Opinião
- 03 de novembro de 2015
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O Protestantismo tem futuro?
A Reforma Protestante do Século XVI foi um acontecimento decisivo na construção do mundo moderno. Para além das disputas teológicas, ela contribuiu para o surgimento de liberdades que seriam antes impossíveis.
A Reforma foi decisiva para o avanço da ciência e para o desenvolvimento do método científico, bem como para o desenvolvimento do estado moderno e posteriormente da democracia moderna, e uma sociedade de mercado. A igreja romana condenava o empréstimo a juros e o anseio de lucro como formas de pecado. O protestantismo tornou possível o desenvolvimento do empreendedorismo e a constituição do sistema bancário moderno. Também desenvolveu uma ética do trabalho em que vigoram valores como a honestidade, a boa mordomia, a moderação, a poupança e o sentimento de vocação. E a consequência foi uma forma de ascetismo mundano que gerou todo um estilo de vida que foi o fundamento da moralidade e da cultura ocidentais nos últimos 300 anos.
Quanto às questões da fé, o protestantismo trouxe racionalidade ao culto, à interpretação bíblica e à teologia, eliminou superstições e apocalipticismos, limitou as possibilidades do fanatismo religioso, e democratizou o governo eclesiástico.
É uma pena que o movimento evangélico tenha abandonado o protestantismo, rejeitado suas conquistas, medievalizando-se, retornando às superstições e a uma fé alienada e apocalíptica, preocupada com o sobrenatural e a vida após a morte, em vez de fomentar uma igreja envolvida na construção de um futuro melhor para a humanidade, comprometida com os problemas sociais e com os valores éticos da Reforma.
Sim, ao que tudo indica, o tempo do Protestantismo acabou, e o que resta das igrejas protestantes é um escombro irrelevante, sustentando uma modernidade em crise.
Vivemos hoje tempos pós-modernos em que a religião persiste, mas cresce apenas ao valorizar a irracionalidade e o fanatismo, as interpretações literalistas dos textos sagrados, e a alienação que separa a religião das questões políticas, em vez de, como no protestantismo, apenas separar a igreja e o estado.
O cristianismo continua, mas o protestantismo está em coma. O movimento evangélico, associado ao movimento pentecostal, são movimentos cristãos, mas já não são mais movimentos verdadeiramente protestantes. Daí talvez que a maioria nem mais se lembre, como num ato de bruxaria, do dia 31 de outubro como dia da Reforma Protestante. O resto são abóboras!
• Ricardo Quadros Gouvêa é pastor da Igreja Presbiteriana do Bairro do Limão (São Paulo) e professor do programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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Foto: Bill Hardwick / Freeimages.com
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Sim, ao que tudo indica, o tempo do Protestantismo acabou, e o que resta das igrejas protestantes é um escombro irrelevante, sustentando uma modernidade em crise.
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