Por Escrito
- 05 de julho de 2019
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O que aprender com John Stott sobre liderança
Por Ricardo Wesley Borges
Quando conheci John Stott, ele já levava 76 anos bem vividos. Naquela época, e nos anos que se seguiram, admito que sua presença não me impressionava por seu vigor, nem sua voz por sua potência. Se tivesse que escolher uma palavra para descrevê-lo, ao menos para esse momento de sua vida, eu usaria uma que a princípio talvez soe pouco elogiosa: frágil.
Talvez lhe pareça estranha a escolha, ou poderia imaginar ser injusta, mas espero conseguir explicar a seguir, de maneira breve, como essa aparente (ou real) fragilidade na verdade nos revela muito sobre o caráter de um bom líder. E que essa pode ter sido inclusive a chave que Stott utilizou para nos deixar lições preciosas sobre liderança.
Recordo que, ao falar sobre os escritos de Stott, eu já tive o privilégio de defender como ainda vale a pena, e muito, continuar a ler Stott. Dessa vez compartilharei minha percepção de que o legado que Stott nos deixou acerca da liderança passa por essa dimensão da fragilidade, não apenas através do que ele escreveu, mas também através de seu exemplo inspirador de um líder servo.
Em uma de suas visitas à América Latina, Stott falou a jovens líderes da Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos (IFES) sobre liderança, palestras que depois se transformariam no livro Desafios da Liderança Cristã. Um de seus pontos foi exatamente esse de que somos fracos, e que isso está longe de ser um problema. Quando reconhecemos que somos vasos frágeis, melhor assim, porque se evidencia que o tesouro não está em nós mesmos, mas na excelência do poder de Deus. Ele também considerou que Deus nos mantém em debilidade para que o seu poder possa se manifestar em nós, apesar de nossa fragilidade.
Um segundo ponto foi quando reconheceu que em nossa vida e ministério às vezes ficamos estancados ou até mesmo esgotados. Para isso, Stott nos sugeriu soluções tão simples como preciosas e eficazes: o descanso (incluindo aí o tempo para a família e os amigos); uma sábia administração do tempo; e o tempo devocional, recarregando as energias e o foco através do cultivo de uma relação pessoal com o Senhor. Outra vez o fez tocando no tema de nossa debilidade. Ou seja, Stott nos apresentou essas recomendações porque reconhecia que somos fracos e que somente através desses hábitos e disciplinas poderíamos preservar ou renovar nossas forças.
Um terceiro reconhecimento de nossa comum fragilidade se deu quando Stott nos recomendou cuidar muito das relações pessoais em nosso ministério. Ele nos recordou que cada um de nós é precioso, preciosa, porque somos criados e amados por Deus. Assim, devemos tratar cada um como se estivéssemos nos relacionando com o próprio Cristo. Dessa maneira, ao tratar sempre cada pessoa com honra, respeito, sabendo escutá-las, nos tornamos melhores líderes. Quem se acha forte, tende a ficar sozinho. Já quem se reconhece débil, busca a força que vem do outro, da comunidade.
Por fim, Stott foi muito sábio ao falar a esse jovem grupo sobre como ser líder em meio à juventude que era marca de nossa (falta de) experiência. Ele falou a jovens que com frequência se creem fortes, invencíveis, que podem tudo, ao mesmo tempo em que sofrem o preconceito ou a desconfiança dos mais experientes. A esses jovens, Stott recomendou que cuidassem de si mesmos, dando exemplo para os demais em sua integridade, mas sempre firmados na autoridade da Palavra de Deus. Exortou que não se esquecessem da oportunidade e do desafio de sempre procurar crescer, aprendendo cada dia algo mais, e oferecer seus dons e sua vida a serviço dos demais, para o bem da comunidade. Assim, um líder frágil poderia crescer através daquele que nos capacita, nos nutre, no acompanha, para o bem de todos.
Teria sido Stott um líder forte? Agradeço a Deus que ele nunca me impressionou com a suposta fortaleza de um grande e carismático líder. Muito melhor que isso, creio que ele nos modelou através da humildade de um servo frágil que reconhece na Palavra, na relação com o Senhor, na comunidade, nas boas disciplinas e nas relações saudáveis as fortalezas de um verdadeiro líder. Assim, podemos também ser líderes frágeis, que tão somente crescem e se fortalecem por causa da graça de Deus presente em nossas vidas. Quando me reconheço fraco, em Cristo me faço forte, deixando um impacto e um legado transformador em todos os lugares onde o Senhor me chama para liderar.
>> Conheça o livro Desafios da Liderança Cristã
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É casado com Ruth e pai de Ana Júlia e Carolina. Integra o corpo pastoral da Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo (SP), serve globalmente como secretário adjunto para o engajamento com as Escrituras na IFES (International Fellowship of Evangelical Students) e também apoia a equipe da IFES América Latina.
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