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Por Escrito

O "lamento" de Nicholas Wolterstorff

Resenha
Por Igor Gaspar

Livro: Lamento
Nicholas Wolterstorff
Editora Ultimato, 2007

Às vezes, calha o nosso caminho um livro que nos conquista pela capa. Não consigo me lembrar de livro algum, desde O Jesus que eu nunca conheci, de Philip Yancey, que tenha me tomado dessa forma. Também não me lembro de quase nenhum livro que tenha me conquistado como Lamento, de Nicholas Wolterstorff, pelos endossos — especificamente o endosso do sacerdote Henri Nouwen: "Ao compartilhar a profundidade de sua tristeza, Nicholas Wolterstorff ajuda aqueles que estão de luto ou que buscam conforto a abrirem as comportas da alma. Lamento é, de fato, bálsamo para as nossas feridas". Estas palavras de Henri Nouwen abriram o livro para mim. E ao abri-lo, abriu-se junto com ele o meu coração.
 
Há beleza desde o início do livro, em seu prefácio à edição brasileira, e essa beleza assume um tom mais denso, mais profundo, à medida que o livro avança.
 
A beleza do livro de Wolterstorff não é do tipo que deslumbra, mas que comove, como a beleza da rosa mais vermelha pendendo para o chão sob um entardecer frio, cinzento, chuvoso, solitário…
 
O livro, ao estilo de A Anatomia de uma Dor, é uma espécie de diário da dor, onde Wolterstorff parece não escrever para ninguém, a não ser para si mesmo; ou talvez seja melhor defini-lo como uma oração secreta de um coração ferido que clama por cura. É impossível passarmos indiferentes pelo livro, dividimos o fardo com Wolterstorff e sua dor, por assim dizer, se torna a nossa. Ele lamenta por seu filho, e nós, unindo nossas dores, ao estilo dos salmistas, passamos a lamentar juntos com ele.
 
Eric, o filho de Wolterstorff, nutria um profundo amor pelas montanhas, por escalá-las. "Seu amor foi sua morte", como disse seu pai. "Não posso esperar para voltar às montanhas", escreveu Eric; sem saber que àquela "volta às montanhas" seria também sua volta para Casa.

O telefone tocou às 3:30h de uma brilhante e ensolarada tarde de domingo. Nosso filho mais novo acabara de tomar um avião para passar as férias com Eric.

— Sr. Wolterstorff?
— Sim.
— É o pai do Eric?
— Sim.
— Sr. Wolterstorff, tenho más notícias.
— Sim.
— Eric estava escalando as montanhas e sofreu um acidente.
— Sim.
— Sr. Wolterstorff, eu sinto muito, mas Eric morreu. Sr. Wolterstorff, o senhor está aí? O senhor precisa vir imediatamente. Sr. Wolterstorff, Eric morreu.

Por três segundos eu senti a paz da resignação: braços estendidos, certa bambeza nas mãos, pacificamente oferecendo-o a alguém... Não: a Alguém. Depois a dor — fria e, ao mesmo tempo, flamejante.
 
"Nascido numa noite gelada, em New Haven, ele morreu 25 anos depois, numa ladeira gelada, em Kaisergebirger. Carinhosamente o sepultamos no solo quente de junho. O algodão estava soltando as sementes de tufos brancos, embranquecendo o chão."
 
Semelhante a Uma Misericórdia Severa, "nenhuma crítica breve pode fazer justiça à profundidade humana deste livro". Lamento é maior e mais belo que uma resenha possa descrever… do que esta resenha possa descrever... 

• Igor Gaspar é bacharelando em Psicologia pela Faculdade Maurício de Nassau, em Caruaru. Participou de cursos sobre C. S. Lewis com Jonas Madureira e sobre a Reforma no Curso Fiel de Liderança. É escritor, autor de O Sofrimento Glorioso e Os Inklings: O Grupo Literário de C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien.

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