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- 07 de janeiro de 2009
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O profeta da desesperança e o profeta da esperança
Ambos são europeus e octogenários. José Saramago, 86 anos, é escritor e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1998. Jürgen Moltmann, 82, é teólogo e um dos maiores pensadores cristãos da atualidade. Os dois estiveram no Brasil no final de 2008. O primeiro recebeu uma homenagem da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, e participou de uma sabatina da Folha de São Paulo. O segundo recebeu o título de Doutor Honoris Causa na Universidade Metodista, em São Bernardo do Campo, SP. A maior diferença entre os dois ilustres visitantes é que o português José Saramago é o profeta da desesperança e o alemão Jürgen Moltmann é o profeta da esperança.
No debate realizado no dia 28 de novembro no Teatro Folha, Saramago fez sua pública profissão de fé: “Não quero ofender ninguém, mas Deus simplesmente não existe, salvo na cabeça das pessoas, onde estão o Diabo, o mal e o bem. Inventamos Deus porque tínhamos medo de morrer, acreditávamos que talvez houvesse uma segunda vida”. Apesar da idade avançada e de ter ficado internado num hospital recentemente, entre a vida e a morte, o escritor não atribui a sua sobrevivência a Deus: “Quem me salvou foram os médicos e a minha mulher”. E para provocar os que têm fé, repetiu a velha zombaria de todos os céticos: “E Deus se esqueceu de Santa Catarina?” Na mesma ocasião, Saramago afirmou que a Bíblia “não é um livro que se possa deixar nas mãos de um inocente,” pois “só tem maus conselhos, assassinatos, incestos...”
Em compensação, Jürgen Moltmann, que começou a se interessar seriamente pela teologia aos 22 anos em um campo de prisioneiros de guerra na Escócia, afirma em seu livro Vida, Esperança e Justiça — um testemunho teológico para a América Latina que, “quando morremos, sabemos que do outro lado da margem do rio está Jesus” e “ele nos espera para a festa da vida eterna”.
Moltmann é a maior autoridade na área de esperança cristã graças aos seus estudos e livros. Para ele a base da esperança é Jesus Cristo. Basta ler o que escreve em Teologia da Esperança:
“Sem o conhecimento de Cristo pela fé, a esperança se torna uma utopia que paira em pleno ar; sem a esperança, entretanto, a fé decai, torna-se fé pequena e finalmente morta. Por meio da fé, o homem entra no caminho da verdadeira vida, não somente a esperança o conserva neste caminho. Desta forma a fé em Cristo transforma a esperança em confiança e certeza; e a esperança torna a fé em Cristo ampla e lhe dá vida”.
Em 1948, o jovem Moltmann teve que confrontar um problema muito mais complexo que as chuvas e as enchentes de Santa Catarina. A grande pergunta da época era “como se pode falar de Deus depois de Auschwitz?”. Num relato autobiográfico, o profeta da esperança conta: “Nos campos na Bélgica e na Escócia experimentei o colapso das minhas certezas, e neste colapso encontrei uma nova esperança na vida cristã”. A partir de então, Moltmann começou a se perguntar: “Como se pode não falar de Deus depois de Auschwitz?”.
Ao conceder o título de Doutor Honoris Causa a Jürgen Moltmann no último aniversário da Reforma Protestante (31 de outubro de 2008), a Universidade Metodista de São Bernardo do Campo prestou uma homenagem muito justa ao arauto da esperança.
Leia o livro
• Como lidar com a dúvida, Alister McGrath
• Deus em Questão, Armand M. Nicholi, Jr.
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No debate realizado no dia 28 de novembro no Teatro Folha, Saramago fez sua pública profissão de fé: “Não quero ofender ninguém, mas Deus simplesmente não existe, salvo na cabeça das pessoas, onde estão o Diabo, o mal e o bem. Inventamos Deus porque tínhamos medo de morrer, acreditávamos que talvez houvesse uma segunda vida”. Apesar da idade avançada e de ter ficado internado num hospital recentemente, entre a vida e a morte, o escritor não atribui a sua sobrevivência a Deus: “Quem me salvou foram os médicos e a minha mulher”. E para provocar os que têm fé, repetiu a velha zombaria de todos os céticos: “E Deus se esqueceu de Santa Catarina?” Na mesma ocasião, Saramago afirmou que a Bíblia “não é um livro que se possa deixar nas mãos de um inocente,” pois “só tem maus conselhos, assassinatos, incestos...”
Em compensação, Jürgen Moltmann, que começou a se interessar seriamente pela teologia aos 22 anos em um campo de prisioneiros de guerra na Escócia, afirma em seu livro Vida, Esperança e Justiça — um testemunho teológico para a América Latina que, “quando morremos, sabemos que do outro lado da margem do rio está Jesus” e “ele nos espera para a festa da vida eterna”.
Moltmann é a maior autoridade na área de esperança cristã graças aos seus estudos e livros. Para ele a base da esperança é Jesus Cristo. Basta ler o que escreve em Teologia da Esperança:
“Sem o conhecimento de Cristo pela fé, a esperança se torna uma utopia que paira em pleno ar; sem a esperança, entretanto, a fé decai, torna-se fé pequena e finalmente morta. Por meio da fé, o homem entra no caminho da verdadeira vida, não somente a esperança o conserva neste caminho. Desta forma a fé em Cristo transforma a esperança em confiança e certeza; e a esperança torna a fé em Cristo ampla e lhe dá vida”.
Em 1948, o jovem Moltmann teve que confrontar um problema muito mais complexo que as chuvas e as enchentes de Santa Catarina. A grande pergunta da época era “como se pode falar de Deus depois de Auschwitz?”. Num relato autobiográfico, o profeta da esperança conta: “Nos campos na Bélgica e na Escócia experimentei o colapso das minhas certezas, e neste colapso encontrei uma nova esperança na vida cristã”. A partir de então, Moltmann começou a se perguntar: “Como se pode não falar de Deus depois de Auschwitz?”.
Ao conceder o título de Doutor Honoris Causa a Jürgen Moltmann no último aniversário da Reforma Protestante (31 de outubro de 2008), a Universidade Metodista de São Bernardo do Campo prestou uma homenagem muito justa ao arauto da esperança.
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Elben Magalhães Lenz César foi o fundador da Editora Ultimato e redator da revista Ultimato até a sua morte, em outubro de 2016. Fundador do Centro Evangélico de Missões e pastor emérito da Igreja Presbiteriana de Viçosa (IPV), é autor de, entre outros, Por Que (Sempre) Faço o Que Não Quero?, Refeições Diárias com Jesus, Mochila nas Costas e Diário na Mão, Para (Melhor) Enfrentar o Sofrimento, Conversas com Lutero, Refeições Diárias com os Profetas Menores, A Pessoa Mais Importante do Mundo, História da Evangelização do Brasil e Práticas Devocionais. Foi casado por sessenta anos com Djanira Momesso César, com quem teve cinco filhas, dez netos e quatro bisnetos.
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