Opinião
- 18 de junho de 2020
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O pastor, a teologia e a vida pública. Não necessariamente nessa ordem
Por Pedro Dulci
Umas das histórias mais incríveis que ouvi a respeito de teologia pública foi sobre o cancelamento da anual premiação da Faculdade Teológica da Universidade de Princeton, em 2017. Simplesmente não entregaram o prêmio Abraham Kuyper de Excelência em Teologia Reformada e Vida Pública ao indicado do ano: o pastor da cidade de Nova York, Timothy Keller. Já tinha sido muito empolgante sua indicação — considero Keller um dos melhores paradigmas do pastor como teólogo público. Entretanto, o motivo que levou à suspensão do prêmio me deixou ainda mais empolgado!
A razão fundamental para esse cancelamento foi a posição de Keller a respeito da homossexualidade. A comissão organizadora da premiação achava que suas posturas públicas eram evangélicas demais. A Faculdade Teológica de Princeton é notória nos livros de história da teologia protestante pela sua Velha Escola de Teologia Reformada — que contava com nomes como Charles Hodge, Benjamim Warfield e Geerhardus Vos. Até mesmo A. G. Simonton, o plantador da Igreja Presbiteiana do Brasil, foi aluno dessa instituição. Entretanto, hoje ela é uma instituição que se tornou famosa por sua militância à causa LGBTQ, tanto no corpo docente, como discente.
Na ocasião fiquei dividido em dois sentimentos: por um lado achei incrível Keller ser indicado ao prêmio que leva o nome de Kuyper. Essa indicação era muito significativa tanto para o cenário teológico americano quanto para a outras partes do mundo que enxergam em Keller uma renovação da Teologia pública reformada. Por outro, fiquei revoltado com a covardia de Princeton em suspender a premiação. No entanto, com o passar dos dias compreendi que nada poderia ser mais interessante do que esse desfecho.
Keller deixou de receber um prêmio em teologia reformada e vida pública em razão de suas convicções teológicas publicamente conhecidas. Não existia nada mais coerente do que isso! Melhor do que receber o prêmio de Princeton era ser vetado por não se encaixar no molde ideológico de teólogo militante das causas do momento. Nenhum outro desfecho poderia ter deixado mais explícito quais eram os verdadeiros comprometimentos teológicos e pessoais de cada um.
Tudo isso me ensinou muito sobre a prática da teologia pública que sofre tanto em nosso território brasileiro. Apesar de não termos prêmios semelhantes no Brasil, existem algumas conquistas na vida pública que teólogos evangélicos nunca alcançarão — mesmo que sejam tão brilhantes e bem-sucedidos como Keller. Isso porque existe um limite para os prêmios. É necessário se adequar ao politicamente correto para concorrer a uma vaga na mesa dos mais ilustres pensadores do nosso tempo. E se nossa teologia pública limitar-se somente às demandas dessa vida, somos os mais miseráveis de todos os pastores.
Quando vejo pastores e líderes chorando pelas migalhas que caem das mesas públicas de instituições secularizadas, vejo o quanto ainda estamos engatinhando na construção de uma postura genuinamente cristã na esfera pública. Parece que os exemplos de teólogos que assumiram o protagonismo público é muito diferente da história de Keller. Aquele que merecia não se importou com o reconhecimento, enquanto muitos são obcecados pelo próprio nome em uma busca por reconhecimento público que em nada edificará a igreja.
É exatamente nesse cenário, de tantas carências por parte dos pastores e teólogos, bem como das demandas públicas que o livro Becoming a Pastor Theologian [Tornando-se um Pastor Teólogo, Editora Ultimato, no prelo], organizado pelos pioneiros Todd Wilson e Gerald Hiestand, acompanhados de Kevin Vanhoozer, James K. A. Smith e Peter Leithart, entre outros, chega ao Brasil.
Acompanho de perto as atividades e publicações do Centro para Pastores Teólogos e “Tornando-se um Pastor Teólogo” é o resultado de um de seus congressos. Estou convicto de que não existe nada mais urgente do que a redescoberta da Teologia como a diferença específica na identidade dos pastores e líderes da igreja. E esse é o assunto do próximo artigo.
Autor de Fé Cristã e Ação Política, Pedro Lucas Dulci, é filósofo e pastor presbiteriano. Casado com Carolinne e pai de Benjamin, desenvolve pesquisa em ética e filosofia política contemporânea e estudos sobre o diálogo entre ciência e religião, com estágio na Vrije Universiteit Amsterdam. É teólogo e coordenador pedagógico no Invisible College.
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