Opinião
- 17 de maio de 2017
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O liberalismo teológico morreu?
Por Augustus Nicodemos Lopes
De vez em quando leio em algum lugar gente reclamando que eu fico ressuscitando defunto ao criticar os liberais. “O liberalismo teológico já morreu,” dizem eles, “não há mais liberais hoje”.
Bom, para mim o liberalismo teológico está bem vivo, sim, em nossos dias e no Brasil. As ideias do liberalismo teológico continuam presentes e sendo defendidas em sala de aula por pastores, professores e teólogos. Se não vejamos. Segue abaixo uma relação de algumas destas ideias:
1.
O sobrenatural não invade a história. Milagres não acontecem como fatos no tempo e no espaço, mas são explicações ou projeções das pessoas na tentativa de descrever suas experiências ou entender Deus.
2.
A história se desenrola numa relação natural de causas e efeitos.
3.
Milagres como o nascimento virginal de Cristo, os milagres que o próprio Cristo realizou, sua ressurreição física dentre os mortos, os milagres do Antigo e Novo Testamentos nunca aconteceram na história. No máximo, na heilsgeschichte (história santa, ou história salvífica), diferente do mundo da história bruta, real, factível.
4.
Temas como criação, Adão, queda, milagres, ressurreição, entre outros, pertencem à história salvífica e não à história real e bruta. Adão e Eva não foram pessoas reais.
5.
Não interessa o que realmente aconteceu no túmulo de Jesus no primeiro dia da semana, mas, sim, a declaração dos discípulos de Jesus que diz que Jesus ressuscitou.
6.
Os relatos bíblicos dos milagres são invenções piedosas do povo judeu e dos primeiros cristãos, mitos e lendas oriundos de uma época pré-científica, quando ainda não havia explicação racional e lógica para o sobrenatural.
7.
A Escritura contém erros e contradições, lado a lado com aquelas palavras que provêm de Deus. Nossa tarefa é tentar separar as duas coisas.
8.
Interpretar a Bíblia historicamente significa reconhecer que ela contém contradições. Qualquer abordagem hermenêutica deixa de ser histórica se não aceitar essas contradições.
9.
A Igreja Cristã se perdeu na interpretação da Bíblia através dos séculos e somente com o advento do Iluminismo, do racionalismo e das filosofias resultantes é que se começou a analisar criticamente a Bíblia e a teologia cristã, expurgando-as dos alegados mitos, fábulas, lendas, acréscimos, como, por exemplo, os mitos da criação e do dilúvio e de personagens inventados como Adão e Moisés, etc.
10.
O sentimento religioso é algo universal, isto é, cada ser humano é capaz de experimentá-lo. É esse sentimento que dá validade às experiências religiosas e que torna o ecumenismo possível.
Agora, eu gostaria de saber se os que dizem que o liberalismo teológico já morreu serão honestos o suficiente para responder a esta indagação, a saber, se estas ideias estão totalmente ausentes nos cursos de teologia em nosso país e se não existe nenhum professor de teologia ou de Bíblia ensinando estas coisas hoje nos seminários, institutos bíblicos, escolas de teologia ou universidades teológicas.
Leia mais
Fundamentalistas e modernistas
Flertando com o adversário: os evangélicos e a teologia liberal
Bíblias falsas, palavra verdadeira
A Verdade do Evangelho [John Stott]
O Evangelho Em Uma Sociedade Pluralista [Lesslie Newbigin]
Foto: Freeimages.com.
De vez em quando leio em algum lugar gente reclamando que eu fico ressuscitando defunto ao criticar os liberais. “O liberalismo teológico já morreu,” dizem eles, “não há mais liberais hoje”.
Bom, para mim o liberalismo teológico está bem vivo, sim, em nossos dias e no Brasil. As ideias do liberalismo teológico continuam presentes e sendo defendidas em sala de aula por pastores, professores e teólogos. Se não vejamos. Segue abaixo uma relação de algumas destas ideias:
1.
O sobrenatural não invade a história. Milagres não acontecem como fatos no tempo e no espaço, mas são explicações ou projeções das pessoas na tentativa de descrever suas experiências ou entender Deus.
2.
A história se desenrola numa relação natural de causas e efeitos.
3.
Milagres como o nascimento virginal de Cristo, os milagres que o próprio Cristo realizou, sua ressurreição física dentre os mortos, os milagres do Antigo e Novo Testamentos nunca aconteceram na história. No máximo, na heilsgeschichte (história santa, ou história salvífica), diferente do mundo da história bruta, real, factível.
4.
Temas como criação, Adão, queda, milagres, ressurreição, entre outros, pertencem à história salvífica e não à história real e bruta. Adão e Eva não foram pessoas reais.
5.
Não interessa o que realmente aconteceu no túmulo de Jesus no primeiro dia da semana, mas, sim, a declaração dos discípulos de Jesus que diz que Jesus ressuscitou.
6.
Os relatos bíblicos dos milagres são invenções piedosas do povo judeu e dos primeiros cristãos, mitos e lendas oriundos de uma época pré-científica, quando ainda não havia explicação racional e lógica para o sobrenatural.
7.
A Escritura contém erros e contradições, lado a lado com aquelas palavras que provêm de Deus. Nossa tarefa é tentar separar as duas coisas.
8.
Interpretar a Bíblia historicamente significa reconhecer que ela contém contradições. Qualquer abordagem hermenêutica deixa de ser histórica se não aceitar essas contradições.
9.
A Igreja Cristã se perdeu na interpretação da Bíblia através dos séculos e somente com o advento do Iluminismo, do racionalismo e das filosofias resultantes é que se começou a analisar criticamente a Bíblia e a teologia cristã, expurgando-as dos alegados mitos, fábulas, lendas, acréscimos, como, por exemplo, os mitos da criação e do dilúvio e de personagens inventados como Adão e Moisés, etc.
10.
O sentimento religioso é algo universal, isto é, cada ser humano é capaz de experimentá-lo. É esse sentimento que dá validade às experiências religiosas e que torna o ecumenismo possível.
Agora, eu gostaria de saber se os que dizem que o liberalismo teológico já morreu serão honestos o suficiente para responder a esta indagação, a saber, se estas ideias estão totalmente ausentes nos cursos de teologia em nosso país e se não existe nenhum professor de teologia ou de Bíblia ensinando estas coisas hoje nos seminários, institutos bíblicos, escolas de teologia ou universidades teológicas.
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Fundamentalistas e modernistas
Flertando com o adversário: os evangélicos e a teologia liberal
Bíblias falsas, palavra verdadeira
A Verdade do Evangelho [John Stott]
O Evangelho Em Uma Sociedade Pluralista [Lesslie Newbigin]
Foto: Freeimages.com.
Augustus Nicodemus Lopes é bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte, em Recife, mestre em Novo Testamento pela Universidade Cristã de Potchefstroom, na África do Sul, e doutor em Hermenêutica e Estudos Bíblicos pelo Seminário Teológico de Westminster, na Filadélfia (EUA), com estudos adicionais na Universidade Reformada de Kampen, na Holanda. Foi chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie por dez anos e professor do Centro Presbiteriano de Pós Graduação Andrew Jumper. Atualmente é pastor auxiliar da Primeira Igreja Presbiteriana de Recife, vice-presidente do Supremo Concílio da IPB e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB. É autor de mais de vinte livros.
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