Opinião
- 07 de fevereiro de 2011
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O pioneiro dos pioneiros
Ziel Machado
São Paulo, década de 90. Cedo ainda chego ao escritório nacional da ABU. Antes de me dirigir a minha sala, preparo o meu café para começar o dia com ânimo. No caminho, percebo certa agitação alegre - era uma chamada telefônica e pelo brilho no olhar de quem atendia deduzi que era algo muito bom. E de fato era, pois viria nos visitar Robert (Bob) Young, um de nossos pioneiros, personagem importante da história do movimento estudantil brasileiro.
Começamos a fazer planos de como poderíamos expressar nossa gratidão por tantos anos de trabalho fiel entre nós.
No dia marcado para a visita, me encontro com Bob para levá-lo a um lugar especial. Acho que ele notou minha preocupação e se antecipou sugerindo um lugar bem simples onde pudéssemos conversar, e assim foi. Depois das frases introdutórias pedi a ele que me contasse as histórias que não estão nos registros oficiais, ele aceitou o desafio e abriu um mundo novo para mim que agora compartilho com vocês.
A primeira está relacionada ao custo da opção pela obediência e outra relacionada ao chamado e a visão como fonte de motivação.
Quando Bob recebeu o chamado de vir à America Latina para iniciar a obra estudantil (durante o seu tempo de oração num acampamento do movimento americano), ele compartilhou a visão com seus amigos e eles decidiram apoiá-lo de duas formas - arrecadando recursos para comprar a passagem e se comprometendo com uma ajuda mensal de 100 dólares.
Assim, ele deixa o grupo e se dirige à América Latina. No caminho ao Brasil passa pelo Peru e ali encontra um estudante de Pedagogia com quem compartilha a visão da obra estudantil e decide desafiá-lo a se tornar obreiro. Como então sustentar este obreiro? A decisão tomada foi dividir com ele o que ele receberia do seu grupo de apoio, e assim, com apenas 50 dólares chegou ao Brasil para iniciar o ministério da ABU (a escolha do nome é uma outra história na casa de um pastor de Recife).
Ele se estabelece em São Paulo e descobre que com apenas 50 dólares ele só conseguiria se manter por duas semanas, mas não desiste e encontra uma alternativa: bananas. Isso mesmo, duas semanas se alimentando com bananas. Esse era o preço que sua obediência missionária lhe exigiu naquele momento.
Quando o encontrei, notei que seu vigor e ânimo contrastavam com seus cabelos completamente brancos e perguntei sobre seus planos futuros. Pensei que me falaria de sua vida de avô e de como estava pensando em desfrutar de sua aposentadoria. Ledo engano! Bob e Inga, sua esposa, estavam de malas prontas para Kiev – Ucrânia.
Haviam se apresentado como professores voluntários para universidade de Kiev, ele de Psicologia e ela de Inglês. Iriam morar na residência estudantil e assim poderiam iniciar mais um movimento estudantil, assim como tinham feito no Iraque, na África do Sul e no Irã (países onde haviam nascido cada um de seus filhos).
Surpreso, lhe perguntei se já não era hora de descansar. Ele me respondeu: "Ainda tenho em mim o mesmo sonho, visão e vigor da juventude, de ver a obra estudantil estabelecida em cada país". Enquanto nos despedíamos me lembrava da passagem da Escritura que diz que Calebe, diante do desafio de conquistar o Monte Hebron, nos altos de seus 80 anos, afirmou que ainda tinha o vigor e disposição dos 40 anos de idade.
Pensei na música Forever Young e cantei baixinho. "Quero ser como este Bob Young, Forever Young". A última vez que nos vimos foi em Cochabamba 1998, e ele continuava o mesmo. Antes que me esqueça, aquele ex-estudante peruano que ele desafiou e dividiu o salário também estava em Cochabamba, seu nome, Samuel Escobar.
Escrevo este texto no dormitório estudantil da Sup Agro, uma universidade em Montpellier, no sul da França. Pela janela vejo grupos de estudantes subindo e descendo a rua, estudantes pelos quais o coração do Bob decidiu amar. Por obediência a Jesus, ele pagou o preço do chamado e manteve até o fim a paixão e visão que o fez relativizar o peso da idade.
Um grande exemplo para todos nós, pois somos frutos desta paixão, chamados à mesma missão...
• Ziel Machado foi obreiro da ABU por 13 anos. Hoje Ziel é Secretário Regional da Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos na América Latina.
* Robert Young faleceu no dia 19 de abril de 2010 aos 87 anos de idade.
“Bob foi um dos pioneiros do trabalho estudantil na América Latina. Hoje me lembrei de nossa viagem por estrada de Cochabamba a Lima. Viajamos por ar, por terra, por mar! Da fronteira entre Peru, Equador e Colômbia. Nestas viagens começaram alguns grupos que ainda existem até hoje. Eu o chamava de 'cigano' pioneiro da obra estudantil. Uma vida de entrega dedicada, alegre, e sacrificial ao Senhor, pelo ministério estudantil. Agradeçamos ao Senhor pela vida de Bob!", Samuel Escobar, teólogo e escritor, ex-assessor da IFES em vários países latinoamericanos, co-fundador da Fraternidade Teológica Latino Americana.
Texto publicado no site da ABU
São Paulo, década de 90. Cedo ainda chego ao escritório nacional da ABU. Antes de me dirigir a minha sala, preparo o meu café para começar o dia com ânimo. No caminho, percebo certa agitação alegre - era uma chamada telefônica e pelo brilho no olhar de quem atendia deduzi que era algo muito bom. E de fato era, pois viria nos visitar Robert (Bob) Young, um de nossos pioneiros, personagem importante da história do movimento estudantil brasileiro.
Começamos a fazer planos de como poderíamos expressar nossa gratidão por tantos anos de trabalho fiel entre nós.
No dia marcado para a visita, me encontro com Bob para levá-lo a um lugar especial. Acho que ele notou minha preocupação e se antecipou sugerindo um lugar bem simples onde pudéssemos conversar, e assim foi. Depois das frases introdutórias pedi a ele que me contasse as histórias que não estão nos registros oficiais, ele aceitou o desafio e abriu um mundo novo para mim que agora compartilho com vocês.
A primeira está relacionada ao custo da opção pela obediência e outra relacionada ao chamado e a visão como fonte de motivação.
Quando Bob recebeu o chamado de vir à America Latina para iniciar a obra estudantil (durante o seu tempo de oração num acampamento do movimento americano), ele compartilhou a visão com seus amigos e eles decidiram apoiá-lo de duas formas - arrecadando recursos para comprar a passagem e se comprometendo com uma ajuda mensal de 100 dólares.
Assim, ele deixa o grupo e se dirige à América Latina. No caminho ao Brasil passa pelo Peru e ali encontra um estudante de Pedagogia com quem compartilha a visão da obra estudantil e decide desafiá-lo a se tornar obreiro. Como então sustentar este obreiro? A decisão tomada foi dividir com ele o que ele receberia do seu grupo de apoio, e assim, com apenas 50 dólares chegou ao Brasil para iniciar o ministério da ABU (a escolha do nome é uma outra história na casa de um pastor de Recife).
Ele se estabelece em São Paulo e descobre que com apenas 50 dólares ele só conseguiria se manter por duas semanas, mas não desiste e encontra uma alternativa: bananas. Isso mesmo, duas semanas se alimentando com bananas. Esse era o preço que sua obediência missionária lhe exigiu naquele momento.
Quando o encontrei, notei que seu vigor e ânimo contrastavam com seus cabelos completamente brancos e perguntei sobre seus planos futuros. Pensei que me falaria de sua vida de avô e de como estava pensando em desfrutar de sua aposentadoria. Ledo engano! Bob e Inga, sua esposa, estavam de malas prontas para Kiev – Ucrânia.
Haviam se apresentado como professores voluntários para universidade de Kiev, ele de Psicologia e ela de Inglês. Iriam morar na residência estudantil e assim poderiam iniciar mais um movimento estudantil, assim como tinham feito no Iraque, na África do Sul e no Irã (países onde haviam nascido cada um de seus filhos).
Surpreso, lhe perguntei se já não era hora de descansar. Ele me respondeu: "Ainda tenho em mim o mesmo sonho, visão e vigor da juventude, de ver a obra estudantil estabelecida em cada país". Enquanto nos despedíamos me lembrava da passagem da Escritura que diz que Calebe, diante do desafio de conquistar o Monte Hebron, nos altos de seus 80 anos, afirmou que ainda tinha o vigor e disposição dos 40 anos de idade.
Pensei na música Forever Young e cantei baixinho. "Quero ser como este Bob Young, Forever Young". A última vez que nos vimos foi em Cochabamba 1998, e ele continuava o mesmo. Antes que me esqueça, aquele ex-estudante peruano que ele desafiou e dividiu o salário também estava em Cochabamba, seu nome, Samuel Escobar.
Escrevo este texto no dormitório estudantil da Sup Agro, uma universidade em Montpellier, no sul da França. Pela janela vejo grupos de estudantes subindo e descendo a rua, estudantes pelos quais o coração do Bob decidiu amar. Por obediência a Jesus, ele pagou o preço do chamado e manteve até o fim a paixão e visão que o fez relativizar o peso da idade.
Um grande exemplo para todos nós, pois somos frutos desta paixão, chamados à mesma missão...
• Ziel Machado foi obreiro da ABU por 13 anos. Hoje Ziel é Secretário Regional da Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos na América Latina.
* Robert Young faleceu no dia 19 de abril de 2010 aos 87 anos de idade.
“Bob foi um dos pioneiros do trabalho estudantil na América Latina. Hoje me lembrei de nossa viagem por estrada de Cochabamba a Lima. Viajamos por ar, por terra, por mar! Da fronteira entre Peru, Equador e Colômbia. Nestas viagens começaram alguns grupos que ainda existem até hoje. Eu o chamava de 'cigano' pioneiro da obra estudantil. Uma vida de entrega dedicada, alegre, e sacrificial ao Senhor, pelo ministério estudantil. Agradeçamos ao Senhor pela vida de Bob!", Samuel Escobar, teólogo e escritor, ex-assessor da IFES em vários países latinoamericanos, co-fundador da Fraternidade Teológica Latino Americana.
Texto publicado no site da ABU
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