton Kalley. “Essa mulher parece ter produzido a maior parte do hinário”, pensava.
Anos depois, o adolescente tornou-se organista da igreja e a intimidade com a música sacra aumentou ainda mais. Leitor ávido, devorava tudo o que havia disponível sobre o tema. Fez alguns cursos e passou a reger o coral da igreja. Tinha prazer especial em fazer o convite-trocadilho: “Quem quer entrar no coro?”.
Do jazz ao rock, passei por diversos estilos musicais, porém os hinos continuam ocupando lugar especial no coração. O lançamento de Contando e Cantando, volumes 1 e 2 facilitou a tarefa de quem busca conhecer as histórias altamente inspirativas que se escondem em cada composição. Não são obra para ser lidas, mas degustadas. A cada relato, a leitura da poesia adquire novo significado. Cantarolar baixinho aquece a fé e lágrimas de gratidão tornam o momento singular.
Descansa, ó alma: eis o Senhor ao lado
Paciente leva, e sem queixar-te, a cruz
Deixa o Senhor tomar de ti cuidado
Ele não muda, o teu fiel Jesus!
Prossegue, ó alma: o Amigo celestial
Protegerá teus passos no espinhal
Por um delicioso capricho semântico, a palavra “hino” converteu-se recentemente em adjetivo: “minha mãe é um hino.” Em seu uso mais significativo: “aquela música é um hino”.
É surpreendente que as redes sociais tenham ressignificado um termo que nos é tão caro. Dizem que para conhecer a crença de um povo basta observar o que canta. No caso da fé protestante, nossa história foi entretecida como numa partitura na qual até as pausas têm significado.
Que as páginas dessa afinada dupla de livros renovem e eternizem nossa memória afetiva e musical. Preciosas s(er)ão as horas.
• Sérgio Pavarini é jornalista, musicista e atua nas Redes Sociais.
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