Opinião
- 20 de agosto de 2014
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O Movimento Lausanne e a Missão Integral
Quando cheguei à reunião da liderança do Movimento de Lausanne na cidade de Jackson, nos EUA, em junho de 2012, percebi que a chama em torno do Compromisso da Cidade do Cabo (CCC) havia se transformado num “fogo razoável”. Ou, em outras palavras, o CCC estava se propagando rapidamente, sendo traduzido para diversos idiomas e adotado não apenas como uma agenda para o futuro do próprio Movimento de Lausanne mas também de outros setores do mundo evangélico contemporâneo. Confesso que foi uma grata surpresa.
Preciso reconhecer que quando deixamos a Cidade do Cabo, por ocasião do encerramento do III Congresso Mundial de Evangelização (Lausanne III), eu não tinha o discernimento de que esse documento passaria de uma “fagulha” a um “fogo” de razoável magnitude. Quem sabe eu estivesse demasiado cansado para percebê-lo ou, quem sabe, envolvido demais no processo, uma vez que participei na sua redação. Nesta conversa eu destaco três marcas de um documento que tem um forte toque missional.
1. A primeira delas é que o CCC é confessional. O mundo evangélico tem uma contínua necessidade de revisar a sua confessionalidade para afirmar que ela ainda é a mesma. Lausanne III, no anseio de fazer isso de novo, conseguiu fazê-lo de um jeito novidadeiro, relevante e contextual. A confessionalidade do CCC vem envolta numa linguagem de amor e, como tal, não tem nenhum caráter beligerante nem excludente, como já aconteceu outras vezes. Pelo contrário, ele vem envolto numa linguagem de amor – o amor de Deus para conosco e o nosso amor para com Deus. Com isso ele reflete a própria essência da fé cristã, que é sempre uma fé “para nós e para os outros”. É uma fé que fala de um Deus de amor que deseja alcançar a todos e em todos os lugares.
2. A segunda marca tem relação com o conceito e a percepção de missão com que se trabalha. Ao fazer uso da Declaração Miquéias sobre Missão Integral, o CCC assume essa mesma compreensão de missão:
E logo a seguir, o CCC especifica o que isto quer significar:
Firmamos nosso compromisso com o exercício dinâmico e integral de todas as dimensões da missão para a qual Deus chama toda a sua igreja.
- Deus nos ordena a tornar conhecidos, em todas as nações, a verdade da revelação de Deus e o evangelho da graça salvadora de Deus por meio de Jesus Cristo, chamando todos ao arrependimento, à fé, ao batismo e ao discipulado obediente.
- Deus nos ordena a refletir o seu caráter por meio do cuidado compassivo com o necessitado, e demonstrar os valores e o poder ro reino de Deus na luta pela justiça e pela paz e no cuidado com a criação.1
O CCC abraça a Missão Integral (MI) como sua compreensão de missão.
3. A terceira marca está refletida na Parte 2 do CCC e se expressa como um “chamado para a ação”. Em continuidade com uma boa tradição evangélica, o documento procura caminhar para a prática, discernindo o contexto no qual nós vivemos e afirmando caminhos de engajamento missionário dentro desta realidade. Em sintonia com a carta de Efésios, que foi estudada em Lausanne III, afirma-se a vivência prática da fé, tanto no nível pessoal como coletivo: “pois somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos”.
Ao concentrar-nos no CCC, estamos apontando para o fato de que a MI foi crescentemente abraçada no contexto do Movimento de Lausanne. Podemos entender que este processo encontrou a sua força motriz em Lausanne I e no Pacto de Lausanne. Isso, no entanto, não significa que esta tenha sido a única marca daquele encontro. Pelo contrário, a ênfase na MI surgiu como um “fator surpresa”, como uma voz com sotaque latino-americano, e encontrou a resistência de grupos que preferiam afirmar a missão como a expressão de uma evangelização verbal. Mas a MI não foi, nem queria ser, meramente latino-americana; e logo descobriu e plantou vínculos com expressões missionárias em outros lugares. A ênfase na MI, ademais, não pretendia relativizar a importância, nem da evangelização, nem da necessidade de se transmitir o evangelho verbalmente. O que se queria é que a força missionária, que tinha o privilégio de compartilhar do evangelho de Jesus Cristo num crescente número de lugares e espaços, o fizesse de tal maneira que o amor de Deus fosse percebido como sendo salvador, restaurador e acolhedor. E que este mesmo amor pudesse ser percebido na vida daqueles que se anunciavam como seguidores de Jesus Cristo, que é a expressão mais profunda, ampla e suficiente do amor de Deus.
Esta breve reflexão não pode olhar para a própria caminhada histórica do Movimento de Lausanne no que se refere à MI. Mas quem sabe isto nem seja necessário neste momento, no qual se quer afirmar que o que o CCC expressa é que o movimento chegou lá de onde ele saiu e que continua a ser o seu lema: “toda a igreja levando todo o evangelho para o mundo todo”.
Nota:
1. O Compromisso da Cidade do Cabo, 68-69.
• Valdir Steuernagel é pastor na Comunidade do Redentor, em Curitiba. Faz parte da Aliança Cristã Evangélica do Brasil, da Aliança Cristã Evangélica Mundial e da Visão Mundial.
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Lausanne 3 – Lições e desafios para a Igreja de Cristo
Movimento Lausanne: quarenta anos em missão (Samuel Escobar)
Missão Integral - o reino de Deus e a Igreja (René Padilla)
Preciso reconhecer que quando deixamos a Cidade do Cabo, por ocasião do encerramento do III Congresso Mundial de Evangelização (Lausanne III), eu não tinha o discernimento de que esse documento passaria de uma “fagulha” a um “fogo” de razoável magnitude. Quem sabe eu estivesse demasiado cansado para percebê-lo ou, quem sabe, envolvido demais no processo, uma vez que participei na sua redação. Nesta conversa eu destaco três marcas de um documento que tem um forte toque missional.
1. A primeira delas é que o CCC é confessional. O mundo evangélico tem uma contínua necessidade de revisar a sua confessionalidade para afirmar que ela ainda é a mesma. Lausanne III, no anseio de fazer isso de novo, conseguiu fazê-lo de um jeito novidadeiro, relevante e contextual. A confessionalidade do CCC vem envolta numa linguagem de amor e, como tal, não tem nenhum caráter beligerante nem excludente, como já aconteceu outras vezes. Pelo contrário, ele vem envolto numa linguagem de amor – o amor de Deus para conosco e o nosso amor para com Deus. Com isso ele reflete a própria essência da fé cristã, que é sempre uma fé “para nós e para os outros”. É uma fé que fala de um Deus de amor que deseja alcançar a todos e em todos os lugares.
2. A segunda marca tem relação com o conceito e a percepção de missão com que se trabalha. Ao fazer uso da Declaração Miquéias sobre Missão Integral, o CCC assume essa mesma compreensão de missão:
“Missão Integral é a proclamação e a demonstração do evangelho. Não significa simplesmente que o evangelismo e o envolvimento social tenham que ser realizados simultaneamente. Na Missão Integral, nossa proclamação tem consequências sociais quando convocamos as pessoas ao amor e ao arrependimento em todas as áreas da vida. Nosso compromisso social tem consequências para a evangelização quando damos testemunho da graça transformadora de Jesus Cristo. Se ignoramos o mundo, traímos a Palavra de Deus, que nos envia para servir o mundo. Se ignoramos a Palavra de Deus, não temos nada para oferecer ao mundo”.
E logo a seguir, o CCC especifica o que isto quer significar:
Firmamos nosso compromisso com o exercício dinâmico e integral de todas as dimensões da missão para a qual Deus chama toda a sua igreja.
- Deus nos ordena a tornar conhecidos, em todas as nações, a verdade da revelação de Deus e o evangelho da graça salvadora de Deus por meio de Jesus Cristo, chamando todos ao arrependimento, à fé, ao batismo e ao discipulado obediente.
- Deus nos ordena a refletir o seu caráter por meio do cuidado compassivo com o necessitado, e demonstrar os valores e o poder ro reino de Deus na luta pela justiça e pela paz e no cuidado com a criação.1
O CCC abraça a Missão Integral (MI) como sua compreensão de missão.
3. A terceira marca está refletida na Parte 2 do CCC e se expressa como um “chamado para a ação”. Em continuidade com uma boa tradição evangélica, o documento procura caminhar para a prática, discernindo o contexto no qual nós vivemos e afirmando caminhos de engajamento missionário dentro desta realidade. Em sintonia com a carta de Efésios, que foi estudada em Lausanne III, afirma-se a vivência prática da fé, tanto no nível pessoal como coletivo: “pois somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos”.
Ao concentrar-nos no CCC, estamos apontando para o fato de que a MI foi crescentemente abraçada no contexto do Movimento de Lausanne. Podemos entender que este processo encontrou a sua força motriz em Lausanne I e no Pacto de Lausanne. Isso, no entanto, não significa que esta tenha sido a única marca daquele encontro. Pelo contrário, a ênfase na MI surgiu como um “fator surpresa”, como uma voz com sotaque latino-americano, e encontrou a resistência de grupos que preferiam afirmar a missão como a expressão de uma evangelização verbal. Mas a MI não foi, nem queria ser, meramente latino-americana; e logo descobriu e plantou vínculos com expressões missionárias em outros lugares. A ênfase na MI, ademais, não pretendia relativizar a importância, nem da evangelização, nem da necessidade de se transmitir o evangelho verbalmente. O que se queria é que a força missionária, que tinha o privilégio de compartilhar do evangelho de Jesus Cristo num crescente número de lugares e espaços, o fizesse de tal maneira que o amor de Deus fosse percebido como sendo salvador, restaurador e acolhedor. E que este mesmo amor pudesse ser percebido na vida daqueles que se anunciavam como seguidores de Jesus Cristo, que é a expressão mais profunda, ampla e suficiente do amor de Deus.
Esta breve reflexão não pode olhar para a própria caminhada histórica do Movimento de Lausanne no que se refere à MI. Mas quem sabe isto nem seja necessário neste momento, no qual se quer afirmar que o que o CCC expressa é que o movimento chegou lá de onde ele saiu e que continua a ser o seu lema: “toda a igreja levando todo o evangelho para o mundo todo”.
Nota:
1. O Compromisso da Cidade do Cabo, 68-69.
• Valdir Steuernagel é pastor na Comunidade do Redentor, em Curitiba. Faz parte da Aliança Cristã Evangélica do Brasil, da Aliança Cristã Evangélica Mundial e da Visão Mundial.
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Lausanne 3 – Lições e desafios para a Igreja de Cristo
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