Opinião
- 13 de fevereiro de 2015
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O Jarro
“O Jarro” é uma agradável surpresa cinematográfica que vem da Ásia. Produção iraniana de 1994 do diretor Ebrahim Foruzesh. A propósito, o cinema iraniano tem conquistado o respeito da crítica ocidental pela sua alta qualidade. “O Jarro”, por exemplo, ganhou o “Leopardo de Ouro” na categoria “Melhor Filme” no Festival Internacional de Cinema de Locarno, Suíça, em 1994. Como ele é difícil de ser encontrado - seja no Netflix ou em locadoras (todos preferem filmes blockbuster, daqueles que você precisa desligar o cérebro para assistir) - eis o link para você vê-lo no Youtube.
Em uma vilazinha perdida no meio do deserto iraniano, extremamente pobre, há um jarro do qual as crianças da única escola da aldeia podem beber água na hora do recreio. O jarro é não apenas um instrumento útil, mas também uma oportunidade para socialização da criançada. O jarro funcionará quase que como um ator coadjuvante no filme. O cenário do filme é o deserto escaldante, de sol inclemente, de um lugarejo perdido no meio do nada, longe da metrópole Teerã. Uma aldeia que não se beneficiou em nada da riqueza produzida pelo petróleo daquele país. Uma aldeia distante das discussões teológicas do alto clero islâmico. Enfim, nesta paupérrima aldeia, um dia, para tristeza e consternação de todos, descobrem que há um trincado no jarro.
A partir daí uma série de situações dramáticas e ternas se sucederão, em torno do problema do jarro rachado. E agora? De quem é a culpa? O que fazer? Foruzesh conduz sua narrativa com muito realismo e, o que é melhor, mostra a jornada da comunidade em busca da solução de um problema comum a todos, e dos problemas resultantes do problema principal, sem pieguice, sem falsos moralismos e sem qualquer apelo religioso propriamente, apesar de ambientado em país islâmico – e não qualquer país islâmico, mas o Irã (na época do filme, ainda era o Irã dos aiatolás), no qual a cosmovisão é eminentemente religiosa, bem diferente das nações “cristãs” do Ocidente, nas quais há, em maior ou menor grau, elementos de secularização na cultura.
O filme oferece à farta material para discussão de temas como a solidariedade, central na compreensão cristã da ética. Aliás, uma ética da responsabilidade coletiva, que pode bem ser enquadrada no “imperativo categórico” de Immanuel Kant, humanamente falando, é a única esperança para que nosso planeta não seja destruído por seus próprios habitantes. Tal ética tem como base o amor, que Santo Agostinho sabiamente colocou como a “regula fidei” (regra de fé) do cristão.
“O Jarro” é um filme sensível como poucos. Faz pensar na importância da comunidade se unir para resolver um problema de todos. Quando surge uma crise, pouco adianta discutir de quem é a culpa. O problema só se resolverá quando todos se dispuserem à ação, e agirem de fato. Afinal, vivemos em rede. Em uma comunidade, o problema de um é o problema de todos. Muita gente não pensa assim, mas “é assim que a banda toca”, como se diz em algumas regiões do Brasil. É uma pena que muitos não têm ouvidos para ouvir a trilha sonora que embala a teia da vida e que insiste em nos dizer que, na pequena-grande aldeia global em que vivemos, ou nos salvamos todos, ou pereceremos juntos. “O Jarro” nos lembra que, a partir de uma perspectiva cristã, cooperação é melhor que competição.
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Em uma vilazinha perdida no meio do deserto iraniano, extremamente pobre, há um jarro do qual as crianças da única escola da aldeia podem beber água na hora do recreio. O jarro é não apenas um instrumento útil, mas também uma oportunidade para socialização da criançada. O jarro funcionará quase que como um ator coadjuvante no filme. O cenário do filme é o deserto escaldante, de sol inclemente, de um lugarejo perdido no meio do nada, longe da metrópole Teerã. Uma aldeia que não se beneficiou em nada da riqueza produzida pelo petróleo daquele país. Uma aldeia distante das discussões teológicas do alto clero islâmico. Enfim, nesta paupérrima aldeia, um dia, para tristeza e consternação de todos, descobrem que há um trincado no jarro.
A partir daí uma série de situações dramáticas e ternas se sucederão, em torno do problema do jarro rachado. E agora? De quem é a culpa? O que fazer? Foruzesh conduz sua narrativa com muito realismo e, o que é melhor, mostra a jornada da comunidade em busca da solução de um problema comum a todos, e dos problemas resultantes do problema principal, sem pieguice, sem falsos moralismos e sem qualquer apelo religioso propriamente, apesar de ambientado em país islâmico – e não qualquer país islâmico, mas o Irã (na época do filme, ainda era o Irã dos aiatolás), no qual a cosmovisão é eminentemente religiosa, bem diferente das nações “cristãs” do Ocidente, nas quais há, em maior ou menor grau, elementos de secularização na cultura.
O filme oferece à farta material para discussão de temas como a solidariedade, central na compreensão cristã da ética. Aliás, uma ética da responsabilidade coletiva, que pode bem ser enquadrada no “imperativo categórico” de Immanuel Kant, humanamente falando, é a única esperança para que nosso planeta não seja destruído por seus próprios habitantes. Tal ética tem como base o amor, que Santo Agostinho sabiamente colocou como a “regula fidei” (regra de fé) do cristão.
“O Jarro” é um filme sensível como poucos. Faz pensar na importância da comunidade se unir para resolver um problema de todos. Quando surge uma crise, pouco adianta discutir de quem é a culpa. O problema só se resolverá quando todos se dispuserem à ação, e agirem de fato. Afinal, vivemos em rede. Em uma comunidade, o problema de um é o problema de todos. Muita gente não pensa assim, mas “é assim que a banda toca”, como se diz em algumas regiões do Brasil. É uma pena que muitos não têm ouvidos para ouvir a trilha sonora que embala a teia da vida e que insiste em nos dizer que, na pequena-grande aldeia global em que vivemos, ou nos salvamos todos, ou pereceremos juntos. “O Jarro” nos lembra que, a partir de uma perspectiva cristã, cooperação é melhor que competição.
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A Igreja Autêntica
É professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Minas, onde coordena o GPRA – Grupo de Pesquisa Religião e Arte.
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