Opinião
- 10 de abril de 2017
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O maior hino da língua inglesa: "Ao contemplar a Tua cruz"
Alguns alunos do Instituto Bíblico Moody, em Chicago, EUA, participavam de uma reunião missionária. Uma mulher, que assistia, solicitou à dirigente que cantassem o hino "When I Survey The Wondrous Cross" (Ao contemplar a Tua cruz), o famoso hino de Isaac Watts. O hino foi entoado pelo auditório inclusive por quem o solicitara, palavra por palavra. Atenta ao fato, a evangelista, terminada a reunião, procurou a visitante e perguntou-lhe desde quando conhecia esse cântico. Respondeu-lhe a mulher: “Era o hino preferido de minha professora da Escola Dominical. Antes de falecer, pediu que suas alunas, entre as quais me contava, se reunissem para cantá-lo. Assim fizemos. Que vívida lembrança!...”.
Ao contemplar a Tua cruz
E o que sofreste ali, Senhor,
Sei que não há, ó meu Jesus,
Um bem maior que teu amor...
Passados alguns instantes de silêncio, com lágrimas nos olhos, narrou sua vida: era irlandesa, deixara a casa paterna, correra mundo como atriz e, no momento não estava vivendo dignamente. O velho hino, que solicitara, tantas vezes ouvido na infância e adolescência, reconduzira-a a esses tempos longínquos e crê a evangelista, através dele, entregou a Cristo o seu coração.
A estudante do Instituto Bíblico Moody que viveu esta experiência, considerou-a a mais impressionante de sua vida, foi Miss Elizabeth Date Davis, de Carslisle, Inglaterra.
Dedicou-se a evangelização em 1913 e durante um ano estudou nesse instituto, voltando depois ao seu país natal onde trabalhou na obra missionária em Barnsley, Londres e outras localidades. No Instituto Metodista de Diaconisas realizou obra relevante, bem como atuou eficientemente na Sociedade pró-temperança e na assistência às crianças desvalidas. Aos vinte três de fevereiro de 1933, o rei Jorge V, da Inglaterra, em cerimônia realizada em Londres, no Palácio de Buckinghan, conferiu-lhe elevada honra de Membro da Ordem do Império Britânico, por sua vida de dedicação ao próximo.
Declarou ela certa vez: – “Creio na direção divina; sinto-a em minha vida a guiar-me os passos”.
Isaac Watts, autor de aproximadamente seiscentos hinos, entre os quais When I survey the Wondrous Cross (inspirado em Gl 6.14) foi cognominado o “pai da hinologia inglesa”. Nascido aos 17 de julho de 1674, o mais velho de nove irmãos, era filho de um respeitável diácono não-conformista, independente ou dissidente, que esteve preso por duas vezes por suas convicções religiosas. A mãe descendia de valorosos franceses huguenotes que deixaram a França pela Inglaterra pouco depois do massacre de São Bartolomeu, ocorrido em 1572. Foi acalentado nos degraus da prisão, onde se encontrava seu pai, durante as visitas que a jovem mãe fazia ao seu marido, e enquanto aguardava poder falar-lhe através das grades.
Converteu-se aos quatorze anos. Aos dezesseis estava preparado para ingressar na Universidade, e amigos dos pais propuseram pagar-lhes os estudos universitários se concordasse em tornar-se ministro da Igreja da Inglaterra. Recusou. Pelo “Ato da Uniformidade”, aos não-conformistas era vedado o acesso às Universidades – Oxford e Cambridge – recebendo a educação superior nas Academias, onde a maior parte dos professores era de nível universitário. O propósito era dar aos alunos quatro anos de estudos, que normalmente se faziam na Universidade, e prepara-lo pelo ministério.
Aos dezoito anos, irritado com os hinos rudes e desafinados cantados nas reuniões não-conformistas, queixou-se ao pai que não possuíam a beleza e a dignidade devidas a um culto cristão. O pai, nada indulgente, respondeu-lhe que fizesse melhor, se fosse capaz.
Tanto bastou para que se lançasse à produção de hinos, apresentando o primeiro no domingo seguinte. Incentivado prosseguiu. De 1907 a 1909 escreveu muitos, em parte publicados em Himns and Spiritual Songs, primeiro hinário inglês verdadeiramente valioso nele se encontra When Survey The Wondrous Cross, produzido em 1707 e considerado, pelo severo crítico literário Matthews Arnold que viveu no se. XIX o maior hino da língua inglesa; assim também o reputou Stanley Jones, autoridade inglesa contemporânea.
A ideia de hinos baseados nas Escrituras para os cultos bíblicos, ao lado dos Salmos, não era nova. Os alemães os usavam desde Lutero. Entretanto, no período em que a Inglaterra foi principalmente influenciada pelos Puritanos, os hinos foram desprezados. Quando Carlos II subiu ao trono, houve uma natural reação contra os Puritanos, de sorte que a contribuição de Watts ocorreu em momento propício.
Afirmou ele que a nova Dispensação precisava de hinos cristocêntricos, e disse: – “não pretendo ser um poeta, mas, ao cordeiro que foi imolado e agora vive, escrevi vários hinos para serem cantados pelas almas redimidas”. E acrescentou: – “Ao contemplar a cruz de Cristo, o verdadeiro crente, sente-se despojado de todo e qualquer orgulho – de família, raça, nacionalidade, posição social, educação, cultura, tudo – para só enxergar o amor divino nela expresso que a todos une e iguala na mesma graça da redenção”.
“Ao contemplar a Tua cruz” é uma adaptação portuguesa do Rev. Manoel da Silveira Porto Filho, o muito conhecido e inspirado autor e tradutor de hinos evangélicos. Data de 1961. Pode ser encontrado em Salmos e Hinos com Músicas Sacras (Ed. 1975) nº 109.
Embora cantado com diferentes músicas, peculiares á várias épocas, a que melhor corresponde ao espírito do hino é o arranjo intitulado Hamburg, preparado por Lowell Mason (1972-1872).
Ao contemplar a tua cruz
E o que sofrestes ali Senhor
Sei que não há, ó meu Jesus.
Um bem maior que o teu amor.
Não me desejo gloriar
Em nada mais senão em ti
Pois que morreste em meu lugar.
Teu sempre teu, serei aqui.
De tua fronte, mãos e pés.
De teu ferido coração.
Teu sangue em dores tão cruéis,
Deste por minha redenção.
Ao contemplar a tua cruz,
O teu sofre, o teu penar,
Quão leve sinto, ó meu Jesus,
A que em meus ombros vem pesar!
Tudo que eu possa consagrar
Ao teu serviço, ao teu louvor.
Em nada poderei pagar
Ao que me dás em teu amor!
[Adaptado por Ariane Gomes].
> Texto publicado originalmente na edição 152, em 1984, da revista Ultimato.
• Henriqueta Rosa Fernandes Braga (1909-1982) foi musicista, professora e musicóloga. Recebeu o primeiro diploma universitário de música conferido no Brasil. Pesquisadora, palestrante e conferencista, dedicou-se à conservação e às publicações do hinário Salmos e Hinos, que formou gerações de protestantes no Brasil desde as suas primeiras edições. De 1968 a 1984, assinou a coluna da revista Ultimato intitulada “Música sacra” e é autora de Contanto e Cantando - conhecendo as histórias de hinos cristãos, lançamento de junho da editora Ultimato.
Ao contemplar a Tua cruz
E o que sofreste ali, Senhor,
Sei que não há, ó meu Jesus,
Um bem maior que teu amor...
Passados alguns instantes de silêncio, com lágrimas nos olhos, narrou sua vida: era irlandesa, deixara a casa paterna, correra mundo como atriz e, no momento não estava vivendo dignamente. O velho hino, que solicitara, tantas vezes ouvido na infância e adolescência, reconduzira-a a esses tempos longínquos e crê a evangelista, através dele, entregou a Cristo o seu coração.
A estudante do Instituto Bíblico Moody que viveu esta experiência, considerou-a a mais impressionante de sua vida, foi Miss Elizabeth Date Davis, de Carslisle, Inglaterra.
Dedicou-se a evangelização em 1913 e durante um ano estudou nesse instituto, voltando depois ao seu país natal onde trabalhou na obra missionária em Barnsley, Londres e outras localidades. No Instituto Metodista de Diaconisas realizou obra relevante, bem como atuou eficientemente na Sociedade pró-temperança e na assistência às crianças desvalidas. Aos vinte três de fevereiro de 1933, o rei Jorge V, da Inglaterra, em cerimônia realizada em Londres, no Palácio de Buckinghan, conferiu-lhe elevada honra de Membro da Ordem do Império Britânico, por sua vida de dedicação ao próximo.
Declarou ela certa vez: – “Creio na direção divina; sinto-a em minha vida a guiar-me os passos”.
Isaac Watts, autor de aproximadamente seiscentos hinos, entre os quais When I survey the Wondrous Cross (inspirado em Gl 6.14) foi cognominado o “pai da hinologia inglesa”. Nascido aos 17 de julho de 1674, o mais velho de nove irmãos, era filho de um respeitável diácono não-conformista, independente ou dissidente, que esteve preso por duas vezes por suas convicções religiosas. A mãe descendia de valorosos franceses huguenotes que deixaram a França pela Inglaterra pouco depois do massacre de São Bartolomeu, ocorrido em 1572. Foi acalentado nos degraus da prisão, onde se encontrava seu pai, durante as visitas que a jovem mãe fazia ao seu marido, e enquanto aguardava poder falar-lhe através das grades.
Converteu-se aos quatorze anos. Aos dezesseis estava preparado para ingressar na Universidade, e amigos dos pais propuseram pagar-lhes os estudos universitários se concordasse em tornar-se ministro da Igreja da Inglaterra. Recusou. Pelo “Ato da Uniformidade”, aos não-conformistas era vedado o acesso às Universidades – Oxford e Cambridge – recebendo a educação superior nas Academias, onde a maior parte dos professores era de nível universitário. O propósito era dar aos alunos quatro anos de estudos, que normalmente se faziam na Universidade, e prepara-lo pelo ministério.
Aos dezoito anos, irritado com os hinos rudes e desafinados cantados nas reuniões não-conformistas, queixou-se ao pai que não possuíam a beleza e a dignidade devidas a um culto cristão. O pai, nada indulgente, respondeu-lhe que fizesse melhor, se fosse capaz.
Tanto bastou para que se lançasse à produção de hinos, apresentando o primeiro no domingo seguinte. Incentivado prosseguiu. De 1907 a 1909 escreveu muitos, em parte publicados em Himns and Spiritual Songs, primeiro hinário inglês verdadeiramente valioso nele se encontra When Survey The Wondrous Cross, produzido em 1707 e considerado, pelo severo crítico literário Matthews Arnold que viveu no se. XIX o maior hino da língua inglesa; assim também o reputou Stanley Jones, autoridade inglesa contemporânea.
A ideia de hinos baseados nas Escrituras para os cultos bíblicos, ao lado dos Salmos, não era nova. Os alemães os usavam desde Lutero. Entretanto, no período em que a Inglaterra foi principalmente influenciada pelos Puritanos, os hinos foram desprezados. Quando Carlos II subiu ao trono, houve uma natural reação contra os Puritanos, de sorte que a contribuição de Watts ocorreu em momento propício.
Afirmou ele que a nova Dispensação precisava de hinos cristocêntricos, e disse: – “não pretendo ser um poeta, mas, ao cordeiro que foi imolado e agora vive, escrevi vários hinos para serem cantados pelas almas redimidas”. E acrescentou: – “Ao contemplar a cruz de Cristo, o verdadeiro crente, sente-se despojado de todo e qualquer orgulho – de família, raça, nacionalidade, posição social, educação, cultura, tudo – para só enxergar o amor divino nela expresso que a todos une e iguala na mesma graça da redenção”.
“Ao contemplar a Tua cruz” é uma adaptação portuguesa do Rev. Manoel da Silveira Porto Filho, o muito conhecido e inspirado autor e tradutor de hinos evangélicos. Data de 1961. Pode ser encontrado em Salmos e Hinos com Músicas Sacras (Ed. 1975) nº 109.
Embora cantado com diferentes músicas, peculiares á várias épocas, a que melhor corresponde ao espírito do hino é o arranjo intitulado Hamburg, preparado por Lowell Mason (1972-1872).
Ao contemplar a tua cruz
E o que sofrestes ali Senhor
Sei que não há, ó meu Jesus.
Um bem maior que o teu amor.
Não me desejo gloriar
Em nada mais senão em ti
Pois que morreste em meu lugar.
Teu sempre teu, serei aqui.
De tua fronte, mãos e pés.
De teu ferido coração.
Teu sangue em dores tão cruéis,
Deste por minha redenção.
Ao contemplar a tua cruz,
O teu sofre, o teu penar,
Quão leve sinto, ó meu Jesus,
A que em meus ombros vem pesar!
Tudo que eu possa consagrar
Ao teu serviço, ao teu louvor.
Em nada poderei pagar
Ao que me dás em teu amor!
[Adaptado por Ariane Gomes].
> Texto publicado originalmente na edição 152, em 1984, da revista Ultimato.
• Henriqueta Rosa Fernandes Braga (1909-1982) foi musicista, professora e musicóloga. Recebeu o primeiro diploma universitário de música conferido no Brasil. Pesquisadora, palestrante e conferencista, dedicou-se à conservação e às publicações do hinário Salmos e Hinos, que formou gerações de protestantes no Brasil desde as suas primeiras edições. De 1968 a 1984, assinou a coluna da revista Ultimato intitulada “Música sacra” e é autora de Contanto e Cantando - conhecendo as histórias de hinos cristãos, lançamento de junho da editora Ultimato.
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