Opinião
- 15 de maio de 2013
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O Pentecostes nas redes sociais
O Pentecostes é um fenômeno absolutamente transcendental, além da mídia, do espaço cibernético, inalcançável pela razão, inatingível pelo conhecimento empírico, descrevendo a ação espontânea e gratuita de Deus. O Espírito transforma os homens e as mulheres, os jovens e os idosos, fazendo com que eles e elas falem da justiça, enquanto se promovem novas relações libertadoras entre homens, culturas, raças e povos. E, ao mesmo tempo, anuncia o evangelho de renovação da Criação: um mundo novo é possível.
Nas redes sociais, há palavras e imagens em excesso, não há tempo para que as pessoas reflitam e interiorizem a mensagem. Não dá tempo para ecoar nem ressoar a mensagem de Jesus. Informações demasiadas se perdem, contaminadas pela mediocridade e pela ignorância. Há quem se exponha excessivamente, no anonimato. Há quem coloque momentos íntimos em vídeos, como o parto de uma criança. Preocupam-se demais em fotografar, gravar e filmar, sem saborear relações humanas, momentos sublimes da vida em toda a sua amplitude. Uma coisa sobre a qual não se pode formular um conceito científico, porque é intangível, transcendente, mas essencial do ser humano. O fundo sólido da existência, diria Carl Jung, está no limite extremo que não se alcança através de uma fórmula.
Ao invés de se cultivar a interioridade secreta -- a mais ampla e vasta personalidade humana --, pessoas expõem, às vezes de maneira obscena, sentimentos intolerantes e desprezíveis: antifeminismo, homofobia, racismo, fundamentalismo político, por exemplo. Corre-se, também, o risco da superficialidade e do efêmero, sem resultados para o futuro da própria humanidade. Em termos de direitos humanos, direitos sociais e ecológicos. Consciência de cidadania. Bastaria viver em intensidade as alegrias íntimas, e não esvaziá-las, substituindo-as imediatamente por novas expectativas.
Há momentos em que a rede se assemelha ao inteligente e significativo “mito bíblico da Torre de Babel, inversão do Pentecostes” (Emil Bruner). Muita gente fala, poucos escutam, poucos se entendem. O fato humano da verdade procurada apresenta seu lado de sombras. Então, sem substância e sem efetividade, mais se assemelhando às catarses provisórias, não atingem o mal permanente. E poderiam ser denúncias das desigualdades, convocações para a solidariedade e a partilha, ações comuns em favor dos mais fracos; anúncio de justiça aos órfãos e viúvas da hipermodernidade, aos desamparados e marginalizados do mundo globalizado egocêntrico e impiedoso. A cidade virtual, “Babel midiática”, não acolhe a indignação.
No Pentecostes, porém, todos nós ouvimos na nossa própria língua (At 2) o que Deus quer fazer com o mundo, para salvá-lo, quando o Espírito Santo desce sobre a rede dos seguidores de Jesus. Então, eles proclamam as maravilhas de Deus, e cada um entende o evangelho do Reino na sua própria língua. Esta poderia ser também a utopia para as redes sociais. Oferecer ocasião para que pessoas e grupos se articulem, indignados, e se comuniquem, troquem ideias, partilhem informações importantes para que os atos de Deus sejam entendidos, favorecendo a realização da salvação.
Em outros momentos, há também confronto entre pessoas que pensam de maneira diferente. Isso é bom, se estimula o crescimento da consciência crítica sobre o todo. Em tudo isso o Espírito Santo se manifesta, tecendo os fios da unidade na imensa diversidade humana na internet, como nos ensina o teólogo Afonso Murad. Formando uma consciência do Pentecostes, presença permanente do Espírito; uma corrente do Bem, e não o ajuntamento dos desesperados na farra da vida virtual.
O evangelho de Pentecostes nos diz que Jesus Cristo ressuscitou dentre os mortos, e que sua comunicação com os discípulos se fez através do Espírito que traz a ressurreição para o mundo. É ele que outorga alegria e discernimento do que significa a ressurreição, enquanto concede capacidade, força e energia para o perdão dos pecados, e a reconciliação dos homens e das mulheres. Pentecostes é a representação de um programa para a Igreja nascida da Páscoa, do êxodo, da ressurreição, da fé libertadora na Aliança, aberta para todos os homens e mulheres. Estamos diante de um relato germinal, decisivo, programático. O programa de Jesus de Nazaré, proferido numa sinagoga da Galileia: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para anunciar a boa nova libertadora aos pobres, enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos” (Lc 4.18). Lucas retoma o programa inicial de Jesus (Atos 2,1-21).
Assim, expressando a ação livre e renovadora de Deus, a tradição do Pentecostes dispõe de uma linguagem de símbolos desde os relatos bíblicos onde Deus intervém na história humana. “A salvação está perto dos homens e das mulheres”. Nada mais clássico nessa manifestação que a história da fé do “povo de Deus”, a partir do(s) êxodo(s), enquanto culminam nos fundamentos da Aliança (imperativos, prioridades, mandamentos para a vida): “Ama a Deus sobre todas as coisas, e a teu próximo como a ti mesmo”. Impõe-se aqui a Nova Aliança, em Jesus Cristo, alicerçada na misericórdia, na gratuidade, na compaixão e solidariedade para com todos os homens e mulheres da terra. O Pentecostes assim deveria ser entendido nos encontros virtuais.
Nota: No próximo domingo, dia 19, segundo a tradição cristã, comemora-se o Pentecostes (50 dias após o domingo de Páscoa).
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O Espírito Santo em movimento
Nem monge, nem executivo
Ser é o bastante
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Ao invés de se cultivar a interioridade secreta -- a mais ampla e vasta personalidade humana --, pessoas expõem, às vezes de maneira obscena, sentimentos intolerantes e desprezíveis: antifeminismo, homofobia, racismo, fundamentalismo político, por exemplo. Corre-se, também, o risco da superficialidade e do efêmero, sem resultados para o futuro da própria humanidade. Em termos de direitos humanos, direitos sociais e ecológicos. Consciência de cidadania. Bastaria viver em intensidade as alegrias íntimas, e não esvaziá-las, substituindo-as imediatamente por novas expectativas.
Há momentos em que a rede se assemelha ao inteligente e significativo “mito bíblico da Torre de Babel, inversão do Pentecostes” (Emil Bruner). Muita gente fala, poucos escutam, poucos se entendem. O fato humano da verdade procurada apresenta seu lado de sombras. Então, sem substância e sem efetividade, mais se assemelhando às catarses provisórias, não atingem o mal permanente. E poderiam ser denúncias das desigualdades, convocações para a solidariedade e a partilha, ações comuns em favor dos mais fracos; anúncio de justiça aos órfãos e viúvas da hipermodernidade, aos desamparados e marginalizados do mundo globalizado egocêntrico e impiedoso. A cidade virtual, “Babel midiática”, não acolhe a indignação.
No Pentecostes, porém, todos nós ouvimos na nossa própria língua (At 2) o que Deus quer fazer com o mundo, para salvá-lo, quando o Espírito Santo desce sobre a rede dos seguidores de Jesus. Então, eles proclamam as maravilhas de Deus, e cada um entende o evangelho do Reino na sua própria língua. Esta poderia ser também a utopia para as redes sociais. Oferecer ocasião para que pessoas e grupos se articulem, indignados, e se comuniquem, troquem ideias, partilhem informações importantes para que os atos de Deus sejam entendidos, favorecendo a realização da salvação.
Em outros momentos, há também confronto entre pessoas que pensam de maneira diferente. Isso é bom, se estimula o crescimento da consciência crítica sobre o todo. Em tudo isso o Espírito Santo se manifesta, tecendo os fios da unidade na imensa diversidade humana na internet, como nos ensina o teólogo Afonso Murad. Formando uma consciência do Pentecostes, presença permanente do Espírito; uma corrente do Bem, e não o ajuntamento dos desesperados na farra da vida virtual.
O evangelho de Pentecostes nos diz que Jesus Cristo ressuscitou dentre os mortos, e que sua comunicação com os discípulos se fez através do Espírito que traz a ressurreição para o mundo. É ele que outorga alegria e discernimento do que significa a ressurreição, enquanto concede capacidade, força e energia para o perdão dos pecados, e a reconciliação dos homens e das mulheres. Pentecostes é a representação de um programa para a Igreja nascida da Páscoa, do êxodo, da ressurreição, da fé libertadora na Aliança, aberta para todos os homens e mulheres. Estamos diante de um relato germinal, decisivo, programático. O programa de Jesus de Nazaré, proferido numa sinagoga da Galileia: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para anunciar a boa nova libertadora aos pobres, enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos” (Lc 4.18). Lucas retoma o programa inicial de Jesus (Atos 2,1-21).
Assim, expressando a ação livre e renovadora de Deus, a tradição do Pentecostes dispõe de uma linguagem de símbolos desde os relatos bíblicos onde Deus intervém na história humana. “A salvação está perto dos homens e das mulheres”. Nada mais clássico nessa manifestação que a história da fé do “povo de Deus”, a partir do(s) êxodo(s), enquanto culminam nos fundamentos da Aliança (imperativos, prioridades, mandamentos para a vida): “Ama a Deus sobre todas as coisas, e a teu próximo como a ti mesmo”. Impõe-se aqui a Nova Aliança, em Jesus Cristo, alicerçada na misericórdia, na gratuidade, na compaixão e solidariedade para com todos os homens e mulheres da terra. O Pentecostes assim deveria ser entendido nos encontros virtuais.
Nota: No próximo domingo, dia 19, segundo a tradição cristã, comemora-se o Pentecostes (50 dias após o domingo de Páscoa).
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O Espírito Santo em movimento
Nem monge, nem executivo
Ser é o bastante
É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
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