Opinião
- 25 de agosto de 2016
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O legado de fé que superou a guerra
Meu avô paterno emigrou para o Brasil em 1928. A Alemanha estava passando por uma crise econômica terrível, depois da 1ª Guerra Mundial, com índices de hiperinflação sem paralelo. Meu pai, que tinha seis anos de idade, era doentio, e o Brasil parecia uma boa saída para as duas situações. Quando o sogro faleceu, meu avô pegou sua parte da herança e rumou para o Sul.
Seu cunhado, Rudolf, que era pastor, com sua parte da herança construiu um prédio de três andares (foto) na cidade de Zinnowitz, a praia mais badalada da época, no Nordeste da Alemanha, onde organizava conferências e retiros. Na foto em preto e branco ele está com sua esposa Lotte, minha tia-avó. As filhas deles, que estão na foto colorida, hoje com 84 e 82 anos de idade, se chamam Ruth (à direita) e Irmgard, e são primas do meu pai.
Visitamos essas tias em nossas férias. Como nós (descendentes do tio que veio para o Brasil) somos os únicos parentes delas, o contato foi mantido. Eu mesmo recebi muitos pacotes com livros cristãos durante minha infância e adolescência, e cartas encorajando-me a ficar firme na vida de fé. Até hoje elas me sustentam com suas orações diárias, e sei que isso faz diferença na minha vida.
Pedimos a elas que nos contassem um pouco da sua história. Elas são daquela geração que não conseguiu casar porque seis milhões de soldados alemães morreram na 2ª Guerra Mundial, além de nove milhões de civis, incluídos aí os judeus do holocausto. O pai, mesmo sendo pastor, quando a guerra começou, foi convocado para o exército e acabou feito prisioneiro e levado para a Rússia, voltando para casa apenas em 1947. O sustento da família veio com o aluguel de quartos da casa, que também era usada para hospedar parentes desabrigados.
Depois veio o comunismo. O prédio não foi confiscado, porque era o único bem da família, mas foi transformado num hotel, e o governo determinava os preços e quem seriam os hóspedes: figurões do partido no verão e aposentados no inverno. (As filhas tocaram o hotel até quatro anos atrás, quando venderam o prédio, incluindo no contrato o direito de morar no andar de baixo até o fim da vida.)
O governo comunista cercou os crentes de todos os lados. Ninguém podia sair do país; a mãe delas pôde encontrar sua irmã (minha avó) mais uma vez, por volta de 1965, quando a deixaram ir até Berlim e as duas se encontraram em uma sala, vigiadas por funcionários do governo. As duas filhas foram impedidas de estudar e de conseguir bons empregos, porque insistiam em professar sua fé. Para comprar um carro, foram 18 anos de espera! O pai continuou seu trabalho pastoral e evangelístico a pé.
Depois que o pai faleceu, foram as filhas que lideraram a comunidade que ele pastoreava – vimos pessoalmente, em uma visita anterior, uma delas expondo a Palavra e a outra responsável pela música. O comunismo acabou em 1989 com a queda do muro de Berlim, mas criou-se uma geração ateísta, com um percentual muito pequeno de crentes no país, e o trabalho evangelístico continua. A comunidade agora tem um pastor, e continua com a mesma visão missionária dos antepassados: o espaço é repartido com um grupo de refugiados, que participam do “junta-panelas” que segue o culto da manhã e em seguida têm o seu culto, em farsi.
Fomos desafiados pela fidelidade das duas tias, pelo legado de fé que elas nos transmitem. Louvado seja o Senhor!
• Hans Udo Fuchs é casado com Ursula. Ambos são missionários brasileiros da Junta Batista de Missões Mundiais.
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Pedimos a elas que nos contassem um pouco da sua história. Elas são daquela geração que não conseguiu casar porque seis milhões de soldados alemães morreram na 2ª Guerra Mundial, além de nove milhões de civis, incluídos aí os judeus do holocausto. O pai, mesmo sendo pastor, quando a guerra começou, foi convocado para o exército e acabou feito prisioneiro e levado para a Rússia, voltando para casa apenas em 1947. O sustento da família veio com o aluguel de quartos da casa, que também era usada para hospedar parentes desabrigados.
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