Opinião
- 30 de julho de 2021
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O pastor cuida das ovelhas. E quem cuida do pastor?
Por Lidice Meyer P. Ribeiro
Tem sido cada vez mais frequente a notícia de pastores e sacerdotes que sofrem de estafa, depressão e chegam até mesmo ao suicídio. Por exercerem uma atividade que implica constantemente a administração de conflitos de todas as naturezas, disponível vinte e quatro horas do dia, muitas vezes sem o gozo de férias por anos, os líderes religiosos têm sido alvo fácil para doenças psicoemocionais. Interessante reparar que, embora as pastoras e religiosas sejam contadas no grupo passível de estafa física, são muito raros os suicídios entre elas, ao contrário do grupo de líderes masculinos.
As mulheres por sua índole costumam ser mais abertas ao diálogo com suas iguais ou com seus esposos e superiores religiosos, o que abranda a intensidade psicológica do problema. Embora ambos tendam a dedicar-se ao extremo, gastando muitas vezes suas vidas pelas suas igrejas, os homens em sua maioria apresentam mais dificuldades em lidar com a carga negativa que recebem no dia a dia, evitando a qualquer custo expor suas fraquezas por receio de serem interpretadas como falta de fé ou consequência de “pecados ocultos”. Considerados por muitos como santos sem a possibilidade de sentirem-se tristes, desanimados e cansados, por medo ou vergonha, preferem manter-se silenciosos e acabam por sofrer física e emocionalmente, morrendo aos poucos. Muitos ainda carregam consigo a família, que ou por ser relegada a segundo plano ou por condoer-se pelo seu sofrimento, responsabilizam a igreja pela situação e vão também morrendo espiritualmente aos poucos. São muitos os filhos e esposas de pastores que se afastam da igreja culpabilizando-a pelo sofrimento do pai e esposo.
A estafa e o suicídio pastoral têm sido alvo de estudos atuais em diversas áreas e países. Na Itália criou-se o termo “síndrome do bom samaritano desiludido” para identificar o pastor que se desgasta por se entregar em excesso pelas ovelhas. Embora muitos acreditem que este é um problema dos tempos atuais, o desgaste emocional de um líder é atemporal. Na Bíblia podemos ler sobre o esgotamento emocional do profeta Elias e até mesmo da estafa física e emocional de Jesus Cristo.
Teresa d’Avila foi uma teóloga espanhola do século 16. Nasceu poucos anos antes da eclosão da Reforma Protestante, e tornou-se ela própria uma reformadora no catolicismo. Mística e profunda conhecedora das Escrituras Sagradas, de teologia e filosofia, deixou diversos livros teológicos e devocionais além de ter lutado, à semelhança de Lutero, pelo retorno da igreja à espiritualidade original. Teresa era uma mulher extremamente preocupada com o próximo e incluía em seus cuidados os líderes eclesiásticos de seu tempo. Dizia ela: “Por trás de cada sacerdote há um demônio lutando pela sua queda. Se temos a disposição para criticá-los devemos ter o dobro para orar por eles.”
Precisamos aprender que os pastores e sacerdotes são homens com uma missão e uma vocação especial, mas continuam a ser homens de carne-e-osso, com as mesmas fragilidades e medos. Eles precisam também de apoio, compreensão e da oração de suas ovelhas. Se as igrejas entenderem isso, muito sofrimento e mortes poderão ser evitadas.
Leia mais:
» Por que pastores se matam?
» Sete desafios para a igreja e os pastores na pandemia
Tem sido cada vez mais frequente a notícia de pastores e sacerdotes que sofrem de estafa, depressão e chegam até mesmo ao suicídio. Por exercerem uma atividade que implica constantemente a administração de conflitos de todas as naturezas, disponível vinte e quatro horas do dia, muitas vezes sem o gozo de férias por anos, os líderes religiosos têm sido alvo fácil para doenças psicoemocionais. Interessante reparar que, embora as pastoras e religiosas sejam contadas no grupo passível de estafa física, são muito raros os suicídios entre elas, ao contrário do grupo de líderes masculinos.
As mulheres por sua índole costumam ser mais abertas ao diálogo com suas iguais ou com seus esposos e superiores religiosos, o que abranda a intensidade psicológica do problema. Embora ambos tendam a dedicar-se ao extremo, gastando muitas vezes suas vidas pelas suas igrejas, os homens em sua maioria apresentam mais dificuldades em lidar com a carga negativa que recebem no dia a dia, evitando a qualquer custo expor suas fraquezas por receio de serem interpretadas como falta de fé ou consequência de “pecados ocultos”. Considerados por muitos como santos sem a possibilidade de sentirem-se tristes, desanimados e cansados, por medo ou vergonha, preferem manter-se silenciosos e acabam por sofrer física e emocionalmente, morrendo aos poucos. Muitos ainda carregam consigo a família, que ou por ser relegada a segundo plano ou por condoer-se pelo seu sofrimento, responsabilizam a igreja pela situação e vão também morrendo espiritualmente aos poucos. São muitos os filhos e esposas de pastores que se afastam da igreja culpabilizando-a pelo sofrimento do pai e esposo.
A estafa e o suicídio pastoral têm sido alvo de estudos atuais em diversas áreas e países. Na Itália criou-se o termo “síndrome do bom samaritano desiludido” para identificar o pastor que se desgasta por se entregar em excesso pelas ovelhas. Embora muitos acreditem que este é um problema dos tempos atuais, o desgaste emocional de um líder é atemporal. Na Bíblia podemos ler sobre o esgotamento emocional do profeta Elias e até mesmo da estafa física e emocional de Jesus Cristo.
Teresa d’Avila foi uma teóloga espanhola do século 16. Nasceu poucos anos antes da eclosão da Reforma Protestante, e tornou-se ela própria uma reformadora no catolicismo. Mística e profunda conhecedora das Escrituras Sagradas, de teologia e filosofia, deixou diversos livros teológicos e devocionais além de ter lutado, à semelhança de Lutero, pelo retorno da igreja à espiritualidade original. Teresa era uma mulher extremamente preocupada com o próximo e incluía em seus cuidados os líderes eclesiásticos de seu tempo. Dizia ela: “Por trás de cada sacerdote há um demônio lutando pela sua queda. Se temos a disposição para criticá-los devemos ter o dobro para orar por eles.”
Precisamos aprender que os pastores e sacerdotes são homens com uma missão e uma vocação especial, mas continuam a ser homens de carne-e-osso, com as mesmas fragilidades e medos. Eles precisam também de apoio, compreensão e da oração de suas ovelhas. Se as igrejas entenderem isso, muito sofrimento e mortes poderão ser evitadas.
Leia mais:
» Por que pastores se matam?
» Sete desafios para a igreja e os pastores na pandemia
Lidice Meyer P. Ribeiro é doutora em Antropologia e professora na Universidade Lusófona, Portugal.
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